Secretário de Desenvolvimento Econômico de Mossoró diz que o caminho natural do seu grupo é apoiar o projeto de reeleição da prefeita Rosalba Ciarlini, mas ressalta que a força eleitoral da ex-deputada Larissa Rosado deve ser levada em conta em 2020
Por César Santos e Maricelio Almeida
Vereador por dois mandatos consecutivos (2009 a 2016), Lahyre Rosado Neto (PSDB) assumiu em janeiro de 2017 um novo desafio: a titularidade da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo. O secretário avalia que os resultados alcançados até aqui têm sido positivos.
Na entrevista a seguir, Lahyre Neto fala sobre sua atuação como membro da equipe de auxiliares do primeiro escalão da prefeita Rosalba Ciarlini (PP), aborda a conjuntura econômica atual e as perspectivas de retomada de investimentos em áreas como a indústria do petróleo e pontua ainda a importância de o nome da ex-deputada estadual Larissa Rosado constar nas pesquisas de opinião referentes ao pleito de 2020.
Secretário, em 2018, Mossoró encerrou o ano com saldo positivo na geração de empregos formais. De janeiro a abril deste ano, os números do Caged mostram um resultado, até aqui, negativo. A expectativa é que esses números melhorem no segundo semestre?
O número de desempregados no Brasil aumentou do ano passado para cá. Recentemente, foi divulgado que a economia recuou 0,2% no primeiro trimestre; é a volta da recessão. Desde 2016 que não tínhamos isso. Aqui, nós temos um período de seca prolongada, que ataca muito a questão da fruticultura, temos a questão da Petrobras, que provocou muito desemprego. Nos últimos 12 meses, o saldo ainda é positivo em Mossoró, mas está diminuindo, a “gordura” está sendo queimada, vamos dizer assim, neste ano, em que os números estão negativos. Nos primeiros meses de 2019, os resultados foram mais negativos do que agora. Então, a expectativa é que melhore até o final do ano, para que não tenhamos um ano com saldo negativo.
E NAQUILO que compete à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o que tem sido feito para melhorar esse cenário?
A SECRETARIA tem, por exemplo, um setor de empregabilidade que faz a intermediação entre as pessoas que querem trabalhar e as empresas. De janeiro de 2017, quando assumimos a Secretaria, para cá, nós já fizemos mais de 28 mil atendimentos, isso atualizado até abril. Tivemos mais de 3 mil vagas oferecidas e conseguimos colocar, efetivamente, para trabalhar, 3.103 pessoas até abril. Esse é um trabalho que fazemos de intermediação. Não é a Secretaria que gera a vaga. Nós temos nos distritos industriais acompanhado as áreas que foram doadas e que não estão atendendo a sua finalidade, nós fizemos a reversão de mais de 30 terrenos de volta para a Prefeitura, para que possamos fazer as doações a novas empresas, para que essas empresas possam gerar mais empregos. Devemos ter em torno de 18 processos de doações em andamento.
INCLUSIVE, com alguns projetos de lei já encaminhados para a Câmara Municipal...
UM JÁ aprovado e sancionado, que foi para a empresa Mossoró Premoldados, que recebeu a terceira área para ampliação, sem dúvida alguma, é um caso de sucesso do Distrito Industrial. Uma empresa genuinamente mossoroense. Nós temos na Câmara dois projetos, um da Trevo Embalagens, que é uma empresa que veio para Mossoró em 2004 e de lá para cá já investiu mais de R$ 5 milhões, a previsão inicial era gerar cerca de 30 empregos e já gera mais de 100 empregos diretos. Essa empresa fornece para grandes indústrias calçadistas e está prestes a fechar contrato com algumas empresas de calçado multinacionais. E o outro projeto é para doação ao grupo do Parque Elétrico, que é um grupo mossoroense conhecido de todo mundo, todos conhecemos a seriedade, a solidez da empresa, que quer agora montar um centro de distribuição. Fora isso, nós temos também processo em andamento para indústria de reciclagem, de cimento, de embalagens, uma gama variada de empresas. Se esses projetos forem todos aprovados e as empresas começarem a funcionar como o planejado, serão milhares de empregos gerados aqui.
TIVEMOS recentemente o anúncio da Petrobras de um investimento de R$ 2,6 bilhões no RN, e a indústria petrolífera está basicamente na região de Mossoró. A Petrorecôncavo também está chegando para explorar 34 campos maduros, e também temos a possibilidade da abertura do mercado da China para a fruticultura brasileira, no caso de Mossoró, o melão. É um conjunto de fatores que pode abrir um horizonte positivo para a economia de Mossoró?
NÓS temos em Mossoró há bastante tempo o petróleo como um dos principais pilares da economia. O sal, também, só que o sal tem uma grande variação de preço. Em 2010, uma tonelada de sal chegou a custar R$ 190,00, hoje você compra uma tonelada com R$ 30,00. Na fruticultura, nós temos a empresa que é a maior produtora de melão do mundo, aqui em Mossoró, não é pouca coisa, mas o valor da fruta e do salário pago não é elevado, assim como no sal. E o petróleo, por uma opção da Petrobras, tem ido muito para o lado do offshore. Então, o setor teve uma queda muito grande. O que nós precisamos é ter uma variedade de pilares da economia. Mossoró, hoje, por exemplo, é um grande polo educacional, nós temos cerca de 40 mil alunos matriculados no ensino superior. Nós enxergamos no turismo outro potencial. A questão da Petrorecôncavo, por exemplo, tem dois grandes fatores: primeiro, gerar empregos. Só diretos, a previsão é de cerca de 200 num primeiro momento, mas se eles construírem uma termoelétrica, precisa construir um gasoduto de 16 km. Isso tudo vai gerar mais empregos, mas o principal não é só isso: se for um case de sucesso, como é na Bahia, onde a empresa aumentou bastante a produção dos campos, será aqui a possibilidade de abertura para novos campos serem vendidos para a iniciativa privada, para gerar cada vez mais empregos. O petróleo está aqui, os campos estão aqui.
E EM relação à abertura do mercado chinês para a fruticultura potiguar?
NÃO resta dúvida que abertura de novos mercados é muito importante. Nós temos o porto de Pecém no Ceará, temos um porto em Pernambuco, mas o do Rio Grande do Norte, que tem feito boa parte das exportações, temos enfrentado um problema com relação à segurança, o que pode dificultar lá fora. A Codern precisa verificar isso, porque não podemos ser prejudicados. As empresas que registraram problemas com tráfico de drogas não são daqui do RN. Então, não podemos ser prejudicados por uma falta de estrutura do porto de Natal. Precisamos abrir, cada vez mais, mercados para a nossa fruta, precisamos melhorar o Porto Ilha para possibilitar maior exportação para o exterior do nosso sal e precisamos, sim, buscar variar a nossa economia para não ficarmos tão dependentes quanto fomos, durante muito tempo, da Petrobras.
QUAIS as perspectivas do Município para este período do Mossoró Cidade Junina?
EM 2017, nós fizemos uma parceria, Prefeitura e Uern, para um estudo do impacto econômico, e nesse estudo científico ficou provado que para cada R$ 1,00 colocado no Mossoró Cidade Junina, retornam R$ 4,00 para a economia da cidade. Isso mostra que o Cidade Junina não é simplesmente uma festa, um gasto; é, na verdade, um investimento. Os hotéis estão todos eles lotados para todos os finais de semana do Mossoró Cidade Junina. Especificamente para o fim de semana do Pingo da Mei Dia, temos, há mais de um mês, todos os hotéis esgotados, e plataformas como, por exemplo, o Airbnb, não há mais como se alugar casas e apartamentos em Mossoró faz mais de um mês, ou seja, a procura é muito grande. Temos no turismo de evento hoje a nossa grande força. Então, precisamos fortalecer esses eventos. Vemos em várias cidades de vários estados do Brasil as pessoas investindo nesse tipo de turismo, porque elas têm pago muito mais pela experiência do que pelo produto em si. Precisamos proporcionar uma boa experiência para os turistas virem para Mossoró e também para o mossoroense curtir, vestir a camisa e aproveitar muito o Cidade Junina.
E HÁ um novo estudo de impacto econômico do evento em andamento neste ano, não é isso?
SIM. Está sendo feito com a Universidade Potiguar (UNP). Esperamos que o retorno seja maior neste ano. O Cidade Junina já foi muito grande, teve um recuo, um enfraquecimento, e nós estamos nesse trabalho de retomada do evento para que ele seja cada vez mais viável e sustentável. Se olharmos o Pingo da Mei Dia, com a quantidade de camarotes privados que tem, quantos seguranças, quantos cozinheiros e garçons são contratados para esses camarotes? É uma gama de pessoas que são envolvidas e que tiram alguma renda do Mossoró Cidade Junina, e não podemos torcer contra, achar que o Cidade Junina é um gasto. É diferente quando pegarmos uma cidade menor, fazer uma festa de emancipação política, coloca um show de Wesley Safadão em uma noite, vai levar recurso para lá? Provavelmente, não. A prefeita tomou uma decisão muito acertada de não colocar dinheiro, nesses anos de muita dificuldade, no carnaval, porque o carnaval não tem tradição em Mossoró, não traria turistas. Neste momento, estamos precisando de investimentos, e o Cidade Junina é investimento. Por isso, precisamos fortalecê-lo.
E COMO fazer que o Mossoró Cidade Junina, a exemplo de outros eventos juninos do Nordeste, passe a receber um volume maior de investimentos da iniciativa privada?
PRECISAMOS de programação. Já tenho conversado com alguns colegas secretários e com a prefeita para, terminada a edição deste ano, a gente já partir, cair em campo, para publicar plano de mídia, edital para cadastramento de empresas para captação de recursos, de patrocínios, porque não adianta você fazer como em outros anos foi feito, de faltando um mês, ou duas semanas para o evento, fazer licitação. Veja neste ano: as estruturas estão praticamente todas prontas. Você tem que ter esse planejamento, informar aos hotéis, às pessoas que trabalham com turismo a programação com antecedência, tem que mostrar o que vai ter no evento. A grande preocupação dos hotéis, principalmente, é essa, quando começa, quando termina, quais as atrações, o que vai ter de novidade, para eles fecharem os pacotes.
VAMOS falar agora um pouco de política. A vereadora Sandra Rosado defendeu recentemente que o nome da ex-deputada Larissa Rosado precisa estar nas pesquisas de opinião sobre a sucessão municipal. De que forma o grupo político do qual o senhor faz parte pretende se posicionar em relação à sucessão de 2020?
A POSIÇÃO natural é de apoio à prefeita Rosalba. Nós fazemos parte da administração, mas não podemos negar a força de Larissa, que foi a candidata à Assembleia mais votada aqui em Mossoró. No estado, Larissa teve mais votos do que cinco deputados que foram eleitos, mas por uma questão de coligação, de quociente eleitoral, ela não entrou. Eu não costumo culpar quociente eleitoral. Quando entramos no jogo, sabemos quais são as regras, mas não se pode dizer que Larissa não seja uma grande liderança, uma grande eleitora em Mossoró, e é importante que o nome dela esteja nas pesquisas, inclusive para avaliar essa força, o que não significa necessariamente que Larissa vá ser candidata, mas quando se coloca o nome dela, avalia-se se é importante, se não é, se o apoio dela é significativo ou não. Nós fazemos parte do PSDB, que é dirigido no estado pelo deputado Ezequiel Ferreira, e a orientação nacional do PSDB é de que o partido tenha candidaturas nas principais cidades do país. Eu acredito, uma opinião minha, que João Dória deverá ser candidato a presidente pelo partido, e vai precisar de palanques no país inteiro, mas a nossa posição natural é de apoio à reeleição da prefeita Rosalba, caso ela seja candidata. Até hoje, ela não disse que será, mas eu acredito que seja.
O FATO de a deputada, apesar de ter sido a mais bem votada em Mossoró, não ter renovado o mandato, e o grupo hoje é representado pelo mandato de Sandra Rosado na Câmara, isso fragiliza uma posição no pleito que se aproxima?
NÃO, necessariamente. Cada partido é um jogo diferente, cada eleição é uma eleição diferente, e Larissa foi a mais votada em Mossoró. Sandra não foi candidata em 2018 por uma composição, mas em 2014, ela foi a candidata à Câmara Federal mais votada na cidade; Larissa, a mais votada para estadual. Em 2016, eu optei por não ser mais candidato, e aí, Sandra foi para a Câmara Municipal, é o que ela mais gosta de fazer na vida: política. Ela exerce um mandato com muito prazer e determinação, e a força das duas pode ser vista nas votações. Larissa teve mais votos do que candidatos que tiveram grandes estruturas. Não se pode negar a força, o carisma, os votos que ela tem.
E O senhor tem o desejo de retornar à Câmara Municipal?
NÃO tenho. Quando eu tomei a decisão de não ser mais candidato, em 2016, eu avaliei que fiz minha parte, que, modéstia parte, fiz um bom trabalho, as pesquisas mostravam isso, que o nosso mandato era bem avaliado, e foi uma opção de cuidar da minha vida, das minhas coisas, atuar em outras áreas, inclusive já estava tudo organizado para retomar a minha vida 100% empresarial quando fui convidado pela prefeita para assumir a Secretaria. Topei pelo desafio, para conhecer o outro lado da moeda, do balcão, e sabemos das dificuldades, mas considero que a secretaria faz um bom trabalho diante das possibilidades que nós temos. Ser candidato a vereador, eu não tenho mais nenhuma vontade.
A REPRESENTAÇÃO de Mossoró na Assembleia mudou. Nesse primeiro momento, como o senhor avalia o trabalho dos dois deputados que Mossoró têm, Allyson Bezerra e Isolda Dantas?
EFETIVAMENTE para Mossoró, eu ainda não vi eles fazerem nada. Eu vejo muita participação em redes sociais e muito trabalho político-eleitoral já visando o próximo ano, mas efetivamente para Mossoró, não vi nada, fora as contradições deles de antes de deputado e após deputado. A mais gritante é a questão da verba de gabinete, que ambos criticaram bastante quando os vereadores aqui de Mossoró votaram a favor, e eles quando chegaram à Assembleia usam, igual a todos os deputados. A verba de gabinete é um instrumento importante para que você possa exercer o seu mandato com independência, sem precisar estar pedindo nada ao presidente da Casa, você tem autonomia no seu mandato, e se alguém não usar de forma correta, que responda perante a lei. Eu defendo o bom uso da verba de gabinete, e acho a maior contradição, por parte dos deputados, essa.
PARA finalizar, voltando à questão da geração de empregos, criou-se uma expectativa quanto à reabertura da Porcellanati, inclusive com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico intermediando a seleção de vagas para a empresa. Como está esse processo hoje?
EU NÃO faço distinção de quem procura a secretaria pedindo apoio, se é de Mossoró, se é grande, pequena. O que nós queremos é auxiliar a empresa para facilitar a sua abertura e ter mais emprego. O que a Porcellanati nos solicitou é que nós fizéssemos uma triagem de currículos diante daqueles critérios que ela determinou. Nós recebemos cerca de três mil currículos, fizemos a triagem e mandamos para eles. A empresa tem problemas fiscais, está em recuperação judicial, tem dívidas e tem também uma questão legal, porque um dos credores da empresa não aceitou o plano de recuperação judicial e entrou com uma ação na Justiça pedindo a anulação da assembleia dos credores. Então, a empresa passa por esses impasses. Não é nem tanto uma falta de vontade, de compromisso, determinação da empresa em si, mas há esses problemas burocráticos que precisam ser resolvidos para que ela possa entrar em operação. Quando alguém tenta dizer que a culpa é da Prefeitura, eu uso um exemplo: vamos supor que o grupo Votorantim chegue para a Prefeitura e diga que vai abrir uma fábrica em Mossoró e que vai empregar duas mil pessoas. Nós, então, vamos fazer o trabalho de auxiliar, mostrando a cidade, intermediando empregos. Se precisar de uma área, nós vamos trabalhar pela doação, mas se no meio do caminho a empresa disser “Nós mudamos de plano e desistimos de abrir”, nós não poderemos fazer nada; é uma empresa privada. O que nós podemos fazer é tentar atrair mais empresas para Mossoró, e isso nós fazemos, tentar que as empresas de Mossoró ampliem a sua atividade, o que nós também fazemos, no caso da Porcellanati, há esses problemas jurídicos que eles precisam vencer para voltar a operar.
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