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Postado às 08h45 | 02 Jul 2019 | Redação César Santos: Brasil tem 'cemitério de obras' como retrato da corrupção

Crédito da foto: Reprodução Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ

Coluna César Santos - JORNAL DE FATO

A reportagem especial do Fantástico deste domingo, 30, mostrou o flagrante de desperdício do dinheiro público em obras paradas e/ou inacabadas em todo o País. O fracasso de obras inacabadas mostra a face mais cruel da corrupção, porque revela como o dinheiro dos brasileiros foi roubado por políticos e empresas corruptas, causando um impacto social incalculável.

Um diagnóstico do Tribunal de Contas da União (TCU), concluído em maio deste ano, revela que das 38 mil obras realizadas com recursos federais no País, quase 14 mil estão paradas ou inacabadas. Significa que uma em cada três obras no Brasil está paralisada.

As obras foram interrompidas por crimes de corrupção, em grande parte. É o caso do estaleiro Enseada do Paraguaçu, em Maragogipe, no Recôncavo baiano. O que seria um dos três maiores estaleiros do país, tornou-se maior símbolo de desperdício de dinheiro público e de corrupção.

A obra surgiu com a euforia do pré-sal em 2009 e foi paralisada em novembro de 2015 com a descoberta da operação Lava Jato de um esquema de corrupção no consórcio de empreiteiras liberadas pela Odebrecht. Bilhões de reais desceram pelo ralo e o estaleiro não conseguiu entregar um só navio.

A imagem mais emblemática de desperdício de dinheiro dos brasileiros é a do guindaste “Golias”, capaz de içar até 1.800 toneladas, com 150 metros de altura (equivalente a um prédio de 50 andares) e que custou R$ 3 bilhões. Hoje, o gigante serve apenas para fazer sobra no caminho de centenas de moradores de Maragogipe que ainda esperam pela prosperidade.

Outra obra gigantesca, que virou símbolo da corrupção e do desperdício do dinheiro público, é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, que causou um prejuízo de R$ 50 bilhões, segundo a Petrobras. Na enorme área localizada em Itaboraí, região metropolitana do Rio, funcionaria duas refinarias de petróleo, mas a obra se transformou em esqueleto.

Para se ter ideia da gulodice dos políticos e de empresas, que se beneficiaram, via corrupção, dos bilhões do Comperj, só numa estrada de 18 quilômetros, para trânsito de equipamentos ultrapesados, foram derramados R$ 472 milhões, ou R$ 26 milhões por cada quilômetro. Mais revoltante ainda é que a estrada nunca funcionou, e hoje serve de território de guerra entre traficantes e milicianos.

Pois bem.

A reportagem assinada pelo jornalista Carlos de Lannoy, com arquivo e acervo de Fábio Lúcio, escancara as portas de uma realidade que – ainda – parte dos brasileiros não quer enxergar. Ou que a paixão política, alimentada pela disputa do nós contra eles, insiste em vedar os olhos da uma massa manobrada.

O Brasil precisa virar essa página. O povo brasileiro não pode mais servir de escudo para políticos corruptos, embalado pela cavilosa cantiga do “rouba, mas faz”. Chega. O País tem que defender o faz, sem roubar, porque só assim é possível aproveitar cada centavo de real para garantir mais saúde, mais educação, mais emprego, mais qualidade de vida.

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