Pré-candidato a prefeito do PC do B afirma que o partido terá candidatura própria nas eleições do próximo ano nos maiores colégios eleitorais do Estado. Em Mossoró, ele defende a unificação da oposição, porém considera algo difícil de acontecer
O PC do B decidiu que terá candidato a prefeito nas eleições de 2020 nos maiores municípios brasileiros, aqueles com mais de 200 mil habitantes, que tenham emissoras de rádio e televisão. A ideia é fortalecer um projeto à sucessão presidencial, que provavelmente sustentará uma candidatura do governador do Maranhão Dino Flávio à Presidência da República.
Mossoró está inserido nesse contexto com a pré-candidatura a prefeito do professor e geólogo Gutemberg Dias. Seu nome foi colocado para debater um projeto que possa unificar as oposições, mas, se isso não ocorrer, certamente disputará o pleito em faixa própria.
Para falar sobre esse projeto e as eleições municipais, Gutemberg Dias tomou o “Cafezinho com César Santos” na redação do JORNAL DE FATO. Ele falou de forma clara, sem tergiversar, afirmando que a pré-candidatura do PC do B está firme, sem necessariamente ser ele o candidato a prefeito.
“Meu nome está colocado, mas eu posso rever o projeto pessoal e sair candidato à Câmara Municipal”, afirmou. “O importante é que o PC do B está trabalhando para que um projeto unifique os partidos de oposição, no sentido de ter as condições ideais de enfrentar a candidatura da prefeita Rosalba Ciarlini.”
O PC do B tem um projeto para as eleições municipais do próximo ano, que é ter candidatura majoritária nos maiores colégios eleitorais, onde Mossoró está inserida. Ter candidato próprio a prefeito é a única condição?
O PROJETO nacional do PC do B é ter candidatura própria nos municípios maiores, aqueles com mais de 200 mil habitantes, que tenham emissoras de rádio e televisão. O partido orienta a todos os comitês estaduais, e aí replica nos municipais, para que tenha candidatura a prefeito. Mossoró se enquadra em todos os itens listados pela direção nacional. O projeto de Mossoró está gestado na pré-candidatura desde julho, quando foram iniciadas as decisões nesse sentido de olhar para os municípios prioritários.
ESSA proposta se encaixa de que forma no Rio Grande do Norte? Como o PC do B vai aplicar essa orientação nacional nas eleições de 2020?
NÓS vamos ter candidatos a prefeito em Natal, Mossoró, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, que são os maiores colégios eleitorais do estado. Hoje, nós temos duas pré-candidaturas próprias, que são as de Mossoró e Parnamirim, com o meu nome e o do tabelião Airene Paiva. Nesse contexto, nós estamos seguindo a orientação nacional. Obviamente, os diretórios estaduais vão avaliar onde eles se encaixam, mas o que nós temos acompanhado é que essa determinação ela tende a valer, ou seja, há uma obrigatoriedade de disputa nesses colégios eleitorais maiores.
O SEU nome foi lançado pelo partido como pré-candidato a prefeito de Mossoró, porém em algum momento o senhor mostrou-se desmotivado com o projeto majoritário e admitiu que seria mais palpável uma candidatura a vereador. Qual é sua posição hoje?
EM TODAS as entrevistas que eu concedo, tenho dito que o PC do B quer a unificação das oposições. Essa unificação, no nosso sentido, não quer dizer que esteja todo mundo junto, mas que grande parte desse oposição unifique em um projeto que seja viável para o município, que consiga apresentar uma proposta clara que a população consiga entender. Nesse sentido, a pré-candidatura do PC do B, especificamente a minha, ela pode ser revista se surgir um nome com capacidade mais elaborativa, com maiores condições de agregar e disputar as eleições com uma proposta clara para Mossoró. Obviamente, nesse caso, o PC do B não será empecilho, e muito menos eu, para que esse projeto se consolide.
MAS, sobre a possibilidade de o senhor trocar a pré-candidatura a prefeito por uma postulação à Câmara Municipal?
EU TENHO dito sempre que a oposição não pode ir fracionada ao extremo, ou seja, com duas candidaturas já acho complicado, mas com três vejo inviável a um projeto de eleição vitorioso. Portanto, se continuar esse cenário de divisão da oposição, o PC do B pode até ter candidatura a prefeito, mas talvez esse candidato não seja Gutemberg Dias. Daí, posso buscar o projeto de disputar uma vaga à Câmara Municipal de Mossoró. Penso que é outro campo de batalha que precisa ser renovado, precisa ter nomes novos que possam, efetivamente, discutir a cidade. Não estou desmerecendo os vereadores que lá estão, mas é fato que a gente precisa melhorar muito a qualidade da Câmara Municipal para que o que chega lá de projeto, seja do Executivo ou do próprio Legislativo, os vereadores tenham capacidade de influir na política e no processo de gestão do município.
DENTRO do quadro que se apresenta, com seis nomes colocados à sucessão municipal, o senhor acredita na possibilidade de unificação da oposição?
O CAMINHO é muito difícil, muito tortuoso. Eu faço uma leitura muito clara: os projetos políticos individuais falam muito alto. No contexto de Mossoró, nós temos dois projetos representados pelos deputados estaduais recém-eleitos pelo município, Isolda Dantas (PT) e Allyson Bezerra (Solidariedade). Existe uma disputa entre eles para 2022, que passa pelas eleições de 2020. Isso é um problema que temos que analisar dentro desse contexto da oposição, ou seja, eles (Isolda e Allyson) tendem a disputar as eleições municipais já olhando para a reeleição deles em 2022. Infelizmente, nós temos isso na política, com eleição a cada dois anos fica construído esse cenário que não contribui para a renovação efetiva, para o surgimento de novos projetos e que não sejam projetos pessoais.
O SENHOR não estaria pessimista, ou realmente não vê chance de unificação da oposição?
TORÇO para que haja a união da oposição, que surja um nome capaz de viabilizar essa unificação. Hoje, temos seis nomes em pré-campanha e, claro, não seria possível colocar esses seis projetos individuais no mesmo palanque. Mas, espero que grande parte dessa oposição consiga se unir para disputar as eleições em condições de mostrar um projeto novo para Mossoró. É importante que no processo eleitoral do próximo ano, o eleitor tenha a opção de avaliar a atual administração municipal, com a prefeita Rosalba Ciarlini candidata, mas também possa ter uma candidatura de oposição apresentando um projeto viável para a cidade. E que seja uma campanha bonita, propositiva, de ideias.
O SENHOR foi candidato a prefeito nas eleições de 2016 com um discurso propositivo, evitando o radicalismo que ficou em outros palanques, com isso, a sua votação, com mais de 8% dos votos válidos, foi a maior da história de Mossoró para um candidato de ideologia de esquerda. É essa proposta de campanha que o senhor vai defender em 2020?
A POLÍTICA, de modo geral, é feita de duas formas: uma pela diálogo e outra pela apresentação de proposta concreta. Quando fomos à disputa eleitoral em 2016, decidimos aproveitar o nosso reduzido tempo na propaganda eleitoral de televisão, de pouco mais de um minuto, para apresentar de forma direta e clara um projeto que fosse viável para Mossoró. Fizemos isso diante de outros candidatos que tinha oito ou nove minutos de propaganda de televisão. Acredito que a votação que obtivemos naquelas eleições é o resultado disso, ou seja, de uma campanha propositiva, clara, diálogo franco e aberto com a população. Mas, isso aí ficou lá atrás. Agora vamos pensar o futuro, vê como vai desenrolar o processo sucessório do próximo ano.
MAS, o senhor não acha que o radicalismo continua ainda muito presente na política local?
MOSSORÓ é uma cidade na qual não cabe mais o radicalismo, ou seja, criar uma bipolaridade na disputa política e eleitoral, com aquele discurso que eu sou santo e meu adversário, Satanás, para que outras alternativas não tenham espaços. Isso passou, ficou lá atrás. Penso que qualquer bloco político que queira disputar as eleições, ele tem que trabalhar em cima de projetos e algo que a população consiga entender claramente. Se não for assim, talvez em poucos anos esses quadros que estão aí desapareçam naturalmente, porque as pessoas não aceitam mais esse tipo de comportamento político.
VAMOS conjecturar um pouco. O fato de o PC do B ter o seu presidente estadual, Antenor Roberto, vice-governador de Fátima Bezerra, governadora do PT, não sugere que os partidos formaram chapa majoritária em Mossoró, como, inclusive, aconteceu nas eleições de 2016?
NÃO, necessariamente. O PC do B tomou uma decisão muito clara no Rio Grande do Norte, levando em conta a orientação nacional que é ter candidatura própria nos maiores colégios eleitorais. Nós fazemos parte do governo da professora Fátima Bezerra, é fato, mas estar no governo não quer dizer que nós estamos aderindo a todos os projetos do PT. Essa é posição que está muito clara. Os membros do nosso partido que estão no governo continuam fazendo parte da direção do PC do B, mas a gente criou mecanismos para que não haja interferência do político-administrativo com o político-partidário. O PC do B está muito autônomo para tomar as suas decisões. Mossoró é um exemplo disso. Nós poderemos estar com o PT, assim como poderemos nos compor com outros partidos ou estarmos sós nas eleições do próximo ano. Então, é uma questão de definição de interesse do PC do B, e não serão os interesses dos outros partidos.
O PC do B é um parceiro histórico do PT, mas sempre foi visto em plano menor. No entanto, parece que o partido, hoje, mostra-se decidido a se libertar dessa condição, principalmente da influência do ex-presidente Lula. Esse novo cenário sugere que o PC do B vai criar uma faixa nova no caminho que leva à sucessão presidencial de 2022?
O PC do B vem defendendo um campo mais amplo, mais aberto, faz tempo. No impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o nosso partido sugeriu essa abertura para evitar o processo, mas infelizmente não conseguiu. Não houve interesse do maior partido, do partido que está no Poder Central, o PT. Hoje, está muito claro na direção nacional do PC do B: nós vamos ter candidatura própria a presidente do Brasil. O partido vai apresentar ao povo brasileiro um nome e temos três opções para isso: governador Flávio Dino (Maranhão), deputada Manuela D’Ávila (foi candidata a vice-presidente de Fernando Haddad nas eleições de 2018) e João Goulart Filho (foi candidato a presidente em 2018 pelo PPL, partido que foi absorvido pelo PC do B). Esses nomes serão trabalhados logo após as eleições municipais do próximo ano. Eu, particularmente, acredito muito no nome de Flávio Dino, um governador que está no segundo mandato com índices expressivos de aprovação, conseguiu juntar uma força política em torno dele que vai da esquerda à centro-esquerda, e que está mostrando que é possível estabelecer um campo político mais amplo em torno de um projeto que seja bom para o país.
EM 2018, o PC do B lançou a pré-candidatura a presidente da República de Manuela D’Ávila, mas era como se estivesse antecipando que ela e o partido seriam vice de Fernando Haddad e do PT. Esse cenário mudou, a ponto de se ter a garantia que agora o PC do B terá uma candidatura própria pra valer?
ESTÁ claro para nós que a disputa presidencial passa pelo PC do B. Isso está muito claro para Flávio Dino. O próprio partido está muito consciente disso. O comitê central tomou a decisão de ter candidatura própria nas próximas eleições presidenciais, apresentou essa decisão a seu conjunto de militância e agora vai dialogar com o povo brasileiro, então, é o processo irreversível. Esse projeto ganhará força nas eleições municipais do próximo ano, com a decisão do partido de ter candidatos a prefeito nas maiores cidades, exatamente para conversar com toda a população sobre esse novo momento. O PC do B vai mostrar que tem um programa desenvolvimentista, temos projetos de desenvolvimento nacional, por isso, a importância de uma candidatura própria para levar ao conhecimento de todos os brasileiros.
A POLARIZAÇÃO ideológica entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula parece estratégica para evitar o surgimento de outra via que possa se apresentar ao país. De que forma o PC do B construirá faixa própria nesse campo de batalha?
O PC do B terá o seu espaço, assim como outros partidos de ideologias diferentes. É possível surgir uma liderança nova capaz de ocupar faixa própria. Temos o exemplo de Eduardo Campos, que morreu durante a campanha eleitoral de 2014. Ele, certamente, seria o divisor de águas daquele processo eleitoral que era entre Dilma Rousseff e Aécio Neves (PSDB). Infelizmente, aconteceu aquela fatalidade. Então, acho possível sim, até porque a população está se cansando dos mesmos personagens. As pesquisas vêm mostrando isso. Ou seja, essa beligerância entre o grupo de Lula e o grupo de Bolsonaro está cansando a população. E na hora que essa população cansar, ela vai procurar um meio-termo, que será exatamente um candidato que consiga falar com a população de forma clara, transparente, mostrando as mudanças necessárias pelo Brasil. Eu vejo Flávio Dino capaz de fazer isso.
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