Quinta-Feira, 21 de novembro de 2024

Postado às 10h45 | 19 Jan 2020 | Redação Universidade não deve ter intervenção política, afirma pré-candidato a reitor da Ufersa

O professor Rodrigo Sérgio Ferreira de Moura há quase 15 anos integra os quadros da Universidade Federal Rural do Semiárido. Ele é pré-candidato a reitor. Em entrevista ao Cafezinho com César Santos, Rodrigo Sérgio defende novos projetos para Ufersa

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Professor Rodrigo Sérgio é o entrevistado do Cafezinho com César Santos

O professor Rodrigo Sérgio Ferreira de Moura há quase 15 anos integra os quadros da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), atuando, quase que em 100% desse período, como auxiliar da gestão superior da instituição. Esteve na equipe do ex-reitor professor Josivan Barbosa e é hoje pró-reitor de Extensão e Cultura. Apesar do vínculo com o atual reitor, professor José de Arimatea de Matos, Rodrigo Sérgio se coloca como pré-candidato ao cargo mais alto na hierarquia administrativa da Ufersa, e vai para a disputa contra um nome apoiado por Arimatea, além de outros concorrentes.

Na entrevista da semana da seção “Cafezinho com César Santos”, Rodrigo Sérgio fala sobre as motivações de sua pré-candidatura, afirma que possui experiência suficiente para assumir a reitoria da Ufersa e tece crítica aos seus futuros adversários na disputa, revelando, inclusive, que chegou a aconselhar o ex-reitor Josivan Barbosa a não participar do processo eleitoral: “O momento dele já passou.” Acompanhe.

O SENHOR vai disputar o cargo de reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido?

NÓS colocamos o nosso nome como pré-candidato a reitor da universidade a partir de mais ou menos novembro, quando nós dialogamos com um grupo, uma vez que sou pró-reitor da universidade, e havia um candidato da gestão, mas devido a sua militância, ele acabou amarelando e saiu da disputa, e aí o reitor abriu a discussão com os colegas, inclusive a gente colocou nosso nome para gestão, mas ele fez uma opção pelo pró-reitor de Graduação, o senhor Rodrigo Codes, e a gente com o outro grupo de colegas, que também fazem parte da gestão, inclusive o meu pré-candidato vice, professor Almir Mariano, empreendedor, foi gestor do CREA local, tem um grande projeto de extensão, trabalha com regularização fundiária, é uma referência nacional inclusive, então eu e outros colegas da gestão resolvemos, digamos, discordar um pouco da escolha do candidato, do pró-reitor de Graduação, pela sua falta de experiência, tem três anos apenas na gestão, é mais novo também na universidade, e nós como já estamos na gestão há um certo tempo, passamos três gestões como pró-reitor, um tempo como assessor jurídico, assessor da reitoria, mais quatro anos como presidente da Fundação, a gente quer trazer essa experiência para este momento tão importante da universidade, de transição, porque encerra um ciclo agora de oito anos do professor Arimatea, assim como encerrou um ciclo lá atrás de oito anos do professor Josivan. É uma transição também no momento político do Brasil, uma mudança de Governo, um modelo de gestão diferente e a gente quer levar essa experiência, para ser essa transição com responsabilidade dentro da universidade.

 

O SENHOR é da equipe do atual reitor, é pró-reitor, e lança um pré-candidatura numa linha, digamos, de oposição. Como vai ficar essa relação neste momento que antecede o processo eleitoral?

O REITOR disse que não era nada pessoal a escolha dele, inclusive pessoalmente não tenho nada contra o reitor, mas ele fez uma escolha. Ele está se aposentando, inclusive já anunciou para a comunidade esse desejo, de se aposentar após o processo eleitoral. Não compreendemos bem o intento dele de continuar nessa campanha, poderia deixar os dois candidatos disputar livremente, mas ele fez essa opção, inclusive anunciando também que pretende morar na Europa, em Portugal, mas ele decidiu que vai levar essa campanha até o fim e quer fazer seu sucessor. Não entendemos muito bem a escolha pelo pró-reitor de Graduação, por isso que alguns colegas estão nos acompanhando. Você tinha um candidato militante, ele sai e vamos escolher um candidato que não cheira e nem fede, que não tem posição muito firme, é pouco expressivo, para ver se consegue agradar o Governo que tanto se ataca, talvez o sentido seja esse, dizer, por exemplo, nos campi da universidade que vai obter a nomeação desse candidato, um pouco apático, porque trouxe aqui um secretário, do Governo, terceiro escalão, que havia prometido esse certo apadrinhamento, então deseja-se fazer uma transferência de voto para um candidato que não tem uma expressividade, por isso que a gente, pensando na condução dos trabalhos na universidade, desses ciclos que estão se encerrando, a gente quer colocar o nosso nome com a nossa equipe de colegas também, que fazem parte da gestão e são pessoas competentes, e outros da universidade, para que gente possa conduzir o rumo dessa universidade tão importante para o desenvolvimento de semiárido.

O SENHOR foi da equipe do ex-reitor Josivan Barbosa, continuou no primeiro escalão da gestão do professor José de Arimatea, e agora o senhor oferece o seu nome para a consulta junto à comunidade acadêmica. Onde o senhor pretende localizar a sua candidatura dentro desse processo?

A GENTE chegou na gestão desde 2007, coordenamos a campanha do professor Josivan, depois participamos também da coordenação da campanha do professor Arimatea, em 2012, estamos na equipe, e com isso fomos adquirindo certa expertise na gestão pública, chegando exatamente neste momento de crescimento da universidade. A universidade foi transformada pela lei 11.155 publicada no Diário Oficial da União do dia 1° de agosto de 2005, e nós chegamos exatamente um ano depois, em 1° de agosto de 2006, e acompanhamos esse crescimento exponencial da universidade, inclusive até disse para Josivan recentemente, ele que é pré-candidato, que apesar de admirar o trabalho que ele fez na universidade, mas em gestão e política, têm seus momentos. Naquela oportunidade, ele foi diretor, depois foi nomeado reitor pró-tempore na transformação, depois foi candidato a primeiro reitor, poderia ter sido reeleito, mas escolheu uma vida política partidária. Fez uma aventura política logo no PT e aí levou aquela rasteira que todo mundo conhece, foi obrigado a ser candidato à vice numa campanha que saiu derrotado, depois filiou-se ao PCdoB e agora, até para surpresa da comunidade, está tentando voltar para o cargo de reitor.

 

O SENHOR sugere, então, que o ex-reitor não seja candidato?

EU DISSE para ele: Olhe, acho que o momento passou, fui seu colaborador e você fez um belíssimo trabalho de transformação, mas tinha oportunidade de consolidar o trabalho, de continuar à frente da gestão e seria reeleito facilmente. O professor Arimatea está saindo. Apesar de ser assessor dele, ele está saindo da instituição. Então o que a gente quer fazer? Não é diferenciar as ações; nós queremos colocar o aprendizado nessas últimas quatro gestões que nós participamos para a continuidade do crescimento da universidade. A universidade tem uma responsabilidade muito grande com o semiárido. Nós estamos inclusive localizados na capital do semiárido, reconhecida pela lei 13.568 de 2017. Hoje, nós temos 45 cursos de graduação, praticamente 11 mil alunos, entre graduação presencial, à distância, e pós-graduação, em torno de 19 cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado. Temos hoje em torno de 706 docentes, mais ou menos 540 técnicos administrativos, algo em torno de 350 servidores terceirizados, o nosso orçamento de 2019 foi de R$ 290 milhões, sendo R$ 239 milhões apenas com pagamento pessoal, R$ 43 milhões de custeio e R$ 8 milhões de capital. Daí, a importância de ter o conhecimento dessa transformação, desse processo, é poder conduzir essa universidade com responsabilidade, com experiência administrativa.

É FATO que houve realmente o crescimento da instituição, o avanço dos campi, mas o senhor não acha que a Ufersa, apesar do enorme investimento que recebeu, não deve ainda uma posição melhor em relação à pesquisa, em relação a outros segmentos que possam dar uma resposta mais imediata à sociedade, ao contribuinte que banca essa universidade?

COM consolidação dos campi hoje, nós temos um grande desafio. Houve um grande investimento de fato no ensino superior, sobretudo. Nas federais, precisava de fato esse aumento, essa expansão foi positiva. Talvez, uma crítica que se faça é ao FIES, em que grandes grupos empresariais se constituíram no Brasil, conseguiram crescer de forma assustadora. Ficou renegado para terceiro plano o ensino básico, fundamental, e aí hoje nós recebemos jovens na universidade, por diversas políticas, de inclusão, por exemplo, e esse jovem não tem a formação adequada, e isso resulta em índices de evasão e de retenção que aumentaram nos últimos três anos, sobretudo, é um dado importante que a gente precisa melhorar, porque a missão principal da universidade é a formação do estudante, exatamente porque os pais e os próprios estudantes que trabalham, vários deles pagam impostos e, como retorno, esperam no âmbito da universidade o ensino público, gratuito e de qualidade. Essa é uma pauta importante que nós queremos defender sempre, a universidade pública, que é uma instituição milenar, que merece ser preservada como formação do conhecimento crítico, humanístico, isso independente de campos de pensamento, a universidade sempre tem que existir, tem que ser pública.

 

COMO dar uma melhor resposta à sociedade, então?

A UNIVERSIDADE tem que ter investimento, agora nós precisamos nesse novo momento fazer, apesar de a nossa universidade ter conseguido sempre executar o orçamento de forma adequada e ser reconhecido pelos próprios relatórios da própria CGU, TCU, precisamos dar talvez uma melhor qualidade, fazer uma avaliação do gasto público, para que se reverta em mais benefício para a sociedade, e buscar apoio, inclusive no governo atual, para que possamos difundir mais desenvolvimento tecnológico, a interação com as empresas. Há uma cobrança muito grande atualmente que a universidade forme alunos, mas também tenha índice de sucesso de empregabilidade, e é importante que esse aluno esteja em contato com a sociedade, com as empresas, se essa universidade fica muito fechada, inclusive pela questão burocrática que engessa muito administração da universidade, a gente tem muita dificuldade de executar recursos, inclusive, no campo da pesquisa, e movimento tecnológico da extensão.

O GOVERNO Federal editou a medida provisória 914 que estabelece regras para o processo de escolha nas universidades federais e nos institutos técnicos federais. Houve uma reação, inclusive da União de Reitores. Como o senhor avalia essa MP? Ela modifica, engessa, tira o processo democrático da escolha?

EXISTE uma lei que trata da eleição do reitor desde 1968. Essa lei diz que na eleição é formada uma lista tríplice, respeitando a proporção de no mínimo 70% do corpo docente, e ela tem que ser votada pelo Conselho Universitário. No caso da nossa universidade, ainda desde Esam, nós sempre tivemos uma consulta formal. Com exceção da última eleição que foi paritária, todas as anteriores respeitavam o que está na lei: os votos dos docentes correspondiam a 70% e no nosso estatuto dizia que era 15% para técnico e 15% para discentes, mas sempre houve uma consulta formal. O que a medida provisória traz como principal definição é que essa consulta, que era facultativa, ela agora é obrigatória e formal, ou seja, os três nomes que saírem dessa consulta, que na prática já era assim, mas não era obrigatório, eles serão homologados pelo Consuni, não mais eleitos pelo Consuni, quem vai eleger é a comunidade, ou seja, aumenta a decisão da comunidade, não é uma restrição à democracia, porque antes só o Conselho fazia a eleição, apesar que já tinha uma praxe de respeitar os nomes que saíam da comunidade. Não é mais uma mera faculdade ter ou não consulta. Nesse momento, a nossa universidade estava inclusive cogitando não ter consulta neste ano. A minuta que disciplinava as eleições deste ano, como foi encaminhada para o Conselho Universitário pela reitoria, em apenas um parágrafo que dizia: “Poderá haver eleição informal”, ou seja, imagine o TRE, fazendo uma alusão aqui, dizer: “Olhe, a eleição de Mossoró agora em 2020 vai ser feita pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, as associações”, imagina como seria? Então, eles queriam que se houvesse a eleição, a consulta seria informal realizada pelas associações de classe da universidade.

 

NA SUA opinião, a democracia estaria mais sustentada, preservada no voto paritário ou da forma como está definido, oficializado agora por essa MP, é um processo mais justo?

NÓS já estávamos preparados, inclusive, para uma eleição paritária, como tinha acontecido na avaliação interior. O que ocorre na realidade é que desde a criação da lei em 1968, observou-se a questão da atividade fim da instituição, por exemplo, diferente da eleição normal, onde qualquer cidadão, atendidos os pré-requisitos, pode ser candidato a determinado cargo, para reitor da universidade só docente pode ser reitor, isso é quase que uma regra em praticamente todas as universidades do mundo, então, nesse espírito é que a lei considerou o peso de 70%. A medida provisória não alterou isso. As universidades fizeram a consulta de forma paritária, mas não houve muita contestação judicial nesse sentido. Para a gente seria indiferente, até porque nós temos valorosos servidores e estudantes, a finalidade da universidade é atender os estudantes, exatamente os filhos dos pagadores de impostos e os próprios pagadores de impostos, e os servidores como atividade meio é que são responsáveis também pelo sucesso da nossa universidade na execução da gestão administrativa.

O PRESIDENTE Jair Bolsonaro já disse que não tem obrigação de nomear o primeiro da lista e que, de fato, legalmente não existe essa obrigação. Ele deixou claro que a decisão é do Governo. Com essa exposição, o senhor acha que vai existir uma interferência político-partidária nesse processo de escolha até a nomeação do futuro reitor da Ufersa?

ESSA questão político-partidária é delicada, porque nós defendemos, inclusive, que a universidade tem de estar livre de partidos, sejam de esquerda, sejam de direita, a universidade não tem que ter intervenção partidária. O processo de nomeação, uma vez atendidos os requisitos, ele é encaminhado para o MEC até 60 dias antes do fim do prazo do mandato, no caso o mandato do reitor se encerra dia 5 de setembro; do MEC, esse processo vai para a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil, que faz uma análise do processo, e chega às mãos do presidente para a nomeação, isso nós não temos como interferir, agora, vou dar só um exemplo prático: o reitor está dizendo nos campi que vai nomear o seu candidato, porque um secretário do terceiro escalão veio aqui, gostou da universidade, achou ele bonito e vai nomear o candidato dele. Aí a outra candidata, Ludmilla, acho que desse grupo, é a que tem menos experiência na gestão superior da universidade, vai um jornal, um blog local dizendo que não vai buscar atalho político, mas na semana seguinte está em Brasília, batendo a porta do general para se apresentar e pedindo apoio para uma possível nomeação e publica ainda nas redes sociais. O candidato professor Josivan, por exemplo, ele esteve filiado ao PT, agora PCdoB, mas já foi bater às portas do governo também pedindo a bênção, caso esteja na lista tríplice, para ser nomeado. Obviamente que a gente, o meu grupo, após o resultado, esse não é o momento de estar se discutindo agora, isso será discutido no momento oportuno, mas a gente vai discutir também as ideias do projeto de universidade.

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