João Morais afirma que mesmo o Governo adotando o calendário de pagamento, que ele chamou logo no começo de antecipação dos salários, com pagamentos no dia 15, não soluciona o problema do trabalhador. O sindicalista denuncia o caos na saúde pública
Por Por Maricelio Almeida/JORNAL DE FATO
Na semana que passou, o JORNAL DE FATO repercutiu graves denúncias envolvendo o Hospital Tarcísio Maia: as dificuldades enfrentadas por pacientes que precisam ser transferidos de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para o segundo maior hospital público de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, sendo o maior da região Oeste. O novo sistema de regulação de pacientes adotado pela Secretaria de Estado da Saúde Pública no Tarcísio Maia tem ceifado a vida de pessoas, em troca de corredores temporariamente vazios.
Na entrevista a seguir, o coordenador regional e estadual do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN (SINDSAÚDE-RN), João Morais, confirma a situação caótica pela qual atravessa o Hospital Regional Tarcísio Maia: “Corredor de hospital vazio não significa que a saúde está boa; tem que procurar saber onde é que as pessoas estão morrendo”, disse, afirmando ainda que, um ano após Fátima Bezerra assumir o comando do Governo do Estado, “a saúde pública está, a cada dia, sendo sucateada”.
João Morais também comenta a proposta de reforma da Previdência do RN, confirmando que o Sindsaúde estará presente na greve geral anunciada pelo Fórum dos Servidores e agendada para os próximos dias 3 e 4 de fevereiro. O sindicalista ainda critica a gestão por não ter priorizado o pagamento dos salários atrasados, revelando, inclusive, que há trabalhadores que já faleceram e não receberam os pagamentos relativos ao final do ano de 2018.
O Sindsaúde-RN participará da greve geral anunciada pelo Fórum dos Servidores, protesto esse contra a proposta de reforma da Previdência estadual?
Sim. Nós fazemos parte do fórum e essa foi uma decisão do fórum e confirmamos presença. Estamos vendo a possibilidade de saírem caravanas aqui da regional de Mossoró para participar desse ato. Nós avaliamos essa proposta de reforma como uma das maldades que o Governo vem fazendo com os trabalhadores. Primeiro, há uma pergunta que não tem resposta: a reforma faz que os trabalhadores aposentados voltem a contribuir com o Ipern, o nosso Instituto de Previdência. Agora, perguntamos: contribuir para quê? Se esses trabalhadores são aposentados, eles já contribuíram ao longo de sua vida. Agora, se houve más administrações e a Previdência estadual não tem recursos para pagar os aposentados, o trabalhador que vai pagar a conta? Não é justo com esse trabalhador que dedicou a sua vida, contribuiu com a Previdência e agora vai voltar a contribuir. Ele vai ter direito a uma segunda aposentadoria? Claro que não, nós sabemos que não. Ele vai contribuir para quê? Para tapar buracos de más administrações?
MAS é fato que a Previdência estadual enfrenta hoje uma situação delicada, com um déficit mensal que ultrapassa os R$ 130 milhões/mês. Qual seria a solução para cobrir esse rombo, na visão do senhor, do Sindsaúde-RN?
O GOVERNO precisa cobrar os seus devedores, aqueles que devem ao Estado. O Governo precisa fazer concurso público, para que novos trabalhadores possam atuar e contribuir com a Previdência. Há déficit de servidores em todas as áreas, um dos grandes problemas é esse, porque não há concurso público. Quanto mais servidores contribuindo, mais recursos a Previdência vai receber, e o Estado passa a prestar um bom serviço à população, que é esse o papel do Estado.
OS ATRASOS salariais de 2018 ainda persistem. Há servidores que ainda aguardam o recebimento de uma parte de novembro, décimo terceiro e o salário de dezembro. Como o Sindsaúde avalia essa situação?
É OUTRO fator que está afetando psicologicamente o trabalhador, porque desde o momento que o Governo do Estado atrasou o pagamento dos servidores, alguns inclusive ficaram sem receber o salário de novembro de 2018, tem ainda o salário de dezembro e o décimo terceiro, isso gerou um caos na vida do trabalhador. Mesmo o Governo adotando esse calendário, que ele chamou logo no começo de antecipação dos salários, com pagamentos no dia 15, mas não soluciona o problema do trabalhador. O que nós esperávamos nessa última reunião do Fórum era que viesse um calendário, que fosse dada prioridade ao pagamento dos atrasados, que esperamos agora ser cumprido o anúncio de pagamento de novembro, mas essa é uma necessidade pra ontem. Há trabalhadores que já vieram a óbito e não receberam o salário de dezembro de 2018 e nem o décimo terceiro. Os trabalhadores estão adoecendo, estão trabalhando sobrecarregados e endividados. Imagine você no Tarcísio Maia, você que se dedicou a salvar vidas, esperando a qualquer momento alguém ligar informando que a sua luz, sua água foi cortada por falta de pagamento devido a atraso do Governo do Estado. A situação do trabalhador não está boa.
NESSE primeiro ano de gestão da governadora Fátima, o que mudou em relação aos serviços prestados na área da saúde? Houve avanço?
DEU continuidade ao desgoverno dos demais. Não mudou nada para nós servidores, continuamos sem ter a certeza de quando vamos receber os nossos atrasados, são 11 anos que nós não temos um reajuste salarial, a saúde pública ainda continua tendo problemas. Vocês mesmo noticiaram essa questão das portas reguladas. Sempre disse, basta você ir pegar retrospectiva das minhas entrevistas, que corredor de hospital vazio não significa que a saúde está boa, tem que procurar saber onde é que as pessoas estão morrendo. Claro, tem toda a questão da gestão municipal, estadual. Mesmo com essa situação de porta regulada, como há em Natal também, a saúde não está boa, e vai terminar estourando de novo no Tarcísio Maia. Então, não há melhora. Continuam pessoas nos corredores, é muito sazonal. Não deixou de ter. Tem dia que não tem, mas no dia seguinte tem. É ilusório achar que essa porta regulada está resolvendo o problema da saúde; não está.
PACIENTES não estão conseguindo transferência das Unidades de Pronto Atendimento para o Tarcísio Maia, e chegando inclusive a óbito. O que está, de fato, acontecendo? As ações tomadas pela direção do hospital são responsáveis por esses problemas?
É UM novo modelo de gestão, onde cria-se uma bolha de ilusão, que a saúde está boa devido aos corredores estarem vazios em alguns momentos de dias da semana, mas o problema continua o mesmo problema de pacientes morrendo por falta de leito de UTI. Repito: corredor vazio não significa que a saúde está boa. Nós sempre denunciamos essa situação ao Ministério Público não é de hoje. Eu acho que o Ministério Público tem uma bíblia de denúncias nossa sobre essa situação na saúde pública, através da Promotoria, de atos de conscientização, para que o trabalhador se conscientize que ele tem direito a uma saúde pública de qualidade. Lembro de uma denúncia que fizemos em 2017, até a OAB buscou ver como estava a situação, e constatou que nós estávamos corretos.
QUANTO à estrutura, equipamentos, insumos, qual a realidade hoje enfrentada pelo Hospital Regional Tarcísio Maia?
NÃO é muito diferente da do governo anterior não. Para você ter uma ideia, o básico do básico chega a faltar, como, por exemplo, lençol para os pacientes. Não existem insumos, as medicações também chegam a faltar. É um caos. A saúde pública está a cada dia sendo sucateada. Entra Governo, sai Governo e não há melhora.
ALGO mais que o senhor queira acrescentar? Fique à vontade.
SÓ QUERO dizer que o Sindisaúde-RN, através da minha pessoa e da direção, nós estamos atentos aos problemas da saúde pública e também à questão do trabalhador, que está sobrecarregado no hospital, e muitas vezes ele vem adoecendo devido à situação em que se encontra hoje a saúde pública em nosso estado.
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