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Postado às 11h00 | 10 Mai 2020 | Redação Josué Moreira: "Estou fazendo de tudo para pacificar e me dedicar à gestão do IFRN"

Em entrevista ao "Cafezinho com César Santos", o reitor pro tempo disse que não vai permitir imposições e doutrinações. Josué fala abertamente sobre a sua nomeação, afirmando que não houve, pelo menos de sua parte, qualquer articulação política

Crédito da foto: Reprodução Professor Josué Moreira é o reitor pro tempore em Mossoró

Por Maricelio Almeida - Repórter do JORNAL DE FATO

O professor Josué de Oliveira Moreira quebrou o silêncio. Desde que foi nomeado reitor pro tempore do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em 20 de abril, ele tinha evitado conversar com a imprensa, se posicionando apenas por meio de nota oficial. Nesta entrevista exclusiva ao JORNAL DE FATO, Josué fala abertamente sobre a sua nomeação, afirmando que não houve, pelo menos de sua parte, qualquer articulação política que garantisse a escolha pelo seu nome, mas não negou que tem boa relação com o deputado federal General Girão, apontado como responsável pela sua indicação junto ao Ministério da Educação.

Desde que foi nomeado reitor, mesmo sem ter participado da consulta acadêmica, Josué tem vivido dias intensos. Ao DE FATO, o professor disse que aceita, de forma natural, as críticas de cunho político que tem recebido, mas não abre mão da defesa de sua honra. Sobre está sendo classificado como “interventor”, Josué Moreira disparou: “Servidores e estudantes que fazem esse tipo de discurso só demonstram o nível de aparelhamento ideológico da nossa instituição. Afirmo que nossa instituição é plural, porém, um pequeno grupo faz um grande barulho para agregar dividendos políticos e age como se a instituição fosse dele e não de toda a sociedade”.

Josué ainda apresentou projetos que pretende desenvolver enquanto estiver à frente da instituição e se mostrou otimista com a gestão do presidente Jair Bolsonaro em relação à educação.

 

Professor, como o senhor recebeu a notícia de que seria nomeado reitor pro tempore do IFRN?

Todos sabem que sou do quadro permanente do IFRN há quase 11 anos. Ser convidado para ser reitor, ainda que por algum tempo (pro tempore) foi uma surpresa, fiquei honrado. Evidente que havia outros nomes na mesa além do meu. Após ser consultado pelo MEC, de pronto aceitei, mas só acreditei de verdade quando vi meu nome no Diário Oficial da União – DOU, tanto que fui acordado na segunda-feira por colegas de trabalho com essa notícia. Saí de Mossoró em direção a Natal quase 11 horas da manhã para tomar posse do cargo de reitor pro tempore na Reitoria do IFRN.

Houve algum tipo de articulação política nessa nomeação? Qual a relação do senhor com o deputado federal General Girão?

Da minha parte não, sou do quadro permanente do IFRN, não sou de fora, sou filho da casa. Preenchi todos os critérios e requisitos técnicos que o cargo exige. Estou seguro da minha capacidade técnica, política e humana para contribuir com a minha instituição. Tenho boa relação com o deputado federal General Girão, como também com outros políticos e autoridades públicas dentro e fora do RN. Eu estou reitor pro-tempore até quando o MEC e a justiça permitir. Isso não nos incomoda, pelo contrário, nos empolga a trabalhar mais ainda. Enquanto eu estiver à frente do IFRN darei meu melhor, e minha equipe pensa da mesma forma. Só Deus sabe até quando estarei como reitor pro-tempore, mas já agradeço pelo tempo que estou.

Fala-se em intervenção, classificam o senhor como interventor do IFRN...

Quem fala em intervenção é porque tenta enganar, iludir e desviar o real motivo, um tipo de retórica muito conhecida por tipo de pessoas, enganam-se e se deixam enganar-se. Pro tempore é um termo em latim que está sendo aplicado no IFRN, assim como já foi utilizado em outras instituições de ensino federal. É um dispositivo legal com base jurídica, algo pensado para proteger o presidente da República de uma nomeação indevida. Eu entendo como uma medida cautelar, preventiva, profilática, inclusive empregada em 2015 pela presidente Dilma no IF Sertão PE. Intervenção é a medida mais drástica para sanar um problema grave. Por exemplo: aqui em Mossoró, o juiz Orlan Donato decretou intervenção judicial no Hospital Almeida Castro, em 2014. A direção recebia dinheiro do governo federal e, com freqüência, estava faltando material e insumos, equipamentos, remédios, salários atrasados dos trabalhadores, médicos em greve, etc. Após a intervenção, faça uma visita ao hospital e compare. Foi um mal necessário para a contenção de um mal maior.

Como o senhor reage a essas críticas?

Não espere uma conversa qualificada e/ou saudável com alguém que não sabe diferenciar os dois conceitos legais, além de piorar o diálogo, eles misturam um ingrediente açodado ao discurso, o termo “golpe”. Servidores e estudantes que fazem esse tipo de discurso só demonstram o nível de aparelhamento ideológico da nossa instituição. Afirmo que nossa instituição é plural, porém, um pequeno grupo faz um grande barulho para agregar dividendos políticos e age como se a instituição fosse dele e não de toda a sociedade.

O senhor se sente atingido?

Estou sempre pronto para dialogar, acredito ser um caminho mais seguro e um bom exemplo que podemos dar a sociedade que paga nossos salários e mantém a nossa instituição. A escolha por uma guerra sem regras das redes sociais é perigosa e macula a imagem dessa instituição centenária. Eu aceito as críticas de cunho político de forma natural, porém, não abro mão da defesa da minha honra quando esta é ferida. Eu respeito a todos e peço respeito como colega da mesma instituição, como reitor pro tempore é necessário respeitar o cargo.  Estou fazendo de tudo para pacificar e me dedicar a gestão do IFRN, só quero com minha equipe contribuir para o IFRN, ficar ou sair só depende agora da justiça.

Na semana que passou, o imbróglio envolvendo esse processo de nomeação ganhou um novo capítulo, com o senhor sendo exonerado do cargo e retornando poucas horas depois. De que forma essa instabilidade pode prejudicar a instituição que o senhor agora dirige?

Trabalhei até o último minuto, até ser orientado a parar. Iniciamos uma reunião com o Conselho dos Dirigentes-CODIR às 9h40 e terminamos após as 15 horas. Quando fui notificado da decisão da Justiça aceitei e, em seguida, chamei meu amigo e agora um grande irmão de fé, prof. Ribeiro, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional, ele também é meu substituto eventual, vice-reitor, e disse pra ele: vamos orar e agradecer a Deus, pois muito Ele fez por nós, nos dando fé e proteção. Naquele momento, entregamos a situação nas mãos do Senhor, nosso Deus, somente Ele sabe todas as coisas. Apesar de pobres pecadores que somos, sentíamos no nosso coração que algo iria acontecer para continuarmos à frente da Reitoria. O Prof. Ribeiro olhou pra mim e disse: “arrume suas coisas e segunda-feira você vai estar reitor novamente”.

Esperava que o retorno da Justiça fosse tão rápido?

Sinceramente, nós não esperávamos que fôssemos respondidos em menos de duas horas após a nossa oração. Imagine aí a nossa alegria! Que Deus tremendo é nosso Deus. Nada mais nos abala ou nos assusta. Criou-se uma certa estabilidade e estamos procurando pacificar até que a situação se resolva na Justiça. Todos sabem dos seus direitos e deveres, todos nós temos atribuições a cumprir. A máquina funcionou perfeitamente nas semanas turbulentas, abriu-se agora o céu de brigadeiro.

O senhor já concluiu a formação de sua equipe de auxiliares? Está encontrando dificuldades nesse processo?

Montamos uma equipe excepcional de mentes brilhantes, pessoas de calibre intelectual formidável. A equipe está empolgada para trabalhar e dar o melhor para a nossa Instituição. Asseguro à sociedade e à comunidade acadêmica que nossa instituição está funcionando apenas em setores sistêmicos, nas fazendas e em algumas obras que não podem parar. Os servidores da nossa Instituição são muito qualificados, são pessoas de alta capacidade técnica. Nossa instituição está praticamente funcionando no piloto automático. A falta de aulas e o isolamento social tornou o ambiente mais tranquilo e com pouca demanda em diversos setores.

Que projetos o senhor pensa em executar durante o período em que estiver no IFRN?

Temos bons projetos, porém, o pensamento da equipe nesse momento é planejar a volta às aulas de forma virtual, precisamos fazer jus ao nome IFRN, usaremos todas as ferramentas tecnológicas que dispomos para atender nossos alunos, inicialmente os discentes do quarto ano (concluintes) com as disciplinas propedêuticas. Vamos dialogar com nossos pares, alunos e pais para tentar mitigar os prejuízos que esse isolamento social nos trouxe. Os alunos não serão prejudicados, se depender de nós não perderão o ano letivo. Já conversamos com a equipe do MEC e vamos ter todo o apoio necessário. Em relação às aulas presenciais não temos nenhuma previsão de retorno. Estamos trabalhando com o nosso setor de engenharia e infraestrutura para estudar modelos de pias sociais e pulverizadores nas entradas das nossas escolas (serão contêineres adaptados) para higienização de todos que acessarem nossas dependências. Vamos ter que nos adaptarmos a um novo convívio social que a COVID-19 nos impôs.

Há outros projetos sendo desenvolvidos?

Estamos fazendo os nossos estudos e em breve vamos apresentar propostas e abrir para sugestões dos nossos conselheiros, comunidade acadêmica e os pais. A sociedade paga nossos salários para apresentarmos soluções diante das dificuldades que estamos enfrentando. Sobre os projetos, vou contar apenas dois e deixar os pró-reitores anunciarem em breve o que eles estão idealizando: oferecer qualificação profissional (pós-graduação) para os professores da rede municipal e estadual em parceria com FUNCERN, prefeituras e o estado do RN; e implantar um Campus Avançado em Mossoró. Estamos dialogando com o setor produtivo de Mossoró para trazer novos cursos técnicos como: fruticultura irrigada, agronegócios (COEX- Comitê de Fruticultura do RN) para atender a demanda desse setor que gera muitos empregos, e Cursos Técnicos na área de Gestão de Negócios (Sindivarejo) para atender o setor do comércio da nossa cidade e região. O MEC já nos deu um sinal verde para iniciarmos o estudo e planejar de forma estratégica essa nova unidade do IFRN.

O senhor está no IFRN há mais de 10 anos. Como o senhor enxerga o processo de crescimento da instituição ao longo dos anos e quais as principais dificuldades hoje existentes?

O IFRN é uma máquina gigante e complexa, possui particularidades regionais e precisa estar constantemente sendo avaliada e planejada para atender a demanda da sociedade. A melhoria da qualidade de vida é sentida nos municípios onde existe um equipamento público de ensino federal. O ensino médio é muito bem valorizado e defendido pelos alunos como sendo de alta qualidade, principalmente por altas aprovações no ENEM. Não se observa a mesma avaliação por parte dos alunos em relação ao ensino profissionalizante. Digo isso por ouvir dos próprios alunos da modalidade integrado fazerem escolhas diferentes para a vida profissional deles das que ofertamos. Por exemplo: sou professor do Curso Técnico em Agroecologia e do Curso Técnico em Meio Ambiente (Campus Ipanguaçu), se conta nos dedos aqueles que desejam seguir nessas áreas. É preciso avaliar e repensar no investimento financeiro aportado para que não desperdiçamos tempo, esforço e dinheiro público. É preciso que nossos cursos técnicos na modalidade integrado alcance o mesmo nível que o ensino médio alcançou no ENEM, a empregabilidade dos nossos jovens.

Qual a avaliação que o senhor faz da gestão do presidente Jair Bolsonaro em relação à educação?

As políticas educacionais não são perceptíveis de imediato, o tempo é curto para avaliar resultados. Os programas do MEC estão funcionando e os projetos estão sendo executados. Mesmo diante das dificuldades financeiras enfrentadas, não se fechou nenhuma instituição federal de ensino como os falsos profetas previam. O governo mantém a educação funcionando dentro da normalidade, não tivemos greves impactantes, acredito que os modelos das escolas cívico-militares e Colégios Militares deverão ser marcas do seu governo. Sou otimista, o Brasil vai avançar.

Caso queira acrescentar algo que não tenha sido perguntado, fique à vontade.

Quero agradecer a Deus por estar à frente do IFRN, vejo esse momento como uma oportunidade para apresentar ideias, discutir soluções e contribuir para o desenvolvimento da nossa instituição. Nossa equipe está preparada e com muita vontade de trabalhar. É preciso lembrar que vamos fazer valer a constituição para resguardar o pluralismo político, respeitar o pensamento de direita, esquerda, centro e outras derivações com respeito e ponderações que deve ser uma casa de ensino. Não vamos permitir imposições e doutrinações. Respeitar a liberdade de opinião, buscar diminuir e controlar os constrangimentos que alguns passam por pensar diferente. Os pais sintam-se convidados para participar da construção e formação intelectual dos nossos jovens, no final, todos nós queremos uma sociedade empreendedora, fraterna e pacífica. O IFRN precisa se ligar à sociedade, dessa forma estamos abrindo semanalmente um canal de diálogo com os alunos e pais, já iniciei pela Cidade de Currais Novos.

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