Quarta-Feira, 24 de abril de 2024

Postado às 11h15 | 30 Ago 2020 | Redação Reitora Ludimilla Oliveira: ‘Nossa gestão será aberta ao diálogo, republicana e de paz’

Primeira mulher reitora da Universidade Federal Rural do Semiárido será empossada no cargo neste domingo para uma gestão de quatro anos. Na entrevista ao Cafezinho com César Santos, a nova reitora fala do desafio e de prioridades de sua administração

Crédito da foto: Cedida Professora doutora Ludimilla Oliveira tome posse neste domingo no cargo de reitora da Ufersa

Por César Santos/JORNAL DE FATO

A professora doutora Ludimilla Oliveira escreve a partir deste domingo, 30, uma página importante na história da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, transformada em Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Ela toma posse como a primeira mulher reitora em 53 anos da existência da instituição e passará a compor um time de personalidades que elevaram o protagonismo da mulher mossoroense, como Ana Floriano (líder do Motim das Mulheres), Celina Guimarães (primeira eleitora da América Latina), Heloisa Leão (primeira vereadora de Mossoró), Wilma de Faria (primeira governadora do RN), Rosalba Ciarlini (primeira prefeita de Mossoró e primeira mulher senadora da República pelo RN). 

Ludimilla Carvalho Serafim Oliveira é graduada em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), possui especialização em Direito Ambiental, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Rede Prodema e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pelo da Universidade Federal do RN (UFRN). Considerada uma das principais intelectuais da cidade, é ainda membro da Academia Mossoroense de Letras (AMOL), da Academia de Ciências Sociais e Jurídicas de Mossoró (ACJUS), e do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHGRN).

Ludimilla, ao lado do vice-reitor professor doutor Roberto Vieira Pordeus, comandará os destinos da Ufersa pelos próximos quatro anos. No “Cafezinho com César Santos”, a reitora garante que está preparada para o desafio, que não será fácil. A sua nomeação dividiu a comunidade acadêmica, com a esquerda universitária prometendo paralisar a Universidade. Ela, porém, afirma que estabelecerá a ordem: “Trataremos com respeito todas as pessoas e estamos abertos ao diálogo com parcimônia.”

Segue a entrevista:

Como foi o processo de escolha do seu nome pelo presidente Jair Bolsonaro? Pesou a influência política, a afinidade ideológica, já que os outros dois nomes da lista tríplice eram apoiados por partidos de esquerda?

Antes de iniciar a entrevista, quero agradecer-te pelo convite e fazer uma saudação especialdesejando saúde e paz para todos os leitores! A escolha pelo Presidente da República para a nomeação de reitores nas Universidades Federais é realizado por intermédio de uma lista tríplice. O processo de nomeação me deixou auspiciosa, pois reunimos condições técnicas que nos capacitam para assumir o cargo, isto é,  uma  construção de uma sólida carreira profissional e diplomacia política para a condução da  grandiosa missão da nossa universidade: a transformação de vidas através do conhecimento.  A universidade é um espaço de pluralidade de ideias, focado no desenvolvimento e acessibilidade do conhecimento, então, almejamos fomentar as diversas nuances da intelectualidade, com uma gestão aberta ao diálogo, republicana e de paz no ambiente universitário. Glorifico a Deus pela missão que tenho a desempenhar no cargo e confiando N’Ele, que está no comando da minha vida, iremos fazer um excelente trabalho.

 

O fato de ter sido a terceira colocada na consulta acadêmica e ser a nomeada para a Reitoria, não a incomoda de alguma forma, uma vez que a senhora não era o nome de preferência da maioria?

Deixa-me tranquila o fato da minha nomeação ser legal, legítima e moral. Os meandros políticos/ ideológicos são naturais e os respeito, todavia, não suplantam a determinação que tenho para exercer com excelência nos próximos quatro anos. Consoante a lista tríplice, importa-me esclarecer que ela não é classificatória , e sim uma escolha em que qualquer um dos nomes estavam aptos para o cargo. Não há eleições diretas na UFERSA, nem em qualquer outra Universidade  Federal no Brasil.

 

A nomeação da senhora dividiu opiniões dentro da comunidade acadêmica. A chamada esquerda universitária, que defendia outro nome, do professor doutor Rodrigo Codes para o cargo, reagiu de forma contundente, inclusive, com ameaça de paralisar a instituição. A senhora está preparada para enfrentar um ambiente que parece hostil? 

Estou sim. Ressalto, mais uma vez, que os meandros políticos/ideológicos são parte da pluralidade da universidade, porém, uma única vertente não representa toda a pluralidade presente na universidade. Trataremos com respeito todas as pessoas e estamos aberto ao diálogo com parcimônia, garantindo o compromisso com a formação de profissionais de excelência para o mundo do trabalho. Asseguro também que zelaremos com afinco pela segurança e urbanidade institucional. As manifestações são naturais. Hoje, temos diversas demandas institucionais ,e enquanto autarquia federal temos o dever com a sociedade de cumpri-las, apesar dos manifestos.

 

A senhora acredita ser possível pacificar a Ufersa. Como a senhora pretende atuar para estabelecer a união em favor de sua gestão e do bom funcionamento da própria Universidade?

A pacificação é possível e necessária, pois somos servidores públicos, isto é , temos direitos, mas há deveres para cumprirmos e mostrarmos resultados efetivos para a sociedade, não temos soberania . Os pilares da universidade são ensino, pesquisa e extensão. Portanto, manifestações de uma nuance ideológica é legitima , porém, não podem representar todas as nuances do tripé principal.

 

A senhora pretende convocar os líderes da oposição e de todos os outros segmentos para dialogar, para construir uma união em prol da Ufersa?

Sim, o espaço sempre estará aberto. As entidades de classe têm lutas legítimas e importantes.  No que concerne ao termo união , ampliarei-o para uma gestão impessoal e pautada no respeito, na valorização das pessoas, e nas mais diversas áreas do conhecimento.

 

O presidente Jair Bolsonaro deixa claro, em todas as suas falas, que não permitirá a militância político-partidária dentro das universidades e dos institutos técnicos federais, sobremaneira, a ação da esquerda. Como a sua gestão vai conduzir esse delicado processo?

Não é um processo árduo. Trata-se de objetivamente a universidade  focar na sua missão, isto é, a fomentação do conhecimento através da pluralidade de ideias. Trazendo como resultado o impacto positivo na sociedade causado pela formação com excelência. A política é extremamente necessária para a universidade , mas a falta de equilíbrio nos embates desencadeou as atuais problemáticas, desviando o foco de muitos jovens promissores, em durante sua formação acadêmica. Trabalharemos com o encorajamento de criação de mais oportunidades para os estudantes e a integração com os setores produtivos das mais diversas áreas, vislumbrando todo o potencial que o semiárido possui. É dever da  universidade cumprir seu papel social.

 

A senhora já está com o nome escrito na história da Ufersa como a primeira mulher nomeada reitora. Esse fato aumenta a responsabilidade e/ou serve de combustível para renovar a gestão na Universidade?

Ser a primeira mulher reitora em 53 anos de história ESAM-UFERSA, mossoroense , nomeada presencialmente pelo Presidente da República na minha terra, terra de mulheres aguerridas, pioneiras e determinadas aumenta a minha responsabilidade. A nossa missão é, pois,  deixar o nosso legado.

 

A mulher no cargo máximo da Ufersa será um divisor de águas da luta das mulheres para ocupar o seu protagonismo em todos os segmentos?

Atraiu-me a atenção, porque o movimento feminista não acolheu a conquista. Há sempre outras inspirações, recordo-me da Baronesa Margaret Thatcher, uma mulher que ,apesar de muitas políticas controversas, deixou o seu legado na história do Reino Unido. Thatcher era filha de comerciantes, estudou  Química na Universidade de Oxford, foi a primeira mulher a ser primeira ministra do Reino Unido, tinha fortes convicções ,profundos debates políticos ,e ainda assim, é , muitas vezes , rejeitada por movimentos feministas.  Todavia , o protagonismo feminino venceu e deu mais um passo para a história. Demarcando um momento de crescimento com a força, a coragem, a determinação, a fé e a vontade de fazer o melhor para a história da UFERSA.

 

Chamou a atenção a posição das deputadas Isolda Dantas e Natália Bonavides, ambas do PT, de acusar que a nomeação da senhora foi um “golpe”. O fato de ser mulher, e de a mulher está fazendo história na Ufersa como a primeira reitora, essa reação das parlamentares surpreende? Ou não?

É a opinião delas  e eu respeito as convicções das deputadas.

 

Quais os planos que a senhora tem para a Ufersa? O que será prioridade da sua gestão?

Todos os projetos estão dentro de um plano para fazer da UFERSA nos próximos quatros anos uma referência  para as estratégias de convivencia no semiárido,  nas suas diversas vertentes de atuação e áreas do conhecimento . Nossa prioridade será desenvolver , aprimorar e criar ações  para uma educação pautada na excelencia acadêmica para o ensino , a pesquisa e a extensão interagindo com  a sociedade por meio de ações e resultados que venham cooperar com o crescimento, desenvolvimento por meio da ciência, da tecnologia , das atividades e serviços pela Universidade realizados.

 

O que há de mais urgente para mudar na Ufersa? E o que precisa ser aprimorado?

A mudança será prioritariamente pela gestão multicampi,  itinerante,  aberta para a comunidade e em especial às famílias, assim como para os setores produtivos. Encorajaremos o fortalecimento do setor produtivo para a cooperação local, regional, nacional e internacional para o crescimento e o desenvolvimento no que concerne à ciência e tecnologia . Todo o aprimoramento irá acontecer para que todas as áreas do conhecimento na UFERSA tenham representatividade,  investimentos adequados e integração. Fomentando sempre a transparência nas ações.

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