Professora-doutora Fátima Raquel assumir a Reitoria da Uern por um ano, período de afastamento do reitor Pedro Fernandes. No "Cafezinho com César Santos", a futura reitora em exercício fala do desafio. Também aborda outros temas ligados a Uern
Fátima Raquel Rosado Morais comandará os destinos da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) a partir do dia 1º de outubro. Assumirá a Reitoria - em exercício - por um ano, em razão do licenciamento do reitor Pedro Fernandes, autorizado pelo Conselho Universitário (CONSUNI).Professora-doutora em Psicologia Social, Fátima Raquel respira a instituição de ensino superior. Ela foi chefe de Gabinete da Reitoria na primeira gestão de Pedro Fernandes (eleito em 2013) e também foi pró-reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças. Teve o trabalho reconhecido ao ser alçada ao cargo de vice-reitora na atual gestão. No “Cafezinho com César Santos”, Fátima Raquel avalia o novo desafio, considerado bem difícil, em razão da pandemia do novo coronavírus, que impactou, também, o funcionamento da instituição de ensino superior. Ela garante que está preparada para viver esse novo momento.
O Conselho Universitário da Uern autorizou, na semana passada, o licenciamento do reitor Pedro Fernandes por um prazo de até um ano. Automaticamente, a senhora passa a conduzir a universidade, na condição de reitora em exercício, no último ano desta gestão. Como a senhora avalia este momento?
Avalio como mais um desafio somado aos outros tantos que vivenciamos ao longo desta jornada enquanto gestora da Uern. Viver uma instituição pública, no contexto atual da democracia brasileira, demanda grande esforço e trabalho para manutenção da sua valorização junto à sociedade. Nesta gestão, que tenho a satisfação de compartilhar com o reitor Pedro Fernandes e equipe, atuamos sempre num formato de gestão horizontal, coletiva, por isso caminhamos tão bem. Não falamos em um, mas em todos. Isso faz a diferença num momento como esse. Precisamos mostrar, todos os dias, à sociedade o nosso trabalho, nossos resultados, nosso potencial e a nossa capacidade de contribuir com a transformação da mesma.
Pode-se afirmar que a senhora vai inserir marca própria nesses 12 meses de gestão?
A Uern, ao longo de mais de meio século, tem contribuído, com maestria, com o fortalecimento da educação do povo potiguar. O impacto social e econômico promovido pelo trabalho de todos que fazem a universidade é imensurável. Basta olharmos para qualquer área profissional em nosso estado e ver como a Uern está presente por meio da formação dos profissionais que nelas atuam. A sala de aula é um exemplo. A Uern está presente, de maneira muito forte, no corpo docente das escolas públicas e privadas do nosso estado. É ela quem forma os filhos dos trabalhadores, principalmente, no interior do Rio Grande do Norte. Neste momento, iremos encarar o compromisso com toda a responsabilidade e seriedade que é marca desta gestão.
Desde a interrupção das aulas presenciais, em 15 de março, devido à pandemia, a senhora já vinha conduzindo as ações da universidade. Quais as principais dificuldades? A universidade conseguiu os resultados esperados?
No início de março, assumimos a reitoria temporariamente, e buscamos manter o atendimento às diferentes demandas institucionais. Com o contexto da pandemia, tivemos a responsabilidade de proteger a nossa comunidade, suspendendo as atividades presenciais e definindo estratégias que mantivessem a instituição funcionando na modalidade de home office. Muitos foram os desafios que se apresentaram naquele momento de reestruturação de uma sistemática, que era prioritariamente presencial, para atividades remotas. Outro desafio foi manter algumas atividades presenciais naquele momento, pela necessidade do uso dos sistemas existentes na Uern, garantindo a segurança dos servidores que precisavam vir à instituição naquele momento. Foram muitas reorganizações e diálogos na perspectiva de acolher a comunidade em todas as suas necessidades. Para tanto, houve bastante comprometimento, e interação contínua, para que as atividades da instituição continuassem fluindo de forma eficiente e responsiva. Nessa fluidez, restava como maior dificuldade a retomada das atividades acadêmicas regulares e, mais uma vez, a partir de muitas ações estratégicas, diálogos, capacitações e ações de inclusão, conseguimos, com maturidade, implantar o retorno do calendário acadêmico de forma remota, aprovado por maioria no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE).
Houve, mesmo com o trabalho que a senhora está destacando, interrupção de atividades que comprometesse o funcionamento da instituição?
Importante destacar, César, que desde sempre nossos professores e técnicos estiveram prontos a atender todas as demandas surgidas. Tivemos um período com inúmeras ações de extensão e pesquisa, realizadas de forma remota, atingindo um público muito expressivo. A Uern não parou. E se continuamos prestando todos estes serviços foi, também, pela dedicação e compromisso que são marcas dos nossos servidores e estudantes. Criamos os caminhos para envolver a comunidade nestas decisões, e isso foi fundamental para que conseguíssemos nossos resultados. Para nós o maior aprendizado se pauta na perspectiva de que com muito diálogo e parceria somos capazes de avançar e trazer excelentes resultados para o cotidiano da instituição.
Com formação na Faculdade de Enfermagem da UERN, onde hoje atua como professora, a senhora tem uma relação mais que profissional com a unidade, não é isso? Quais as contribuições que a universidade tem dado para a melhoria da saúde no Rio Grande do Norte e como elas podem ampliar ainda mais este impacto social no estado?
Minha relação com a Faculdade de Enfermagem de Mossoró, da qual sou egressa, é de muita gratidão e compromisso. A FAEN, por muito tempo, foi a única faculdade responsável por prover profissionais da área para atuar em Mossoró e região. Além disso, com a ampliação dos cursos na área da saúde em nossa universidade (Enfermagem, também em Pau dos Ferros e Caicó; Odontologia, em Caicó, e Medicina, em Mossoró) a Uern tem sido um dos pilares na constituição e execução das políticas públicas de saúde em nosso estado. Atuamos em todas as regiões provendo atividades de ensino, pesquisa e extensão, o que tende a fomentar a reflexão de políticas e práticas em saúde para a sociedade. Consequentemente, essas ações refletem na transformação da assistência à saúde da população, qualificando o atendimento aos diferentes grupos.Como muitos colegas, sinto uma alegria imensa ao fazer parte desta história, tendo na Uern a casa onde fui estudante, retornei como docente, na mesma faculdade, e hoje tenho esta alegria de compartilhar da gestão da universidade com o professor Pedro Fernandes. A Uern se constrói assim, com muitas filhas e filhos que, em algum momento, retornam para construir a história desta instituição, retribuindo tudo que ela tem feito pela transformação de nossas vidas.
Um dos projetos que tem sua participação efetiva na área da saúde é o que presta assistência e acompanhamento a famílias de crianças que têm microcefalia. Qual a importância deste trabalho hoje para a região?
Sempre pensei em atuar em projetos de pesquisa que, para além de resultados técnicos, trouxessem retorno à sociedade. Assim, a área da saúde da mulher e da criança sempre foi foco para as investigações desenvolvidas em minhas pesquisas. Quando aconteceu a epidemia do zika vírus, a condição de agravamento nas crianças nos fez buscar estratégias para contribuir com essas crianças e famílias. Assim, surgiu o Núcleo de Atenção Materno Infantil (NAMI) que tem desenvolvido um trabalho contínuo de acolhimento e reabilitação com as crianças, e suas famílias, residentes em Mossoró e região, contando com uma equipe extremamente capacitada e voluntariosa. Para além de pesquisas que contribuem para a reflexão e reorientação das políticas para o grupo, também fazemos um trabalho de cuidar que tende a transformar a vida destas pessoas, num momento muito delicado de suas histórias. Isso é extremamente gratificante e necessário, pois entendo que nosso maior fim enquanto instituição pública de ensino é a prestação de serviço aos cidadãos potiguares. E dessa meta não desviamos em momento algum.
A Uern entra na semana que antecede seu aniversário de 52 anos realizando um congresso nacional, de forma remota. Há muito a comemorar?
Bem pontuado, César. Iniciamos a semana com o nosso I Congresso Nacional Uern - Saberes em Desafio, um projeto pensado com apoio das pró-reitorias de extensão, e de pesquisa e pós-graduação, e mais uma importante atividade comemorativa dos 52 anos da Uern. O congresso acontecerá de forma remota, com uma vasta programação de oficinas, mesas de debate, conferências, com pesquisadores de todo o Brasil. Entre tantos convidados ilustres, teremos a presença da professora e economista Tânia Bacelar, referência quando se fala em desenvolvimento regional. O congresso segue durante toda a semana e pode ser acompanhado pelo canal da Uern, no Youtube. Em nossa assembleia universitária, que também ocorrerá de forma remota, com transmissão ao vivo pela TCM e Uern TV, na segunda-feira, teremos a participação do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um dos pensadores mais respeitados da atualidade. Tudo isso torna nossa comemoração muito especial. E sim, temos muito a comemorar. Os problemas e obstáculos surgidos não nos desanimam. A Uern é um patrimônio vivo do povo potiguar e por ela há muita gente lutando. Todos os dias. E isso faz toda a diferença.
Quais são os principais desafios para este último ano de gestão?
Não perdemos de vista a nossa autonomia financeira, por entender que somente por meio dela a universidade terá condições de atingir o grau de execução de serviços que persistimos todos os dias, mas são barrados pelos entraves financeiros. O projeto está pronto, depois de muita discussão, análise, e construção com todos os segmentos da universidade. Entregamos ao Governo do Estado e, acreditamos no compromisso assumido pela governadora Fátima Bezerra. Não há valorização efetiva da história e potencial da Uern sem a aprovação da sua autonomia financeira. E não há futuro possível sem a valorização efetiva da educação pública, gratuita e de qualidade.
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