Segunda-Feira, 03 de fevereiro de 2025

Postado às 10h45 | 04 Abr 2021 | Redação Francisco Carlos: 'Há uma clara intenção de a gestão municipal omitir o Finisa da população'

Francisco Carlos tomou o “Cafezinho com César Santos”, quando fez uma avaliação criteriosa dos primeiros meses de gestão do prefeito Allyson Bezerra, apontando lentidão da nova administração na execução de obras importantes, carimbada pelo Finisa

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Vereador professor Francisco Carlos no Cafezinho com César Santos

Reeleito nas eleições 2020, com 2.297 votos (1,66% dos votos válidos), o sétimo mais votado à Câmara Municipal de Mossoró, o vereador Francisco Carlos (Progressistas) é, reconhecidamente, um dos quadros mais qualificados do Legislativo mossoroense. Está cumprindo o terceiro mandato, com atuação destacada na oposição. É com essa referência que ele entende ser possível equilibrar o debate na “Casa do Poder”, apesar de a bancada contar com apenas três dos 23 vereadores que compõem a Câmara.

Francisco Carlos tomou o “Cafezinho com César Santos”, quando fez uma avaliação criteriosa dos primeiros meses de gestão do prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade), apontando lentidão da nova administração na execução de obras importantes, carimbadas pelo Finisa.

O vereador também avalia o momento do seu grupo político, liderado pela ex-prefeita Rosalba Ciarlini (Progressistas), acreditando que nas eleições de 2022 o legado do rosalbismo deve ser colocado à disposição do eleitor.

Fechou o primeiro trimestre da nova gestão municipal. É possível fazer uma avaliação, mesmo levando em conta a tradicional “lua de mel” de 100 dias de governo?

É possível fazer uma avalição da gestão municipal, embora, seja razoável que se conceda o tempo necessário em relação a determinados compromissos de campanha, a exemplo da revitalização do rio Mossoró e a industrialização da cidade, o que supõe a instalação de várias indústrias, além da UPA dos Abolições e da unidade de saúde 24 horas na região da Maísa. A despeito disso, é possível avaliar, por exemplo, a lentidão na execução de dezenas de obras, cujos recursos o munícipio já dispõe, por meio do Finisa (Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento) e das emendas parlamentares do deputado federal Beto Rosado (PP). Registramos lentidão também na apresentação de planejamento tácito e sistematizado. Observamos a inércia em relação ao combate à Covid-19, já que o governo precisou ser cobrado até mesmo para reativar serviços que já existiam, como os leitos clínicos da UPA do bairro Belo Horizonte, o comitê científico, o centro de testagem e a vacinação aos finais de semana. A respeito dessas sugestões, enfatizamos nossa atuação colaborativa e propositiva. Apresentamos várias sugestões ao governo, algumas sendo acatadas, apesar da falta de reconhecimento. Nossas sugestões, aliás, têm sido encaradas como críticas, o que é estranho, já que, em janeiro, o prefeito reuniu todos os vereadores, declarando publicamente que queria ouvir a todos e que todos poderiam contribuir, inclusive a oposição, nas suas palavras.

 

O senhor tem cobrando com muita frequência os investimentos dos recursos do Finisa. Por quê? O senhor acha que Mossoró perde com o atraso de obras previstas na contratação do crédito?

O Finisa representa o maior volume de investimentos já realizados na cidade de Mossoró. Esse programa tem o potencial de transformar Mossoró em um canteiro de obras. O Finisa foi viabilizado pela gestão de Rosalba Ciarlini (PP), com minha defesa e voto favorável na Câmara Municipal, quando alguns foram contrários ao mesmo, recorrendo até a justiça para impedi-lo. Sua contratação, contudo, foi indispensável, em face das notórias dificuldades de os governos municipais brasileiros realizarem investimentos, sem o aporte externo de recursos. Nós estamos cobrando que a gestão municipal seja rápida na execução das obras previstas, lembrando que cada uma delas já é do conhecimento dos beneficiários. Retardar essas obras, seja intencionalmente ou por incapacidade gerencial, prejudica o acesso da população aos benefícios decorrentes. Postergar a execução dessas obras causará também a falsa sensação que a cidade já tem o suficiente, reduzindo a cobrança para que a atual gestão busque mais investimentos. .

A obra da quadra de esportes do conjunto Santa Delmira é bancada com recursos do Finisa, mas a Prefeitura colocou uma placa indicando o IPTU. Essa atitude sugere que o Finisa está sendo politizado?

Está havendo uma clara intenção da gestão municipal de executar as obras do Finisa omitindo do cidadão mossoroense a verdadeira fonte dos recursos. Várias placas sendo afixadas nas obras sem a indicação correta das fontes. A atual gestão está chegando nos bairros e dizendo algo como: “Estamos fazendo o que os outros prometeram e não fizeram”. Omitindo e mentindo sobre as verdadeiras origens das obras. Isso não é uma atitude republicana. É preciso haver transparência, com as informações sendo repassadas corretamente. A praça do Santa Delmira, a Praça da Pirâmide, as praças no Abolição I, II, III, e IV, num total de vinte praças, além do Corredor Cultural e outras centenas de obras serão reformados com recursos do Finisa. O que justifica que as placas de inauguração das obras já iniciadas omitam o Finisa e indiquem IPTU? É, claramente, uma tentativa de apropriação indevida do trabalho realizado por outros. Ser diferente politicamente inclui, também, a modificação desse tipo de postura que, aliás, é muito comum na política brasileira.

 

Outro ponto bastante polêmico diz respeito ao estado de calamidade financeira decretado pelo prefeito Allyson Bezerra, no primeiro dia do seu governo. O senhor tem dito que não existe calamidade financeira e administrativa. O senhor se baseia em quais dados?

Como pode existir calamidade financeira e administrativa no município de Mossoró se os serviços funcionavam com regularidade até dezembro de 2020 e continuam funcionando até esse momento? O município estava totalmente adimplente até o mês de dezembro e recebendo regularmente as transferências da União. Onde está a calamidade? É claro que houve uma tentativa infrutífera de transparecer uma calamidade, uma tática que briga com os fatos, motivo pelo qual encontra pouca repercussão. Além do mais, o anúncio de um débito de cerca de 850 milhões de reais, às vezes jocosamente informado como “quase um bilhão” é outra informação que briga com os fatos, pois indica débitos de longo prazo, não vencidos e que não afetarão a atual gestão. Além disso, chega considerar como dívida os créditos do Finisa. Se esse débito é tão indesejável, o município poderia rescindir o contrato com a Caixa Econômica Federal e, de cara, reduzir o débito anunciado em cerca de 100 milhões de reais ainda não executados pelo Finisa. O montante do débito considera ainda o PRÓ-TRANSPORTE e o PNAFM, que são investimentos, de cujos benefícios os munícipes estão desfrutando. Com esse discurso, como é que a gestão atual vai justificar a contratação de qualquer linha de credito junto ao Governo Federal?

A oposição na Câmara Municipal de Mossoró conta apenas com três vereadores contra uma bancada governista de 18 membros. É possível ter um debate equilibrando e uma oposição atuante diante de tal desequilíbrio numérico?

O desequilíbrio numérico não representa muita coisa quando o que está em discussão é o debate qualificado em torno de ideias e propostas para a cidade de Mossoró. O mais importante é que a oposição está representada por vereadores que têm condições de discutir Mossoró de maneira qualificada, respeitosa, sem agressões pessoais ou acusações infundadas, o que fortalece ainda mais seu discurso. Na Câmara Municipal, os vereadores de oposição estão se sobressaindo, justamente porque possuem condições de debater e porque as redes sociais e os meios de comunicação não alinhados ao governo permitem uma comunicação com os mossorenses, especialmente os mais de 100 mil eleitores que não votaram no atual prefeito.

 

A oposição em Mossoró, teoricamente, deve ser liderada pela ex-prefeita Rosalba Ciarlini, que saiu das urnas com mais de 42% dos votos. Mas, no momento, Rosalba não está exercendo essa condição. Dessa forma, é possível afirmar que a oposição está “solta”?

Essa é uma circunstância a ser superada. É comum que, nesse início de uma gestão, a oposição pareça desarticulada, principalmente se suas principais referências políticas retardarem assumir a condição que lhe foi atribuída pelos eleitores. Nesse caso, não me refiro apenas a Rosalba, mas também ao deputado Beto Rosado e a todos que se candidataram nas duas eleições passadas. Creio, contudo, que essa circunstância, pelo menos do lado do grupo da ex-prefeita Rosalba, será superada no decorrer desse ano e com a aproximação das eleições do próximo ano, quando ocorrerá um natural rearranjo das forças políticas e a renovação dos discursos e das propostas para Mossoró. Nesse espaço de tempo, Rosalba, como maior eleitora do município, deverá protagonizar a oposição ao governo municipal. Da minha parte, como vereador matriculado no Progressistas, eu entendo e assumo a condição que o processo político e os eleitores me reservaram, qual seja fazer posição responsável ao governo municipal que também é uma forma de contribuir.

Dentro do contexto político-eleitoral, como o senhor espera que o grupo da ex-prefeita Rosalba deve se posicionar em relação às eleições 2022?

O grupo liderado pela ex-prefeita Rosalba, embora tenha perdido a eleição municipal de 2020, é claramente a principal força político-eleitoral da região e, como tal, tem a obrigação de participar do pleito eleitoral defendendo seu legado. Para tanto, acredito que é necessário entender o momento, aprender com as lições que cada pleito eleitoral oferece, escutar a voz das ruas, realinhar o discurso e renovar compromissos para encontrar novos caminhos para o futuro de Mossoró e da Região Oeste. Portanto, penso que o grupo da ex-prefeita participará de maneira ativa no pleito de 2020, apresentando um ou mais candidatos à Câmara Federal e a Assembleia Legislativa e, até mesmo, podendo compor as chapas majoritárias ao governo e ao senado. É importante e necessário para Mossoró, que Beto Rosado mantenha sua cadeira na Câmara Federal, bem como que o grupo possa ocupar espaços na Assembleia Legislativa. Aqueles que fazem o Progressistas e seus aliados têm incomparável histórico de contribuições para o desenvolvimento da região e excelentes quadros técnicos e políticos, de maneira que sairá fortalecido das próximas eleições.

 

O senhor está cumprindo o terceiro mandato de vereador, vindo de três eleições vitoriosas. 2022 pode ser uma boa oportunidade para um salto maior? O senhor pretende ser candidato nas eleições do próximo ano?

Seria bastante razoável imaginar sim. Afinal, um vereador com três mandatos, obtidos em condições bastante diversas, com boa votação e se comunicando razoavelmente bem com uma parcela do eleitorado local. Além disso, tenho longa experiência na academia, no Executivo e no Legislativo, poderia construir um projeto dessa natureza, a semelhança do que já foi pensado por outros em condições menos favoráveis. Estou pronto e disponível para qualquer missão política que me seja designada. Contudo, devo reconhecer que eu não estou me articulando e nem mesmo pensando em ser candidato. Meu primeiro pensamento é o de cumprir um bom mandato na câmara municipal, apoiar os meus candidatos e continuar lecionando, fazendo pesquisa científica, lendo, escrevendo e cuidando do meu jardim, atividades que me trazem grande satisfação pessoal, sendo também aquilo que minha família espera de mim.

Mas, é possível pensar em algo mais?

Em política tudo é possível. Mas, reafirmo o que muitos percebem em mim: sou uma pessoa de grupo, sempre opto pela lealdade e o pensar coletivo. Além disso, estou satisfeito por pertencer ao grupo político do qual faço parte há muitos anos, onde tenho muitos amigos e uma longa folha de serviços prestados. Não faço política de maneira personalista e nem tenho projeto político pessoal. Portanto, embora esteja preparado para qualquer missão, declaro que dependo do meu grupo para todas e quaisquer decisão de caráter político.

 

O senhor, como professor da Uern, e político, está participando da sucessão da Reitoria da Uern?

Como eleitor apto a votar no pleito universitário, tenho discutido com alguns colegas professores que estão desenhando a nossa forma de participação no pleito. Como político, contudo, eu pretendo respeitar a universidade, de maneira que levarei as minhas posições da política partidária para dentro dos muros da universidade. Sempre agi dessa maneira e, penso, tenho essa postura reconhecida. Faço isso, apesar de perceber os notórios interesses da política partidária nos pleitos eleitorais da Uern, o que costuma resultar em intensa mobilização política dentro da universidade, orientando a definição de candidaturas e o apoio às mesmas. A universidade plural tem um fim que se justifica por si mesmo, que é a produção e transmissão do saber. Obviamente, que isso não acontece de maneira neutra em relação ao contexto político e social. Contudo, esse vetor, quando age de fora para dentro, provoca animosidades e divisões internas que enfraquecem a instituição. Por outro lado, o viés ideológico e político partidário impede que as diferentes forças internas da universidade aceitem discutir e até mesmo conviver de maneira pacífica e respeitosa com os contrários. Um verdadeiro contrassenso dentro de uma instituição plural, que produz e zela pelo saber. É imperioso que superemos essa limitação.

 

O senhor defende a continuidade do modelo de gestão da Uern liderado pelo reitor Pedro Fernandes?

Acompanho a política universitária desde quando votei a primeira vez para reitor da Uern, ainda como estudante universitário, quando votei em Gonzaga Chimbinho (Reitor no período de 1989 a 1993, falecido em 2 de março de 2013). Desde então, permaneço acompanhando os sucessivos candidatos apresentados pelo mesmo agrupamento universitário. Nas eleições deste ano, não farei diferente. Respeito e reconheço as qualidades e as boas intenções de todos os candidatos. Mas, meu voto será da professora Cicília, que está preparada para ser reitora da universidade e porque tenho estima pessoal. Acredito que a professora Cicília e o professor Francisco Dantas poderão conduzir a universidade nessa nova e crucial etapa de sua existência como instituição de ensino.

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