Na entrevista ao “Cafezinho com César Santos”, Pablo Aires fala sobre a luta pela proteção dos animais, destacando, entre outros pontos, a atuação do Instituto Ampara, mantido por ele e voluntários. Pablo também avalia os 100 dias de gestão municipal
Por Maricelio Almeida - Repórter do JORNAL DE FATO
Aos 26 anos, Pablo Aires é um dos vereadores mais jovens da atual Legislatura da Câmara Municipal de Mossoró. Eleito em 15 de novembro do ano passado com 1.857 votos com as cores do PSB, o parlamentar tem se destacado nesses primeiros meses de mandato. Defensor da causa animal, Aires faz parte da bancada independente da Casa Legislativa, ao lado de Lucas das Malhas (MDB).
Na entrevista da semana da seção “Cafezinho com César Santos”, Pablo Aires fala sobre a sua luta pela proteção dos animais, destacando, entre outros pontos, a atuação do Instituto Ampara, mantido por ele e voluntários. O vereador também comenta o episódio referente à formação das Comissões Temáticas da Câmara, quando ficou de fora dos órgãos colegiados, e ainda avalia os 100 primeiros dias da gestão Allyson Bezerra. Acompanhe.
Estamos no mês que alerta sobre a crueldade contra os animais, o Abril Laranja, e o senhor tem a bandeira de defesa dos animais como missão de vida, que vai além da política. O senhor, como ativista, como pretende que o seu mandato fortaleça a causa em Mossoró?
A expressiva votação em nossa primeira campanha eleitoral significou que nós temos uma população preocupada com os maus-tratos e abandono dos animais, além do desejo de mudança no cenário político de Mossoró. Temos um trabalho de resgate de animais há muito tempo, então, conheço e sofro com as dificuldades e a falta de políticas públicas para a causa. Agora, enquanto político, temos a missão de cobrar do poder público a atenção e a sensibilidade necessária para essa complexa causa, que também envolve a saúde pública. Acredito que o Poder Público tem o dever de assumir a responsabilidade sobre toda essa problemática, bem como também deve dar apoio às ONGS e protetores independentes que já fazem hoje, sozinhos, o trabalho que é do Poder Público.
É claro que sem vontade política os direitos dos animais continuarão sendo violados. No entanto, não é preciso que as pessoas se mobilizem mais, denunciem e cobrem políticas públicas mais aprimoradas contra a violência animal?
Com certeza. Vemos que as pessoas estão mais conscientes e preocupadas com os animais e o meio ambiente, porém ainda é preciso intensificar o trabalho de informação sobre a real situação dos animais de rua. Usamos muito as minhas redes sociais para isso: para criar essa conscientização da realidade. A causa animal não é uma causa fofinha, é muito dolorida. E por isso precisamos ainda mostrar as dificuldades que enfrentamos, mostrar para a população que os animais são seres vivos que sentem dor, medo, fome e sofrem agressão física e psicológica causada pela crueldade humana e pelo abandono do poder público.
A Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), antigo Centro de Controle de Zoonoses de Mossoró, ganhou novo espaço em 2020. Esse novo espaço cumpre os seus objetivos?
Uma visita à Unidade de Vigilância em Zoonoses já está marcada para os próximos dias. O objetivo é conhecer o que melhorou nessa unidade e o que ainda precisa melhorar. De antemão, precisamos que a unidade trabalhe no controle de zoonoses, ou seja, das doenças que podem ser transmitidas de animais para seres humanos, priorizando o controle populacional dos animais em situação de rua. Nessa semana, apresentamos na Câmara um Projeto de Lei para tornar obrigatória, por parte de clínicas e laboratórios, a comunicação à Unidade de Vigilância Zoonoses (UVZ) dos testes de Leishmaniose Visceral (Calazar). Isso permitirá que tenhamos números mais precisos da doença em nosso município.
O senhor hoje está à frente do Instituto Ampara. Fale um pouco sobre esse projeto e como ele pode ser fortalecido a partir de agora.
O Instituto Ampara é a Associação Mossoroense de Proteção Animal e Responsabilidade Ambiental, é daí que vem o nome AMPARA. Hoje a nossa Associação tem um abrigo conduzido por voluntários que contribuem para o trabalho de resgates de animais em estado grave de doenças, acidentes ou agressão, assim como o acompanhamento médico, a troca de curativos, alimentação e limpeza. São muitos os trabalhos em nosso abrigo: resgatamos, tratamos, castramos e acolhemos até que esse animal consiga ser adotado e ganhe uma família. Em janeiro desse ano, fiz a doação do meu primeiro salário para dar a entrada na compra do terreno para o abrigo e usei os salários de fevereiro e março para realizar a primeira etapa da obra com a construção das casinhas e comedouros. Mas ainda temos muito trabalho a ser realizado.
Há uma discussão antiga em Mossoró quanto à aquisição de um castramóvel pelo Poder Público municipal. Qual a posição do senhor em relação a essa necessidade?
Apoiamos e cobramos há muito tempo, pois essa aquisição é muito importante para o controle populacional de cães e gatos do nosso munícipio. É uma responsabilidade que o Poder Público precisa começar a assumir, caso contrário o nosso trabalho e o de centenas de protetores independentes nunca será suficiente. Precisamos de uma política pública continuada de castração, ou continuaremos enxugando gelo, tendo em vista que, enquanto resgatamos um animal, outros tantos se reproduzem desordenadamente nas ruas, perdendo o controle desse número.
Uma das bandeiras de luta do senhor também é a saúde. Inclusive o senhor chegou a se emocionar após uma visita ao Hospital São Camilo. Como o mandato do senhor pretende abraçar e lutar por essa causa?
A visita ao Hospital São Camilo foi uma das nossas primeiras fiscalizações, e não fazíamos ideia do que encontraríamos lá. Aquelas cenas me impactaram. Saí angustiado. Rapidamente, buscamos informações na imprensa, nas promotorias, conversamos com os deputados, falamos com a secretária de saúde, e fomos até a senadora Zenaide Maia mostrar o relatório que fizemos sobre o Hospital São Camilo. Dessa reunião, conseguimos a emenda de 250 mil reais para equipar todo o hospital com móveis e eletrodomésticos novos. A situação da mobília, incluindo camas e colchões dos pacientes são degradantes. Dando continuidade, ainda nas fiscalizações na área da saúde, visitamos UBSs, os quatro CAPSs e conseguimos mais uma emenda de 100 mil reais que será destinada para a abertura de duas salas de integração sensorial, uma reinvindicação antiga da rede de saúde mental do nosso município. O nosso mandato será sempre de fiscalização, mas também de contribuição para a melhoria da nossa cidade.
O senhor se declara independente na Câmara Municipal, onde o governo tem uma bancada esmagadora de 17 dos 23 membros da Casa. É possível equilibrar o debate em um ambiente tão desequilibrado numericamente?
Se o trabalho for a favor do povo, sim, é possível equilibrar o debate. Estamos lá para representar o povo, não represento apenas um grupo, a minha independência é para assegurar isso. Então, iremos sempre defender projetos que contribuam com a cidade, pra mim não importa se é da bancada de situação ou oposição, o que vale é se é bom ou não para o povo.
O senhor não faz parte de nenhuma das Comissões Temáticas da Câmara Municipal. Há ainda um sentimento de decepção com o processo de composição desses colegiados?
É claro que, quando as coisas não acontecem de forma transparente e séria, a gente se decepciona um pouco, contudo, não podemos ficar presos ao que já passou. O trabalho tem que seguir usando as ferramentas que temos, sempre ciente que temos que mostrar para a população tudo o que acontece, inclusive nos bastidores. Seguiremos transparentes em nosso trabalho.
A gestão Allyson Bezerra completou 100 dias. É um período curto ainda para qualquer avaliação mais profunda, mas o que senhor destacaria de pontos positivos e negativos do governo até aqui?
Realmente, é pouco tempo para uma análise mais aprofundada. A abertura do governo ao diálogo, inclusive das secretarias, é um ponto positivo da gestão até então. No tocante ao enfrentamento à pandemia e seus efeitos, avalio que a gestão municipal tem deixado muito a desejar. Isso é o que vejo e ouço, por exemplo, da classe artística e de entretenimento, que não recebe nenhuma assistência pública nesse período difícil. Essa é a realidade de vários outros setores também.
O senhor lançou recentemente um aplicativo para que a população possa acompanhar melhor o seu trabalho. Fale um pouco sobre essa novidade. É a primeira vez que um parlamentar lança um app dessa natureza?
Lançamos o aplicativo “Mandato na Mão” em comemoração aos 100 dias do nosso primeiro mandato como vereador, foi uma forma de comemorar e firmar o compromisso de um trabalho transparente e participativo. O objetivo do app é conectar cada vez mais o nosso mandato à população. A plataforma tem uma estrutura fácil e prática, e já está disponível para download nas lojas de aplicativos da Play Store e APP Store, é só busca por “Mandato na mão”. Com o nosso “mandato na mão” as pessoas poderão fiscalizar com a gente e enviar sugestões de melhorias e críticas aos serviços públicos prestados em nosso município que precisam da atenção do vereador, acompanhar as nossas indicações e projetos de leis na câmara, acessar o relatório mensal do nosso trabalho e responder enquetes sobre temas que estejam sendo discutidos na política local ou nacional.
O senhor pretende ser candidato a deputado federal em 2022? Houve alguma conversa, convite nesse sentido vindo do presidente estadual da sigla, o deputado federal Rafael Motta?
Tenho um ótimo relacionamento com o deputado Rafael Motta, mas não tratamos de nada relacionado às eleições de 2022. Fico feliz que nosso nome tenha sido lembrado para um cargo tão importante, no entanto, o momento é de me dedicar ao exercício do cargo de vereador e enfrentar as complexas problemáticas do nosso município.
Caso queira acrescentar algo que não tenha sido perguntado, fique à vontade.
Ontem comemoraremos 100 dias do nosso primeiro mandato e eu só quero agradecer a todos pela confiança e o apoio que venho recebendo até aqui. O trabalho está só começando e o nosso mandato está à disposição. Quem quiser nos acompanhar é só seguir as nossas redes sociais @pabloairesrn e baixar o nosso app “mandato na mão”.
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