Por César Santos/Colunista político do JORNAL DE FATO
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem uma rejeição do eleitor brasileiro de 60%, segundo a pesquisa XP. Logo, seu teto é de 40%. A sondagem divulgada na semana passada diz que o presidente perderia para o ex-presidente Lula (PT) no primeiro e segundo turno, e também seria superado por todos os outros adversários, exceto João Doria (PSDB), com quem empataria.
Portanto, se as eleições fossem hoje, conforme a XP, Bolsonaro estaria fora do páreo, porque nenhum candidato com poder de voto batendo no teto de 40% consegue vencer no segundo turno. Lógica dos números frios.
Como pesquisa é o retrato do momento, não convém afirmar que o atual inquilino do Palácio do Planalto está liquidado. A história conta que a caneta palaciana faz “milagres”. Bolsonaro, assim como antecessores, sabe gastar tinta. E vai gastar tinta.
O jornalista Carlos Brickmann conta uma dessas histórias em que um presidente estava “sangrando” até o ano do voto, quando reverteu com uma série de medidas populares, e foi justamente Lula, o principal adversário de Bolsonaro:
“No auge das revelações do Mensalão, Lula em baixa, estava tudo pronto para o impeachment. Mas a decisão das oposições foi deixá-lo sangrando no poder para batê-lo pelo voto. Ele tinha a caneta. Recuperou-se e venceu.”
No Rio Grande do Norte, o exemplo mais clássico ocorreu em 1998. O então governador Garibaldi Filho (MDB) fazia uma gestão sofrível e com reprovação acima dos 60 pontos. Garibaldi sequer tinha disposição, ou ambiente, para visitar o interior potiguar. Foi aí que surgiu a venda da Cosern e com os milhões de reais apurados Garibaldi distribuiu obras e programas aos quatro cantos do estado. O resultado todos lembram: Garibaldi foi reeleito ainda no primeiro turno, superando o principal nome da oposição, então senador da República José Agripino Maia (DEM).
Para ilustrar ainda melhor a tese de que o humor do eleitor, aqui e alhueres, muda no piscar de olhos, Brinckmann conta uma história do passado:
“Em agosto de 1954, a multidão que ocupava o Rio exigia a deposição do presidente Getúlio Vargas. Os heróis do país eram de oposição: Carlos Lacerda, o brigadeiro João Adil de Oliveira (que chefiou o Inquérito Policial-Militar, IPM, que mostrou aquilo que o próprio Getúlio chamou de “mar de lama”), o brigadeiro Eduardo Gomes, maior nome da Aeronáutica, o major Rubens Vaz, morto num atentado de getulistas contra Carlos Lacerda.
Na madrugada de 24 de agosto, Getúlio se matou. De manhã, a multidão tinha virado getulista, queria escalpelar os oposicionistas, atacou as oficinas de O Globo e da Tribuna da Imprensa. E motivou a frase clássica do brigadeiro Eduardo Gomes, quando o motorista perguntou se queria sair rápido dali: “Não tão rápido que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação”. O humor do eleitorado é menos constante do que os políticos desejam.”
Portanto, se eleições fossem hoje, Bolsonaro estava fora do páreo. Como as eleições ocorrem só daqui a 16 meses, não convém apertar a tecla do futuro.
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