Nesta semana, dezenas de funcionários da Itagres protestaram em frente à Prefeitura de Mossoró contra a decisão do prefeito Allyson Bezerra de tirar a empresa do Distrito Industrial. Os trabalhadores, a maioria pais de famílias, querem o emprego
Nesta semana, dezenas de funcionários da Itagres Porcellanatti protestaram em frente à Prefeitura de Mossoró contra a decisão do prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) de tirar a empresa do Distrito Industrial de Mossoró. Os trabalhadores, a maioria pais de família, exigiram o direito ao emprego.
Para debater o assunto, que ganhou dimensão nos últimos dias, o Cafezinho com César Santos recebeu Marcelo Marcon, gerente de indústria da TB Itagres Norte e Sul, e o sindicalista Cícero Luiz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cerâmica do RN.
A entrevista é bem esclarecedora e traz o ponto de vista de cada um sobre a resistência da Prefeitura à retomada da produção da Itagres no Distrito Industrial.
Vamos direto ao ponto que interessa: a Itagres, dessa vez, retomará a produção no Distrito Industrial de Mossoró?
Marcelo Marcon - Com certeza. Nós estamos praticamente há dois meses dentro da unidade, intensificando os trabalhos, recuperando os equipamentos. Nosso investimento para a retomada é de 10 milhões de reais, abrangendo principalmente a manutenção, troca de peças e recuperação de todas as máquinas. É um processo bem complexo porque a fábrica, como ela ficou bastante tempo parada, principalmente a parte elétrica e eletrônica, quando volta a ligar os equipamentos acabam apresentando, digamos assim, muitas surpresas. Muitas vezes temos que buscar peça em outros estados, como São Paulo, por exemplo, ou até mesmo recorrer a importação em outros país, no sentido de termos as condições para recompor e recuperar as máquinas.
Mas, vou reforçar a pergunta: Mossoró pode acreditar que desta vez a Itagres volta a produzir?
Marcelo Marcon - Nosso trabalho está bastante avançado, a fábrica está praticamente pronta, falta alguns detalhes. Então, posso garantir com toda a certeza, posso assegurar que nos próximos dias a empresa estará pronta para retomar a nossa produção. Mossoró pode acreditar.
É possível, nesse momento, ter uma data exata da retomada da produção?
Marcelo Marcon – Tem alguns detalhes que precisamos definir e estão bem encaminhados. Um deles é com relação ao fornecimento de gás. Nos próximos dias a nossa presidência terá reunião com a empresa fornecedora (Potigás) para definir o assunto. Mas em termos de fábrica, de unidade, ela está praticamente pronta. Se nós já tivéssemos o gás, já poderíamos está aquecendo o forno para começar a produzir.
O decreto do prefeito Allyson Bezerra revertendo o imóvel em favor do município surpreendeu a empresa?
Marcelo Marcon - De certa forma sim, porque não esperávamos. Muito pelo contrário, a empresa esperava o apoio, mas, se não tem o apoio, pelo menos que nos deixe trabalhar. É estranho, vamos dizer assim, uma empresa que está investindo para produzir, gerar emprego e renda, não ter apoio da gestão pública. O normal é que as autoridades políticas trabalhem no sentido de incentivar o emprego, a renda, a economia, e nunca o contrário. Então, a empresa recebeu com surpresa essa decisão da Prefeitura.
Vamos falar agora com Cícero Luiz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cerâmica do RN. Como a entidade vai se posicionar em relação a esse movimento contra a reabertura de fábrica Itagres de Mossoró?
Cícero Luiz - Primeiro, nós vemos com temeridade. Estamos muito preocupados e, ao mesmo tempo, frustrados com essa posição da Prefeitura de Mossoró. Não se trata de uma decisão viável. Sabemos que durante sete anos essa empresa vem lutando para se reerguer no Distrito Industrial de Mossoró. Ela precisa voltar a funcionar, nós defendemos isso, porque representa mais emprego para a nossa categoria. Então, na hora que a Itagres está praticamente pronta para voltar a produzir, vem uma decisão dessa. Estamos aqui, na cidade, para dar cobertura total aos nossos trabalhadores.
O que o sindicato pretende fazer para defender os trabalhadores diante da possibilidade de fechamento dos postos de trabalho?
Cícero Luiz - Nós estamos aqui para defender o emprego, defender o trabalhador. Conversei com os funcionários da Itagres. Estão todos confiantes, empenhados, vestindo a camisa da empresa. Eles estão felizes pelo emprego, mas, por outro lado, tristes com essa ameaça de voltar para o desemprego. O prefeito de Mossoró tem que rever a sua posição, esse é apelo que o nosso sindicato faz. A empresa já investiu 10 milhões de reais, como disse o Marcelo Marcon, já tem 130 empregos diretos e muitos outros indiretos, e mais postos de trabalhos serão abertos quando a produção for retomada, e isso não pode simplesmente acabar dessa forma.
O senhor acha que o prefeito Allyson vai atender o apelo do sindicato?
Cícero Luiz - Mossoró tem uma carência de emprego, assim como acontece no Brasil. Então, o prefeito não pode tirar a esperança dos trabalhadores, não pode provocar o desemprego de pais de família. Ele precisa pensar nas pessoas, nos trabalhadores, tem a responsabilidade como gestor público. A geração de emprego é dever do poder público, e não tirar o sustento de quem está trabalhando.
A direção da Itagres credita essa decisão do prefeito Allyson a quais motivos?
Marcelo Marcon - É difícil entender o porquê de uma decisão dessa, embora entendemos que a nossa empresa está há algum tempo parada. No entanto, justamente na hora da mobilização para a retomada da produção, com alto investimento feito, vem uma decisão contrária a isso. É preciso afirmar, para que a sociedade tome conhecimento, que a empresa está funcionando efetivamente. Estamos trabalhando há dois meses, temos funcionários, prestadores de serviços contratados, então, não há dúvida que voltaremos a produzir. É difícil entender a posição de uma decisão para impedir a retomada de atividades de uma empresa.
No decreto, que reverte o terreno onde está instalada a Itagres, o prefeito alega que a empresa não está cumprindo a função pela qual o município concedeu a área. Essa explicação não é convincente?
Marcelo Marcon - Realmente, existe um documento que obriga a empresa, dentre outras coisas, a manter os empregos. Houve a paralisação da produção em 2014, como todos sabem, mas não foi por vontade própria e, sim, pela conjuntura econômica da época. Mas, é estranho que no momento da retomada das atividades, a Prefeitura tomar uma decisão dessa. É preciso ser dito que a gente não está prometendo ligar a empresa, a empresa, na verdade, já está aberta, está funcionando todos os dias, os funcionários estão contentes, felizes, confiantes que a produção será retomada nos próximos dias. Cada equipamento que a gente consegue colocar em funcionamento, as pessoas vibram, vibram muito. A fábrica está praticamente toda religada, toda pronta. A gente gostaria que as autoridades entendessem isso, que o prefeito entendesse isso. Gostaríamos do voto de confiança e, se tem descrédito, isso ficou no passado. E quem quiser comprovar isso, basta nos fazer uma visita.
A Itagres produziu muito pouco em Mossoró, acumulou dívidas, deixou de cumprir compromissos importantes. Por gravidade, perdeu o crédito. Como a empresa está trabalhando para resgatar o crédito?
Marcelo Marcon - A empresa chegou em 2004 em Mossoró e teve uma produção de um curto tempo, foi até 2014, faz sete anos que ela não produz. Há um problema de crédito da empresa nesse mercado, é verdade, mas a Itagres tem um pilar muito forte, o grupo como um todo tem um pilar muito forte, principalmente do Sul, sustentado exatamente pela qualidade dos produtos. Isso é percebível pelos nossos clientes. A empresa tem credibilidade pela qualidade dos produtos que faz. Essa credibilidade a gente tem, que é um dos principais pilares, vai estabelecer a atuação da Itagres no mercado local e regional.
O sindicato, que já está envolvido na questão entre Itagres e Prefeitura de Mossoró, pode seguir o caminho da Justiça para resguardar direitos dos funcionários?
Cícero Luiz – Nós estamos atentos a tudo que está acontecendo. É bom revelar que no passado a Itagres cumpriu 70% dos direitos sociais dos funcionários. Os outros 30%, a empresa garante que vai cumprir. Essa é a intenção da empresa, justamente de honrar com todos os compromissos, conforme tem nos passado.
O Governo do RN tem dado apoio à Itagres para a retomada da produção em Mossoró?
Marcelo Marcon – O governo nos apoia, mas nós somos cientes de que temos que andar com as nossas pernas e é o que estamos fazendo. Não esperamos nada do meio político, queremos apenas que nos deixem trabalhar, que nos deixem fazer nosso dever de casa. Mas, posso afirmar, o Governo do Estado tem nos apoiado nessa retomada.
A Itagres, de certa forma, tornou-se antipática para boa parte da sociedade, muito provavelmente porque não conseguiu se comunicar, não se apresentou à cidade. Onde foi que a empresa falhou? E de que forma pode ser corrigido?
Marcelo Marcon – Precisamos nos inserir mais na vida da cidade, isso é verdade. Poderia ter feito isso lá atrás. Mas, o importante é que hoje estamos de portas abertas. As pessoas, os profissionais, estão lá dentro, trabalhando. Temos mais de 100 funcionários e tantos outros empregos indiretos. Essas pessoas que tão lá dentro, essas famílias que estão lá dentro, relatam muito essa confiança e isso pode ser passado para a sociedade. É bom a gente falar que mais de 50% dos funcionários que estão trabalhando fizeram parte da nossa equipe passada, que chamamos de volta. Eles foram convidados, aceitaram voltar, vestiram a camisa da empresa e estão trabalhando para essa retomada. Então, temos um grupo que acredita no sucesso e a cidade de Mossoró precisa saber disso. De certa forma, mostramos isso na manifestação que os funcionários realizaram na Prefeitura, serviu para a sociedade vê que estamos abertos, que a Itagres está trabalhando para retomar a produção, gerar emprego e renda aos mossoroenses.
Por que, então, a Itagres não tem o voto de confiança da gestão municipal?
Marcelo Marcon - A empresa se sustenta com números, com rentabilidade, mas a gente quer fazer a empresa crescer junto com a cidade, região e estado. Não queremos medir força com nenhum órgão político, com nenhuma autoridade, muito pelo contrário, a gente só gostaria de ter o voto de confiança. Queremos que nos deixem trabalhar, não estamos querendo medir força, não estamos querendo desafiar ninguém, muito pelo contrário, a gente simplesmente quer ligar nossa fábrica, quer produzir, quer gerar emprego e quer se desenvolver aqui dentro da região juntamente com a sociedade, é isso que a gente pretende.
O senhor pode revelar, de forma efetiva, os números do investimento que está sendo feito na fábrica de Mossoró?
Marcelo Marcon – A empresa está batendo na casa dos 10 milhões de reais de investimento. Com a inserção de matérias-primas pra iniciar o processo de produção, facilmente esse investimento vai chegar aí na casa de 16 milhões de reais. É um número considerável, é um valor considerável e a empresa não estaria fazendo isso se nós não tivéssemos total certeza do plano que a gente desenvolveu para a retomada da produção. Tivemos problema no passado? Tivemos, mas agora é a hora que a gente tem a oportunidade para corrigir isso. Estamos acreditando e precisamos que as autoridades acreditem também, que nos deixem trabalhar. Nós vamos fazer a diferença com a retomada da produção, pode ter certeza.
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