Especialista chama a atenção para o fato de que além de cada estatística policial, há “um custo silencioso, invisível à maioria da população, mas, profundamente corrosivo para a economia nacional”. A violência custa ao Brasil cerca de 11% do PIB
Por Fábio Vale - Jornal de Fato
“Quanto custa a violência ao Brasil?”. Esse foi o questionamento que o contador e professor universitário André Charone, que também é Mestre em Negócios Internacionais, buscou responder em um recente artigo publicado por ele. No material, o estudioso chama a atenção para o que ele chama de “rombo silencioso” e aponta, atribuindo dados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o gasto de R$ 1 trilhão por ano.
Para André Charone, quando se fala em violência no Brasil, o foco costuma estar nos números de homicídios, assaltos e crimes patrimoniais. Mas ele chama a atenção para o fato de que além de cada estatística policial, há também “um custo silencioso, invisível à maioria da população, mas, profundamente corrosivo para a economia nacional”.
O estudioso destaca que a violência custa ao Brasil cerca de 11% do PIB, ou seja, mais de R$ 1 trilhão por ano, aponta ele, atribuindo dados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e estimativas de impacto econômico. “É quase como se o país perdesse um Estado de Minas Gerais inteiro em valor econômico, anualmente, apenas tentando lidar com os efeitos diretos e indiretos da criminalidade”, ressalta o especialista.
“Estamos falando de um dos maiores custos estruturais do Brasil. A violência compromete investimentos, afasta o turismo, pressiona os gastos públicos e impõe um custo altíssimo às empresas e famílias. É uma sangria constante que trava o desenvolvimento econômico”, analisa ele, que também é consultor financeiro e autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.
Material de especialista afirma que a conta não fecha
O material de André Charone, “Quanto custa a violência ao Brasil? O rombo silencioso de R$ 1 trilhão por ano”, publicado nesta sexta-feira (11), no site osul.com.br, pontua que, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 46.328 mortes violentas intencionais em 2023, o menor número desde 2011, mas ainda alarmante.
“Isso equivale a 22,8 homicídios a cada 100 mil habitantes, uma taxa ainda elevada para padrões internacionais. A cada assassinato, não é apenas uma vida que se perde. Segundo estimativas do Ipea – Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada, cada morte custa em média R$ 1 milhão aos cofres públicos; considerando gastos com sistema de saúde, previdência, segurança, processos judiciais e perda de produtividade. O total anual ultrapassa R$ 46 bilhões apenas com homicídios”, detalha o texto, acrescentando que “isso é apenas a ponta do iceberg”.
“Quando uma cidade enfrenta altos índices de violência, há desvalorização imobiliária, evasão escolar, retração do comércio e perda de produtividade nas empresas. Esse impacto indireto é ainda mais difícil de mensurar e mais profundo”, explica Charone. O material traz ainda que só em 2023, os governos federal, estaduais e municipais desembolsaram R$ 124,8 bilhões em segurança pública, com os estados sendo responsáveis por mais de R$ 101 bilhões desse total.
“O número representa um crescimento em relação à década passada, mas ainda está longe de garantir uma sensação efetiva de segurança para a população. Esse gasto, porém, não abrange outros custos associados, como os da justiça criminal, sistema penitenciário e saúde pública. O SUS, por exemplo, gastou R$ 41 milhões em 2022 apenas com internações por ferimentos causados por armas de fogo, um número que não inclui atendimentos ambulatoriais, cirurgias de emergência, reabilitação e os custos psicológicos para vítimas e familiares”, frisa o material.
Violência também tem impacto no setor privado
A violência também é um peso para o setor produtivo. A afirmação também é do material de André Charone, disponibilizado ontem no site osul.com.br. O texto diz que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), empresas gastam, em média, 1,7% do PIB com segurança privada, o que representa aproximadamente R$ 170 bilhões por ano.
“São recursos que poderiam estar sendo investidos em inovação, expansão ou geração de empregos”, observa o material. “Já vi empresas abandonarem regiões inteiras por conta da criminalidade. Isso afeta empregos, renda e arrecadação. A violência distorce decisões empresariais e amplia ainda mais a desigualdade regional”, relata André Charone, que atua como consultor financeiro de negócios em todo o país.
O texto enfatiza que, além disso, empreendimentos localizados em áreas violentas sofrem com queda no fluxo de clientes, aumento do custo do seguro e rotatividade de funcionários. “A insegurança virou um fator econômico que pesa no balanço das empresas”, completa o estudioso na análise, que traz ainda pontos sobre o custo da violência para o futuro e que assevera que a violência não é apenas um problema do presente, pois ela compromete o futuro.
“A violência afeta a educação, a empregabilidade e a mobilidade social. Ela é, ao mesmo tempo, causa e consequência da desigualdade. E qualquer país que queira crescer precisa enfrentar esse ciclo com seriedade”, afirma Charone, que defende que, embora o cenário pareça desanimador, há exemplos de que políticas públicas bem coordenadas podem fazer diferença. O material pondera que é possível reduzir drasticamente índices de criminalidade com estratégias que integram segurança, urbanismo, educação e uso de tecnologia.
RN enfrentou série de ataques atribuídos a uma facção criminosa
“O avanço do crime organizado no Brasil tem se manifestado de forma preocupante e expandido sua atuação em regiões que há alguns anos não estavam sob o poderio desses grupos”. A afirmação é de um material publicado nesta sexta-feira (11) pelo site de notícias natalemfoco.com.br, ao reportar no texto que relatórios recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e de outras entidades de pesquisa destacam a ocupação territorial por organizações criminosas e os desafios enfrentados em diversos estados do Nordeste.
Segundo o material do portal potiguar, nesses territórios, o crime organizado tem assumido o controle de comunidades inteiras e interferido diretamente na economia, no funcionamento do setor público e no sistema político. “A presença de facções criminosas afeta a segurança pública, impõe restrições à circulação de bens e serviços, desafia a autoridade estatal, já que seus membros impõem suas próprias regras e exploram atividades ilícitas”, analisa trecho do texto.
O material diz que, de acordo com o estudo Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2024, o combate a essas organizações exige uma abordagem multifacetada, indo além das ações policiais tradicionais. O texto do site sediado na capital do RN traz falas sobre o assunto atribuídas ao advogado, diretor de Relações Institucionais da Comissão Nacional de Direito Militar da Associação Brasileira de Advogados (ABA) e da Federação Nacional de Entidades Representativas de Praças (ANASPRA), Jeoás Nascimento dos Santos.
“A expansão do crime organizado no Brasil representa uma ameaça significativa à Segurança Pública e à soberania nacional. A ocupação de territórios por essas organizações compromete o desenvolvimento social e econômico, especialmente em regiões vulneráveis e que não tenham uma presença forte do Estado”, afirma ele.
Material pontua que Brasil conta com 88 organizações criminosas
O material traz que um relatório da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, contabilizou que o Brasil conta, atualmente, com 88 organizações criminosas identificadas e catalogadas. Entre elas, 91% possuem poder financeiro independente e 98% estão presentes em unidades prisionais.
“As facções criminosas mais relevantes no cenário nacional incluem: Primeiro Comando da Capital (PCC) que atua em 24 estados e no Distrito Federal, o Comando Vermelho (CV), com uma presença um pouco menor que a do PCC, a Família do Norte (FDN) que tem grande influência na região Norte, especialmente no Amazonas; o Terceiro Comando Puro (TCP) com presença no Rio de Janeiro e em alguns outros estados brasileiros; e, inúmeras milícias compostas por militares ou ex-militares”, observa o texto.
O material traz ainda que o Nordeste é a região com maior concentração das chamadas ORCRIMs (organizações criminosas), com 46 delas na região, sendo 21 com atuação na Bahia, “considerado o estado mais violento do Brasil com indicadores alarmantes de violência, sendo o segundo com uma taxa de 46,5 homicídios por 100 mil habitantes. Além disso, seis das dez cidades mais violentas do país estão na Bahia”, acrescenta o texto.
Ainda conforme o material, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, a piora dos indicadores no Nordeste provocou uma mudança na geopolítica da criminalidade com um “top 3” dos estados mais violentos do Brasil formado por estados nordestinos: Bahia, Pernambuco e Ceará. “O número de homicídios nesses estados foi maior do que o de locais mais populosos, como São Paulo, Rio e Minas Gerais”, ressalta.
Texto diz que número de homicídios está relacionado à atuação das organizações
“O número de homicídios está diretamente relacionado à atuação das orcrims”. É outro ponto reforçado pelo material intitulado “Expansão do crime organizado no Nordeste: ocupação territorial e impactos sociais”, publicado ontem no site de notícias com sede em Natal. O texto observa que a Bahia sofre com o aumento da presença de facções criminosas que disputam territórios e impõem seu controle sobre comunidades inteiras.
“Entre as principais organizações atuantes na Bahia estão: Bonde do Maluco (BDM), considerada a principal facção local, fortemente envolvida no tráfico de drogas e extorsão; o Comando Vermelho que nos últimos anos tem expandido sua atuação no estado, o Primeiro Comando da Capital que atua em algumas regiões estratégicas da Bahia; e a Katiara, grupo criminoso regional com grande influência”, explica Jeoás Santos.
O material ressalta que nos dois outros estados, Pernambuco e Ceará, a atuação de facções locais têm forte influência tanto do PCC como do Comando Vermelho e vem aumentando território e são conhecidas pela violência usada para aniquilar seus inimigos e disputa no controle do tráfico de drogas e de armas de fogo. Em Pernambuco temos Comando Litoral do Sul e no Ceará a Guardiões do Estado (GDE) e Massa Carcerária (também conhecida como Neutros, Tudo Neutro e TDN).
“Essas facções de atuação local vem impondo suas regras nas comunidades que atuam com a imposição de uma lei de silêncio entre moradores, participação de membros na polícia, resgate de presos, ataques a empresas de internet com o objetivo de forçar as operadoras a repassarem à facção parte da mensalidade paga pelos clientes, entre outros crimes”, complementa o texto, lembrando que o Rio Grande do Norte enfrentou, em 2023, uma série de atentados atribuídos à facção criminosa Sindicato do Crime ou Sindicato do RN (SDC), que resultaram em ataques a prédios públicos, veículos e estabelecimentos comerciais, eventos que evidenciaram a capacidade de mobilização e o crescimento dessa organização regionalmente.
Medidas
“A redução dos índices no RN é um esforço da política de segurança e das instituições. Mas somente é suficiente para manter esses números se não houver uma articulação nacional e mudança na legislação reconhecendo que estamos vivendo uma guerra interna com vítimas inocentes, seja em relação ao número alarmante de homicídios, seja em relação a oportunidades para os jovens e crescimento do país”, explica o advogado Jeoás Santos, que defende a adoção de políticas públicas integradas com investimentos em inteligência policial e tecnologia, fortalecimento das instituições de segurança e do sistema penitenciário, além de ações de combate à corrupção dentro das forças de segurança e das instituições de governo, políticas públicas de inclusão social e desenvolvimento econômico.
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