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Postado às 11h15 | 18 Ago 2019 | Redação “Sangue e morte em Alcaçuz”: livro de policial militar revela bastidores da Alcaçuz

Crédito da foto: Reprodução Penitenciária Alcaçuz vive o inferno com rebelião que deixou 26 mortes

Por Fábio Vale/JORNAL DE FATO

“As facções criminosas brasileiras são organizações criminosas dotadas de estatuto e ideologia do crime, que tem como foco principal o domínio das atividades ilícitas dentro e fora do sistema prisional, mediante controle de território, impondo suas regras.” A afirmação consta na introdução do livro “As Facções Criminosas do RN – Sangue e Morte em Alcaçuz”.

Autor da obra, o policial militar com atuação no Choque e no Bope do Rio Grande do Norte CS Barbosa disse que decidiu escrever o livro após observar que diversas autoridades, como policiais, advogados, promotores e juízes, demonstraram não ter um conhecimento mais aprofundado sobre a atuação de facções criminosas.

“Faltava base para falar de facção criminosa, principalmente no meio de agentes de segurança pública’, observou, contando que levou dois anos e meio para escrever a publicação e que esse processo começou antes mesmo de acontecer o massacre no presídio de Alcaçuz, na região da Grande Natal, em janeiro de 2017, que deixou ao menos 26 presos mortos.

O PM Barbosa relatou que para poder escrever o livro, estudou outras obras que também tratavam sobre facções criminosas, como “A História Secreta do Comando Vermelho” e “Laços de Sangue”. Além disso, ele diz ter estudado muito matérias de assuntos ligados a facções criminosas e as principais investigações do Ministério Público sobre esse tipo de organização, como as operações “Alcatraz” e “Alcatéia” deflagradas no estado.

“Ouvi também agentes penitenciários e policiais militares, além de conhecimentos próprios da minha experiência policial”, detalhou, fazendo a ressalva de que escrever sobre facções criminosas é um desafio, por serem organizações delituosas com dinâmicas peculiares.

 

Publicação assevera que disputa entre facções é responsável por aumento de homicídios

A obra, que registra a existência de mais de 80 facções criminosas no país, apresenta também as origens das principais organizações criminosas presentes no estado e assevera que a disputa entre as facções também é responsável pelo grande aumento de homicídios no estado de 2015 para cá.

“Realmente, as mortes têm ligação com o tráfico, mas o real motivo é a guerra por território pelas facções criminosas. Quanto mais território, mais drogas serão vendidas pelas facções”, frisa trecho introdutório do livro, que apresenta um histórico do Primeiro Comando de Natal (PCN) e outras facções de pequeno porte.

A obra traz também capítulos sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) no RN, o estatuto, o dicionário disciplinar e até a cartilha de conscientização do PCC; além de falar sobre o processo de “batismo” de novos integrantes e ainda sobre a origem da facção Sindicato do Crime no RN, seu estatuto e estrutura.

Outros capítulos do livro abordam sobre a guerra entre as facções, a atuação do PCC em Caraúbas e em presídio de Caicó; e sobre os chamados “salves”, ordens de ataques dadas por facções no estado nos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018. A publicação finaliza com partes sobre o massacre de Alcaçuz e sobre como combater as facções.

 

‘Existem muitos mitos sobre batismos em facções’, revela escritor

“Eu, por exemplo, observava que existiam muitos mitos quanto ao batismo de integrantes de facções criminosas. Alguns pensavam que tinha batismo de sangue, que para ser batizado tinha que matar um policial. E não é bem assim.” As revelações foram feitas pelo autor do livro “As Facções Criminosas do RN – Sangue e Morte em Alcaçuz”.

O policial militar CS Barbosa contou que existem alguns perfis. “O PCC tem que ter um criminoso para dar uma referência daquele que vai ser batizado, dizer o passado dele no mundo do crime. Aí ele vai ser entrevistado com uma pessoa responsável por fazer o batismo e várias lideranças vão estar participando”, detalhou.

O PM, que é bacharel em Direito e já atuou no Choque e no Bope, contou que essa participação acontece até por videoconferência, pelo celular; e inclui até questionamentos sobre crimes que já tenham sido praticados pelo membro em potencial. Segundo ele, a prática é adotada de forma semelhante por outras facções e o livro relata isso com o objetivo de esclarecer os mitos e mostrar que ‘o Estado acompanhou a evolução das facções sem intervir’.

Ele lembra que o Estado só reconheceu a presença de facções nos últimos anos, após operações deflagradas pelo Ministério Público que constataram a atuação desse tipo de organização.

SERVIÇO

O livro “As Facções Criminosas do RN – Sangue e Morte em Alcaçuz” pode ser adquirido em Natal, na banca do Atheneu, no bairro Petrópolis; na cooperativa cultural da UFRN; na revistaria cultural do Nordestão da zona Sul; no Sebo Vermelho; na Dominus Militaria; e na revistaria cultural do Nordestão de Lagoa Nova e todas unidades da Câmara Cascudo. Também pode ser adquirido na internet nos sites da Amazon e da Livraria Saraiva.

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