Por Fábio Vale/Repórter do JORNAL DE FATO
Já imaginou uma mulher ser assassinada no Brasil a cada duas horas? Foi isso o que aconteceu durante o ano de 2018 no país, segundo o Atlas da Violência 2020 divulgado nesta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que produziu a publicação junto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Nesta reta final da campanha “Agosto Lilás”, de combate à violência contra a mulher, o levantamento nacional mostra que quase mil mulheres foram assassinadas no Rio Grande do Norte entre 2008 e 2018. De acordo com o Atlas da Violência 2020, no primeiro ano pesquisado foram registrados 59 homicídios de mulheres no estado e outros 57 no ano seguinte. Em 2010, esse número passou para 71, e 76 em 2011.
Já em 2012, houve uma redução para 64 casos, contra 89 em 2013. O levantamento da publicação nacional dá conta ainda de 102 mulheres assassinadas no território potiguar no ano de 2014; 92 em 2015; 100 em 2016; 148 em 2017; e 102 em 2018, totalizando 960. O comparativo aponta um aumento de praticamente 73% no número de homicídios de mulheres no RN de 2008 para 2018.
O estado figura com a sexta maior variação do país. E a violência letal contra vítimas do sexo feminino também tem cor, assim como contra os homens. O Atlas da Violência 2020 detalha que em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. O estudo assevera que a diferença fica ainda mais explícita em estados como Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. E os números provam isso. De 2008 para 2018, das quase mil mulheres mortas, 729 eram negras.
O quantitativo passou de 48 vítimas dessa etnia no primeiro ano mapeado para o pico de 129 em 2017. Com isso, a quantidade de mulheres negras mortas no RN cresceu 77% neste período de dez anos.
RN registra durante pandemia 584 casos de lesão corporal, 686 ameaças, 90 estupros e 19 assassinatos de mulheres
Os números da violência contra a mulher durante os três primeiros meses do período de pandemia da covid-19 no Rio Grande do Norte não são nada animadores. Muito pelo contrário. Os dados das três publicações Violência Doméstica Durante a Pandemia, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram um cenário preocupante.
Segundo o estudo em série, levantado de março a maio deste ano, foram 584 registros de lesão corporal dolosa contra mulheres no RN, contra 635 no mesmo período do ano passado. A pesquisa dá conta também de 686 ameaças, contra 619 em 2019; além de 90 estupros neste ano, contra 50 no ano passado. O mapeamento também trouxe estatísticas de crimes letais, dando conta de 19 homicídios de mulheres em geral em 2020, contra 16 em 2019; e cinco feminicídios, contra mesmo número no ano passado.
A publicação Violência Doméstica Durante a Pandemia, datada de abril deste ano, mostra que no Rio Grande do Norte os feminicídios, que são assassinatos de mulheres por violência doméstica e/ou de gênero, cresceram 300% no começo deste surto da covid-19. O número passou de um caso em março do ano passado para quatro no mesmo período deste ano.
O estudo apontou que embora o isolamento social seja a principal medida contra a transmissão do novo coronavírus, esse distanciamento trouxe consequências também para as mulheres no que se refere à violência doméstica, pois, as vítimas são levadas a manter ainda mais contato com o possível agressor.
O levantamento aponta que o RN registrou assassinatos de mulheres tanto por motivações diversas quanto pela violência doméstica e/ou de gênero em si, além de demais ocorrências de violência de gênero. “Em março de 2020, o aumento foi de 34% em relação ao mesmo mês de 2019 e de 72% em relação a 2018, mas é importante destacar que o decreto que impôs a quarentena no Estado é de 1 de abril”, frisou trecho do estudo.
A publicação registra que o RN apresentou neste período aumento de todos os tipos de violência contra a mulher. Lesão corporal dolosa cresceu 34%, passando de 287 casos em março de 2019 para 385 no mesmo mês de 2020. Ocorrências envolvendo ameaça aumentou 54% no estado, passando de 221 casos para 341. Crimes de estupro cresceram 100%, saltando de 20 registros em março do ano passado para 40 em março deste ano.
O estudo chamou atenção para o fato de que assassinatos de mulheres por motivos variados se mantiveram estáveis, com sete casos em ambos os períodos mapeados. A segunda parte da pesquisa, datada do começo de junho deste ano, constatou que em abril deste ano houve uma queda no RN de quase 58% nos casos de lesão corporal dolosa contra mulheres, reduzindo de 286 no quarto mês de 2019 para 121 registros no mesmo período de 2020. Crimes de feminicídio no estado potiguar em abril deste ano não teve nenhum registro, contra três no mesmo mês do ano passado.
Quanto a assassinatos de mulheres em geral, foram seis casos em abril de 2020 e cinco em abril de 2019. E casos de estupro aumentaram 150%, saltando de 12 para 30 notificações. A terceira e última parte da publicação, datada do final do mês passado, aponta que casos de lesão corporal dolosa no RN passaram de 62 registros em maio de 2019 para 78 em maio de 2020. Feminicídios caíram de dois para um caso.
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