Por Fábio Vale - Repórter do JORNAL DE FATO
Mais de mil vítimas do sexo feminino foram mortas no Rio Grande do Norte nos últimos dez anos. O dado assustador é da edição especial da revista OBVIUM, do Observatório da Violência (OBVIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), disponibilizada nesta semana do Dia Internacional da Mulher.
A publicação intitulada "10 anos de Mortes Matadas de Mulheres e Meninas" dá conta de um total de 1.050 casos no estado potiguar, entre 2011 e 2020.
O levantamento detalha que no primeiro ano pesquisado foram 71 assassinatos; seguido de 69 em 2012; 112 em 2013; 124 em 2014; 111 em 2015; 108 em 2016; 159 em 2017; 108 em 2018; 104 em 2019; e 84 'mortes matadas de mulheres e meninas' em 2020.O comparativo aponta um aumento de pouco mais de 18% na quantidade de ocorrências neste período de uma década. Mas, essas vítimas não são apenas números.
Elas têm nomes e toda uma história de vida. Rita de Cassia foi morta a tiros aos 28 anos. O caso aconteceu ano passado em Natal e foi caracterizado como crime passional. Ana Cristina foi outra vítima dessa violência letal contra a mulher no estado também no ano de 2020. Aos 44 anos de idade, ela teve a vida interrompida por disparo de arma de fogo em um crime caracterizado como feminicídio, que é o assassinato por questão de gênero e/ou violência doméstica.
Dentre os 84 assassinatos de vítimas do sexo feminino no estado no ano passado, o Obvio contabilizou 12 feminicídios. Mas, qual o perfil dessas vítimas de 'mortes matadas de mulheres e meninas'?
Mulheres pardas adultas com baixa escolaridade e renda predominam como vítimas
Além de nomes e histórias de vida, as vítimas de 'mortes matadas de mulheres e meninas' também têm cor. É o que mostra também o estudo "10 anos de Mortes Matadas de Mulheres e Meninas", disponibilizado nesta semana pelo Observatório da Violência (OBVIO), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Segundo a publicação, quase 54% do total de vítimas do sexo feminino assassinadas no estado potiguar entre 2011 e 2020 eram de etnia parda. Mulheres pretas e brancas figuram com média pouco acima de 20%, cada. Quando o estudo evidencia a etnia negra definida como a junção de parda e preta, esse percentual fica em pouco mais de 76.
Quanto à faixa etária, o mapeamento mostra também que mulheres adultas predominam como vítimas dessa violência letal. Quase 30% das mulheres e meninas mortas no RN nestes últimos dez anos tinham entre 35 e 64 anos de idade. Em seguida, com pouco mais de 24%, aparecem as entre 18 e 24. Os menores números de casos envolvem vítimas de 0 a 11 anos e acima de 65, com 25 e 29 casos, respectivamente.
O estudo também traçou o estado civil, a escolaridade e a renda estimada dentro do perfil das vítimas e apontou que quase 67% das mulheres e meninas assassinadas no estado entre 2011 e 2020 estavam na situação definida como "solteira"; que 44% predominavam com a conclusão do ensino fundamental (in) completo; e que 46% estavam sem atividade remunerada. Para os pesquisadores, esses dados mostram a importância de se investir na educação da população, especialmente na parcela de população com menor nível de escolaridade, para a redução dos níveis de criminalidade.
Região Oeste concentra mais de 25% dos casos e estado registra 158 feminicídios
A região Oeste potiguar concentrou mais de 25% das 'mortes matadas de mulheres e meninas' nos últimos dez anos. Apesar desse percentual preocupante, a região Leste liderou o ranking, com quase 59%. É o que revela ainda o estudo "10 anos de Mortes Matadas de Mulheres e Meninas", disponibilizado nesta semana pelo Observatório da Violência (OBVIO), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A publicação avalia que diante desse cenário, as regiões Leste e Oeste do estado devem ser alvo de políticas específicas de combate à violência contra as mulheres. Na lista dos dez municípios com maior número de casos no período levantado, Natal e Mossoró lideram com 27,8% e 12,7%, respectivamente. Ou seja, foram 292 e 133 vítimas do sexo feminino assassinadas nessas duas cidades entre 2011 e 2020.
O levantamento detalha que todos os 167 municípios potiguares registraram algum caso durante esse período. Além disso, o estudo pontua que do total de ocorrências desse tipo, 158 foram caracterizadas como feminicídio. Outras 738 como homicídio, 85 como lesão corporal seguida de morte, 44 como latrocínio (roubo seguido de morte), e 25 como óbitos resultantes da chamada intervenção policial.
A pesquisa ratifica a tendência de mortes provocadas por arma de fogo, onde praticamente 79% do total de ocorrências teve o uso desse instrumento; além de meios como arma branca, asfixia e espancamento, dentre outros.
Locais de crime e motivação
O mapeamento revela que 37,5% das 'mortes matadas de mulheres e meninas' nos últimos dez anos no estado aconteceu em vias públicas. Figuram ainda locais como residência, terrenos baldios, e bares e festas, dentre outros. Já quanto à motivação da ocorrência, o chamado crime de encomenda, e violências interpessoal e doméstica lideram; além de envolvimento com o tráfico, dentre outras.
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