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Postado às 10h15 | 27 Jun 2021 | Redação Rio Grande do Norte registrou nove mortes violentas de LGBTI+ em 2020

Segundo o levantamento, esmiuçado pela reportagem nesta véspera do Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+, o Nordeste concentrou a grande maioria dos casos no país. A região aparece com 113 ocorrências do total de 237, sendo que o Ceará liderou com 34

Crédito da foto: Ilustração Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+, 28 de junho

Fábio Vale/Repórter do JORNAL DE FATO

O Rio Grande do Norte registrou nove mortes violentas de LGBTI+ no decorrer do ano passado. O dado é do “Relatório: Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil, 2020”, publicado no dia 14 de maio deste ano pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) e organizado por profissionais com formações acadêmicas, como doutores em Ciências Sociais e Antropologia.

Segundo o levantamento, esmiuçado pela reportagem nesta véspera do Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+, o Nordeste concentrou a grande maioria dos casos no país. A região aparece com 113 ocorrências do total de 237, sendo que o Ceará liderou no Nordeste com 34 registros; seguido da Bahia com 24; Alagoas, 15; Paraíba, 11; RN e Pernambuco, nove, cada; Sergipe, seis; Maranhão, quatro; e Piauí, um caso.

O ranking dos 20 municípios, dentre 152 cidades brasileiras, com mais mortes violentas contra LGBTI+ traz a capital do Rio Grande do Norte na 5ª colocação. Natal aparece com cinco casos. O ranking é liderado por Fortaleza (CE), com 20 mortes; seguido de São Paulo, com dez; Belo Horizonte e Manaus, seis, cada; e Natal e Salvador também empatados com cinco casos, cada.

A lista é completada por Florianópolis (SC) com quatro registros, e Aracaju (SE), Brasília (DF), Curitiba (PR), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Rio Largo (AL), São Bernardo do Campo (SP) e São José da Laje (AL), todos com três mortes, cada. Mas, além de Natal, também teve mais quatro mortes em diferentes cidades potiguares em 2020: Ceará-Mirim, Currais Novos, Nísia Floresta e Pau dos Ferros.

O estudo chama a atenção também para a necessidade de ações governamentais de enfrentamento como, educação em todos os níveis escolares sobre respeito aos direitos humanos e cidadania da população LGBTI+; políticas públicas na área da saúde; Polícia e Justiça investigando diligentemente e punindo com toda severidade da lei os crimes LGBTIfóbicos; e denúncia por parte da própria vítima LGBTI+ de qualquer ameaça ou violência.

RETRANCA 1

Título:

Governo Federal contabiliza apenas 21 denúncias e 70 violações contra LGTBs no RN neste semestre

O Brasil registrou nos seis primeiros meses incompletos deste ano 627 denúncias de violência contra a população LGBT e 2.335 violações em desfavor desse grupo. Os dados do cenário nacional, mesmo ainda bastante subnotificados – como apontam diversos especialistas -, nos dão uma relativa percepção da grande vulnerabilidade sofrida por essa parcela da população.

Quando partimos para o contexto estadual, a situação não é menos preocupante. Apesar dos números listados pelo Painel de Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em nível de Rio Grande do Norte, serem ainda menores, a problemática também é intensa e está longe de refletir a realidade.

Segundo as estatísticas desse levantamento disponibilizado pelo Governo Federal, foram somente 21 denúncias de violência contra a população LGBT e 70 violações, entre 1º de janeiro e 21 de junho de 2021. Líder do ranking, o estado de São Paulo figura nesse mapeamento com 141 denúncias e 517 violações.

Já no primeiro semestre completo de 2020, o RN aparece no Painel de Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, com apenas 13 denúncias e 91 violações contra a população LGBT. E entre julho e dezembro do ano passado, o estado é citado com 14 denúncias e 35 violações em desfavor dessa parcela da sociedade. A hipótese é de que o registro oficial desses números tenha diminuído ainda mais por conta do avanço da pandemia da covid-19.

 

Psicóloga avalia que preconceito pode gerar problemas de saúde mental

“Imagine você ter que passar anos de uma vida tentando ser alguém que não se percebe sendo. A falta de aceitação social, a não identidade de gênero, o preconceito, podem provocar uma série de problemas de saúde mental na população LGBTQI+. As consequências emocionais costumam ser graves e podem causar transtornos de ansiedade e depressão”. A análise é da Psicóloga Clínica e escritora Débora Lyssa.

Para ela, a psicologia tem um olhar humanizado e visa conscientizar a população em geral sobre a luta contra a discriminação de lésbicas, gays, travestis, bissexuais, transexuais e transgêneros. “Como também vem atuar na linha de frente para a garantia dos seus direitos, assim como a sua individualidade subjetiva respeitada. A Psicologia tem um lugar no combate à LGBTfobia e é uma potência ao se posicionar a favor da saúde mental e livre expressão das diversidades”, explica.

“Podemos pensar no impacto na vida dessas pessoas quando entendemos que elas estão morrendo por ser quem são. Em 2020, no Brasil, 237 pessoas tiveram morte violenta relacionada à sua orientação sexual ou identidade de gênero”, acrescenta Débora Lyssa, chamando a atenção para a importância do indivíduo construir uma rede de apoio, onde possa encontrar acolhimento, respeito, liberdade e amor.

“Aprendendo e se permitindo ser você mesmo, se autorizando a ser quem se é, se despindo das máscaras que sufocam e matam. Trabalhar a autoaceitação”, aconselha ela. “Apoiar, acolher outras pessoas LGBTQI+. Quando libertamos o outro, estamos também libertando a si. Conhecer a sua potência, para que saiba o seu lugar nessa luta. E quando necessário, procurar ajuda terapêutica”, orienta também, lembrando do papel da psicoterapia.

A psicóloga avalia que ainda é preciso promover diálogos, discutir sobre políticas públicas e iniciativas para acolher essas pessoas na sociedade. “Começando com a defesa de uma escola inclusiva, que busque a igualdade de gênero e respeite a diversidade sexual. Precisamos primeiramente humanizá-las. Elas também precisam ser incluídas, não apenas inseridas na sociedade”, defende.

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