Atlas trouxe o RN com crescimento de quase 70% na quantidade de homicídios nestes 11 anos pesquisados; e colocou o estado ainda entre as unidades federativas do país que lideraram mortes de negros, de vítimas jovens e de mulheres neste período
Por Fábio Vale / Repórter do JORNAL DE FATO
O Rio Grande do Norte mais uma vez é destaque negativo em um levantamento nacional sobre a violência homicida no Brasil. O estado potiguar figura no Atlas da Violência 2021, divulgado nesta terça-feira (31), com o quinto maior aumento de assassinatos do país, entre os anos de 2009 e 2019. A publicação trouxe o RN com crescimento de quase 70% na quantidade de homicídios nestes 11 anos pesquisados; e colocou o estado ainda entre as unidades federativas do país que lideraram mortes de negros, de vítimas jovens e de mulheres neste período.
Segundo o Atlas da Violência 2021, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), a taxa de homicídios no Rio Grande do Norte por 100 mil habitantes entre 2009 e 2019 variou entre 25,5 e 62,8, apresentando um crescimento de 50,5% nestes 11 anos. A quantidade absoluta de assassinatos neste período no estado potiguar também teve aumento de 68,3%, variando entre 800 e 2.203 crimes.
Em 2009, foram 800 crimes, seguido de 810 no ano seguinte; 1.054 em 2011; 1.124 em 2012; 1.447 em 2013; 1.602 em 2014; 1.545 em 2015; 1.854 em 2016; 2.203 em 2017; 1.825 em 2018; e 1.346 em 2019. O RN figura no ranking nacional com a quinta maior variação neste período. A lista é liderada pelo Acre: 112,4%; seguido de Roraima (98,3%); Amapá (90%); e Amazonas (73,8%) completando a lista dos cinco estados brasileiros com o maior aumento de homicídios entre 2009 e 2019.
Além disso, o território potiguar aparece no levantamento com 2.384 Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCIs) nestes 11 anos pesquisados. O estudo mostra também que o RN registrou um aumento de 67% entre 2009 e 2019 no número de homicídios de jovens entre 15 e 29 anos de idade, figurando na quinta maior variação do país. Foram 455 casos no primeiro ano; 439 m 2010; 596 em 2011; 649 em 2012; 883 em 2013; 1.002 em 2014; 939 em 2015; 1.129 em 2016; 1.366 em 2017; 1.067 em 2018 e 760 em 2019.
O Amapá teve o maior aumento: 132,4%; seguido do Acre (123,1%); Roraima (90,4%); e Sergipe (71,6%). A publicação revela ainda que o RN figurou em 2019 com a quarta maior taxa de homicídios de jovens por 100 mil habitantes do país: 85,3; atrás de Amapá (101,8), Bahia (97) e Sergipe (90,5). A média nacional é de 45,8. A publicação aponta também que o estado potiguar teve uma redução de 28,5% na taxa de mortalidade violenta juvenil, de 2018 para 2019.
RN também lidera em homicídios de mulheres e de negros
Além do cenário de vitimização de jovens, a publicação coloca o RN ainda entre os estados do país que lideraram mortes de negros e de mulheres entre 2009 e 2019. No ranking de taxa de homicídios por 100 mil mulheres em 2019, o RN também ficou entre os cinco primeiros do país. O estado potiguar teve índice de 5,4 e ficou na quinta posição. Roraima liderou com taxa de 12,5.
O levantamento referente à variação nas taxas de homicídios de mulheres de 2009 a 2019, os aumentos mais expressivos foram registrados nos estados do Acre (69,5%), do Rio Grande do Norte (54,9%), do Ceará (51,5%) e do Amazonas (51,4%); enquanto as maiores reduções aconteceram no Espírito Santo (-59,4%), em São Paulo (-42,9%), no Paraná (-41,7%) e no Distrito Federal (-41,7%).
Quanto ao risco relativo de homicídios entre mulheres negras e não negras em 2019, o RN liderou o ranking nacional com taxa de 5,2, sendo 88% negras e 12% não negras. Sobre o aumento de assassinatos de vítimas do sexo feminino nestes 11 anos pesquisados, o estado potiguar teve o terceiro maior crescimento do país: 71,9%, com 57 crimes em 2009; 71 em 2010; 76 em 2011; 64 em 2012; 89 em 2013; 102 em 2014; 92 em 2015; 100 em 2016; 148 em 2017; 102 em 2018; e 98 em 2019. O maior crescimento nacional foi no Acre: 100%; seguido de Amazonas (76,1%).
Sobre o aspecto da etnia, Acre e Rio Grande do Norte foram os estados com maior aumento percentual das taxas de homicídios entre negros do país, entre 2009 e 2019, respectivamente 114,5% e 100,4%. O RN foi o estado com a maior taxa de homicídios de negros em 2019 (55,6). A publicação de 108 páginas utilizou principalmente dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde; e detalha ainda números sobre a violência contra indígenas e contra pessoas com deficiência, e violência contra a população LGBTQI+, entre outros, além da incidência de mortes provocadas por arma de fogo.
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