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Postado às 12h15 | 30 Set 2018 | Redação Estátua da Liberdade representa o sentimento de luta e do povo livre de Mossoró

Crédito da foto: Reprodução A Estátua da Liberdade permanece firme como um guardião impávido

Por Geraldo Maia

No dia 30 de setembro de 1883 o Presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense, numa sessão festiva, declarava “livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão”. Todos os escravos do município de Mossoró tinham recebido Carta de Alforria, fruto de um trabalho que vinha sendo desenvolvido a quase um ano. Essa data, 30 de setembro, passou a ser comemorada como a maior festa cívica do município. E para que as novas gerações tomassem conhecimento do fato, foi erguido, alguns anos depois, um monumento que ficou conhecido como “Estátua da Liberdade”.

A Estátua da Liberdade fica na Praça da Redenção, em frente ao prédio da Biblioteca Pública, antiga União Caixeiral. Foi inaugurada no dia 30 de setembro de 1904, por iniciativa do Dr. Sebastião Fernandes de Oliveira, na época Promotor de Justiça de Mossoró, sendo o mesmo o orador oficial da solenidade, proferindo vibrante discurso na ocasião.

O escultor da obra foi Francisco Paulino da Silva, um mestre do cimento que já havia executado várias obras em Mossoró. Na ocasião, Mossoró comemorava os 21 anos da liberação dos escravos em território mossoroense, que havia acontecido no dia 30 de setembro de 1883, cinco anos antes da liberação oficial em território brasileiro.

A ideia da libertação dos escravos em solo mossoroense surgiu por ocasião de uma homenagem prestada na Loja Maçônica 24 de junho ao casal Romualdo Lopes Galvão, líder da política e do comércio. Presente à homenagem se encontrava o Venerável da Loja Maçônica 24 de junho, Frederico Antônio de Carvalho, a quem coube a idéia da fundação de uma sociedade cuja finalidade fosse a liberação dos cativos.

Em 6 de janeiro de 1883 foi criada "A Sociedade Libertadora Mossoroense", cuja presidência provisória ficou a cargo de Romualdo Lopes Galvão. Aderiu ao movimento os melhores elementos da terra. A diretoria definitiva ficou formada por Joaquim Bezerra da Costa Mendes como presidente, Romualdo Lopes Galvão como vice-presidente, Frederico de Carvalho como primeiro secretário, o Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque como orador.

Na época, Mossoró contava apenas com 86 escravos. A 10 de junho alforriava 40 desses escravos. A Sociedade Libertadora tinha um Código, com um único artigo e sem parágrafos, onde estava determinado que "todos os meios são lícitos a fim de que Mossoró liberte os seus escravos". A ideia empolgava a toda população, de modo que pouca resistência houve contra essa medida.

O dia 30 de setembro de 1883 foi a data designada para a liberação total dos escravos; e o objetivo foi alcançado. Foi um dia festivo aquele 30 de setembro. A cidade amanheceu com as ruas todas engalanadas de folhas de carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava todos os lares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara Municipal, hoje Museu Municipal Lauro da Escóssia.

O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abriu a solene e memorável sessão, lendo em seguida, diversas cartas de alforria dos últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado discurso declarou "livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão".

Além dos abolicionistas, os salões da Câmara Municipal estavam lotados com familiares e grande massa da população. Depois da sessão, a festa tomou as ruas da cidade. O Dr. Almino Afonso pronunciou inúmeros discursos, empolgando os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E foi também o Dr. Almino Afonso que criou o "Clube dos Spartacos" composto, na sua maioria, por ex-escravos, tendo sido eleito presidente o liberto Rafael Mossoroense da Glória. A função desse clube era dar abrigo e amparo aos escravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de choque dos abolicionistas.

O território livre, Mossoró passou a ser procurada por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando, encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os escravos voltassem com os donos. Alguns eram comprados; outros eram mandados para Fortaleza e nunca mais apareciam. O dia 30 de setembro passou a ser a grande data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de 1913, declara feriado o dia 30 de setembro que até os dias atuais é comemorado com muito entusiasmo pela cidade de Mossoró.

A Estátua da Liberdade permanece firme como um guardião impávido, para lembrar as novas gerações que Mossoró é um município que sempre lutou por seus direitos.

(*) Geraldo Maia é historiador

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