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Postado às 19h15 | 25 Ago 2018 | Redação 'Só dei um tiro no cachorro', diz mensagem apreendida com suspeito de matar cabo Ildônio

Reportagem de Anderson Barbosa, do portal G1-RN, revela conversa entre suspeitos de matar o policial Ildônio. Um deles diz que "matou um cachorro" se referindo a vítima.As mensagens estão no aparelho celular que pertence a um dos suspeitos presos

Crédito da foto: Reprodução Cabo Ildonio foi morto dentro de ônibus de estudantes

Anderson Barboda - Do G1 – RN

To vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro”. A transcrição ao lado, na íntegra, é apenas uma das várias mensagens encontradas no aparelho celular de um dos suspeitos presos por participação direta no assalto a um ônibus escolar que terminou com a morte do cabo da Polícia Militar Ildônio José da Silva, de 43 anos. O crime aconteceu no dia 16 deste mês na RN-117, entre as cidades de Caraúbas e Governador Dix-Sept Rosado, na região Oeste potiguar.

O policial, que estava a caminho de uma faculdade em Mossoró, foi identificado pelos bandidos, retirado do veículo, deitado no chão e executado com vários tiros. O último disparo, na cabeça, foi de espingarda calibre 12.

O celular foi apreendido no dia seguinte ao assassinato. O aparelho pertence a um dos três presos pela Polícia Rodoviária Federal durante a abordagem a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. O motorista foi indiciado por favorecimento. Já os outros dois, a polícia acredita que estavam no assalto e que também participaram da execução.

Após ter acesso ao conteúdo das mensagens, o G1 procurou o delegado Sandro Régis, titular da Delegacia Regional de Patu. Foi ele o plantonista que fez o flagrante da prisão dos suspeitos. Além de confirmar a autenticidade das mensagens, o delegado ainda revelou que elas fazem parte do conjunto de provas que compõem o inquérito.

MENSAGEM

Abaixo, na íntegra, estão transcrições de trechos de mensagens apreendidas no celular do suspeito. São mensagens de WhatsApp datadas do dia 17/08, dia seguinte ao assassinato do cabo Ildônio.

Os nomes dos envolvidos, inclusive nomes e apelidos que são citados durante as conversas, o G1 suprimiu para não comprometer as investigações.

Parte das mensagens são do próprio suspeito durante uma conversa com uma pessoa que a polícia acredita ser uma irmã, momentos antes dele ser preso pela PRF. Essa irmã e a mãe (Rosilene Araújo de Oliveira, 55 anos, e Aysla Melquíades Oliveira, 23 anos), inclusive, foram presas nesta sexta-feira (24), em Caraúbas, suspeitas de darem apoio ao bando.

Irmã: “ainda bem que sabe

Irmã: “mataram o caboco (xxx)”

Suspeito preso: “to ligeiro. mataram não

Irmã: “a Meu Deus. você tava?

Suspeito preso: “tava sim bandida. dei apoio aos parceirinhos

Mais adiante, o suspeito e a irmã voltam a trocar mensagens

Irmã: “ei fique ligeiro ai. Passou um Honda Civil de cor preto com dois homens de preto. É polícia. tá passando devagar

Suspeito preso: “estão fardados?

Suspeito preso: “prenderam meu pai inocente. venham atras de min seus fela da puta. Num sou eu que voçês querem seus vermes

Irmã: “pare com isso. não poste isso. voçes estão dentro do quartinho?

Suspeito preso: “estamos no muro, eu e boy (xxx). me arrume o celular da sobrinha

Irmã: “certo. Vou colocar pelas telhas. a casa esta aberta para enganar os policiais

Irmã: “o advogado disse que pai vai ser só interrogado e vai ser liberado

Irmã: “mãe disse que vai arrumar um carro para colocar você e (xxx) e saírem daqui de caraúbas. mais tá fechado de polícia

Irmã: “fique com a porta fechada. viu?

Irmã: “você fica se amostrando com essas fotos com arma. identificaram você

Suspeito preso: “chegou gente aí?

Irmã: “fale baixo. da pra ouvir a zuada de você e (xxx) aqui. tá passando dois carros de polícia agora

Suspeito preso: “era os que tava apitando?”

Irmã: “mãe tá terminando de ajeitar o almoço. ela vai deixar a comida e a água aí viu

Suspeito preso: “to vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro

Suspeito preso: “dê um dinheiro ai pra (xxx) abastecer ae pra ele tirar noiz daki

Suspeito preso: “vá deixar 100 a (xxx). ele tá la em frente a (xxx)”

Irmã: (xxx) já foi deixar. Ele vai abastecer o carro

Em outra conversa, cujas mensagens também estão no celular do suspeito, um outro homem que a polícia confirma que ainda não foi preso fala que continua escondido no mato e conta que soube da prisão do irmão dele e das armas que a polícia apreendeu:

Foragido: “dá um jeito ai, nem que seja no mato. Ei tô no mato também

Suspeito preso: “só. demorou primo. fica escondido ai

Foragido: “enviou uma foto do (xxx) com o helicóptero”

Suspeito preso: “contato de Dr. (xxx)”

Foragido: “mo fi, voçes saia o mais rapido dai ou vocês se entreguem ou corra. viu?”

Foragido: “pode sair fora. quando tiver por aqui me avise

Foragido: “omi, eu sei lá, só sei que foram lá e levaram foi tudo. meu irmão (xxx) e meus dois sobrinhos. meu sobrinho (xxx) disse umas besteiras lá, entregou tudo boy, disse umas besteiras la na delegacia. voçês saiam dai. ate as armas apreenderam

Suspeito preso: mensagem apagada

Foragido: “doido é, (xxx) disse que era polícia demais, só bico vei. a polícia assanhou ate no inferno. a laranjada está toda pra min parceiro. (xxx) disse umas beiteiras na delegacia mermão. entregou todo o serviço

Suspeito preso: “se ligue na idéia, minha irmã foi ali agora e viu o Fiat Uno de (xxx). Tá ligado?”

11 PRESOS

Até o momento, a polícia já prendeu 11 pessoas por envolvimento direto no assalto e na morte do PM ou por favorecimento aos bandidos. Por participação direta, são três: dois homens e uma mulher.

Os outros oito foram todos indiciados por terem, de alguma forma, colaborando com a quadrilha – seja tentando ajudar os bandidos a fugirem do cerco que a polícia montou na região, ou mesmo dando guarida aos criminosos.

PARTICIPAÇÃO DIRETA

Os dois homens presos suspeitos de terem participado diretamente do assalto e da morte do cabo Ildônio foram pegos pela polícia no dia seguinte ao assassinato. Foi durante uma abordagem da PRF a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. Os dois, inclusive, já tinham mandados de prisão em aberto por assaltos e outros homicídios na região. Além da dupla, na ocasião também foi preso o motorista do veículo, que foi indiciado por favorecimento, já que a polícia entende que ele estava dando fuga aos bandidos.

Já a mulher, é a estudante de Direito Grécia Teodora, que foi presa no dia 19 na cidade de Caraúbas. Segundo o delegado, a universitária foi a única que não foi roubada pelos criminosos que assaltaram os passageiros do ônibus. Além disso, teria sido ela a pessoa que avisou os bandidos que havia um policial militar armado no veículo. "Ela, inclusive, é namorada de um dos criminosos que ainda está sendo procurado", acrescentou o delegado Sandro Régis.

Além da dupla e da universitária, outros seis homens, todos com mandados de prisão já expedidos pela Justiça, ainda estão sendo procurados pela polícia – todos suspeitos de também terem participado do assalto e da execução do PM.

FAVORECIMENTO

Por favorecimento, são oito os suspeitos detidos até agora. Um deles é o motorista do Gol, abordado pela PRF em Campo Grande. Outro, é um motociclista que foi preso em Assu. Este homem, segundo as investigações, estava a espera da dupla que o motorista do Gol estava conduzindo, e também foi indiciado por dar guarida aos criminosos.

Outro que foi indiciado por favorecimento é um homem que é conhecido como coiteiro, que é justamente como é chamada a pessoa que dá esconderijo a bandidos. No sítio onde mora, foram encontradas duas espingardas calibre 12. Uma delas, a polícia acredita ter sido a arma utilizada no disparo que foi dado na cabeça do PM.

E ainda tem um desempregado e uma outra mulher, ambos de Caraúbas, que foram presos no dia 22, e que também foram autuados por darem abrigo aos fugitivos.

No dia seguinte, também em Caraúbas, os policiais chegaram a um outro homem. Na casa dele foram apreendidos um revólver com seis munições e uma motocicleta roubada, e que também foi indiciado por dar refúgio à quadrilha.

E, por último, já nesta sexta-feira (24), foram presas outras duas mulheres. Elas são mãe e irmã de um dos homens presos no Gol, que a polícia acredita ter participação direta na execução do cabo Ildônio. “A mãe e a irmã também deram apoio aos criminosos. Inclusive, ficaram levando comida ao bando”, acrescentou o delegado.

ADVOGADO INVESTIGADO

A polícia ainda investiga um advogado que atua na região Oeste. Segundo o delegado Christiano Othon, que preside o inquérito que apura a morte do PM, o advogado é suspeito de ter repassado informações confidenciais à estudante de Direito, que é apontada como membro da quadrilha.

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