Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024

Postado às 09h00 | 24 Fev 2023 | redação Vaca louca: Brasil monta ofensiva para evitar fechamento de mercados para carne

Crédito da foto: Ilustrativa O mal da “vaca louca” é chamado tecnicamente de Encefalopatia Espongiforme Bovina

Por Basília Rodrigues e Daniel Rittner - da CNN

O Ministério da Agricultura iniciou nesta quinta-feira, 23, uma ofensiva para esclarecer aos principais países importadores de carne brasileira que o caso de mal da vaca louca confirmado na véspera do Carnaval é um incidente isolado e não há razões, do ponto de vista sanitário, para o fechamento dos mercados.

Autoridades agropecuárias de países como Estados Unidos, Chile, Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Israel, Indonésia e Filipinas devem ser procuradas pelo ministro Carlos Favaro e seus auxiliares.

Favaro já determinou a ida de dois secretários do ministério a Pequim, para informar ao governo chinês que o consumo de carne bovina brasileiro é seguro, mesmo após a confirmação de um caso de mal da vaca louca no Pará.

Os secretários de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, e de Relações Internacionais, Roberto Perosa, estavam em viagem aos Emirados Árabes para promover uma agenda positiva — a produção de carne bovina “carbono neutro” do frigorífico Minerva — quando foram surpreendidos pela notícia.

Eles receberam a determinação de não voltar diretamente ao Brasil e embarcar para a capital chinesa.

A missão é para que esclarecimentos sejam dados in loco às autoridades do maior comprador internacional de carne brasileira. Goulart e Perosa deverão estar em Pequim quando houver a publicação dos resultados mais específicos dos exames nas amostras do bovino contaminado pela doença, que estão sendo analisados em laboratórios do Canadá.

O protocolo sanitário da China é considerado um dos mais exigentes. Por isso, a exportação para o país asiático está sendo suspensa, antes mesmo dos últimos exames. No caso dos outros países, a preocupação é com a circulação de informações equivocadas sobre o rebanho brasileiro para que não influencie na comercialização.

A alegação do Ministério da Agricultura é que se trata de um caso atípico, ou seja, verificado isoladamente e sem risco de se espalhar. O animal afetado era mais velho e a doença foi originada dentro do próprio organismo do bovino, de maneira espontânea e esporádica, sem que estivesse relacionada à ingestão de alimentos contaminados ou rações proibidas.

Os esclarecimentos são prestados pelas equipes técnicas do Ministério da Agricultura e às suas similares nos outros países, além do auxílio diplomático do Itamaraty.

As exportações de carne bovina chegaram a US$ 13 bilhões em 2022, com aumento de 42% na comparação com o ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

Só a China comprou quase US$ 8 bilhões do Brasil. Depois vêm Estados Unidos, Chile, Egito, Hong Kong, Filipinas, Emirados Árabes, Israel, Itália e Países Baixos.

 

 O que é o mal da vaca louca?

O mal da “vaca louca” é chamado tecnicamente de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). Os últimos casos registrados no Brasil tinham sido confirmados em 2021, nos estados de Minas Gerais e do Mato Grosso. Atualmente, o Brasil é classificado pela OIE com o menor grau de risco para a doença: “insignificante”. Existe ainda o “risco controlado” no qual se enquadram alguns países da Europa, sendo a pior situação a do “risco desconhecido”.

O animal identificado com a doença, criado em pasto, sem ração, foi abatido e teve sua carcaça incinerada no local, de acordo com o ministério. O serviço veterinário oficial brasileiro realiza a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado.

A Encefalopatia Espongiforme Bovina é uma doença do sistema nervoso dos bovinos, que tem um longo período de incubação entre dois e oito anos, e ocasionalmente mais longo. Atualmente, não há tratamento ou vacina contra o agravo.

Faz parte de um grupo de doenças conhecidas como encefalopatias espongiformes transmissíveis, ou doenças causadas por príons, caracterizadas pelo acúmulo no tecido nervoso de uma proteína infecciosa anormal chamada príon. Este grupo inclui a variante da doença de Creutzfeldt-Jakob, que afeta humanos.

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) clássica foi diagnosticada pela primeira vez em bovinos no Reino Unido em 1986, mas provavelmente estava presente na população bovina do país desde a década de 1970 ou antes, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Em seguida, foi relatada em 25 países além do Reino Unido, principalmente na Europa, Ásia, Oriente Médio e América do Norte.

Atualmente, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas eficazes de controle, a prevalência da EEB clássica é extremamente baixa, assim como seu impacto sanitário global e risco à saúde pública.

A doença pode ser dividida em duas formas, segundo a OIE. A versão clássica ocorre através do consumo de alimentos contaminados. Embora a forma clássica tenha sido identificada como uma ameaça significativa na década de 1990, sua ocorrência diminuiu acentuadamente nos últimos anos, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas de controle eficazes, e agora é estimada como extremamente baixa.

Já a versão atípica refere-se a formas de ocorrência natural e esporádica, que se acredita ocorrerem em todas as populações de bovinos a uma taxa muito baixa e que só foram identificadas em bovinos mais velhos durante a vigilância intensiva.

No início dos anos 2000, príons atípicos causadores de vaca louca atípica foram identificados como resultado de vigilância aprimorada para encefalopatias espongiformes transmissíveis. O número de casos atípicos é insignificante, segundo a OIE.

De fato, embora até o momento não haja evidências de que a versão atípica seja transmissível, a ‘reciclagem’ do agente da vaca louca atípica não foi descartada e, portanto, medidas para gerenciar o risco de exposição na cadeia alimentar continuam a ser recomendadas como medida de precaução.

 

Transmissão da vaca louca

A compreensão clara da origem e desenvolvimento do mal da vaca louca em animais ainda depende de avanços em estudos científicos. No entanto, ficou provado que certos tecidos de animais infectados, os chamados materiais de risco especificados, têm maior probabilidade de conter e, portanto, transmitir o príon da doença. De acordo com o Código de Saúde Animal Terrestre, esses tecidos incluem cérebro, olhos, medula espinhal, crânio, coluna vertebral, amígdalas e íleo distal.

Os cientistas acreditam que o gado geralmente é infectado por meio da ingestão de alimentos contaminados com príons durante o primeiro ano de vida. O risco de contaminação ocorre se a ração contiver produtos derivados de ruminantes, como farinha de carne e ossos, que é o produto proteico obtido pela transformação de certas partes de carcaças de animais, inclusive de pequenos ruminantes e bovinos de criação, que não são utilizados para consumo humano.

O príon infeccioso é resistente a procedimentos comerciais de inativação, como calor, o que significa que não pode ser destruído no processo de graxaria – aproveitamento de restos de animais. A incidência de vaca louca foi muito maior em bovinos leiteiros do que bovinos de corte, já que geralmente os rebanhos leiteiros são alimentados com rações concentradas que, antes da introdução de controles mais rigorosos, continham farinha de carne e ossos.

Enquanto isso, não há evidências de transmissão direta entre animais (transmissão horizontal) e poucos dados suportam que a doença seja transmitida de mãe para filho (transmissão vertical).

Tags:

Brasil
exportação
carne
vaca louca

voltar