Jornal de Fato
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou a seleção de 12 projetos prioritários para a criação de unidades de conservação federais no bioma Caatinga, a serem implantadas até 2026, que resultarão no aumento de mais de um milhão de hectares das áreas protegidas.
Encontram-se em andamento as ampliações do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí; da Floresta Nacional de Açu, no Rio Grande do Norte; e do Refúgio da Vida Silvestre do Soldadinho-do-Arararipe, no Ceará.
A FLONA de Açu é uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio. Está localizada na bacia do Piancó-Piranhas-Açu e margeada pela lagoa do Piató. A Floresta Nacional de Açu é um fruto da mobilização social, tendo um importante papel na proteção de espécies típicas e ameaçadas da biodiversidade da Caatinga e no combate ao processo de desertificação do semiárido, contribuindo para a construção de conhecimento, uso público e atividades socioambientais.
A Floresta Nacional de Açu foi instituída pela Portaria Nº 245 de 18 de julho 2001 e possui oficialmente uma área de 215,25 ha, executando várias atividades como a proteção, pesquisa científica, recuperação ambiental e visitação. Foi criada inicialmente como horto florestal, por meio da lei n° 1.175/1950.
Caracterização
A unidade de conservação abriga quatro grupos vegetacionais da Caatinga: Caatinga arbustiva, Caatinga arbustivo-arbórea, Caatinga gramíneo-arbustiva e a Caatinga herbáceo-arbustiva, que além de alimentarem e protegerem a fauna regional contribuem com a recarga do aquífero Açu e a manutenção da Lagoa do Piató, com 18 km de comprimento e profundidade máxima de 10 m.
A FLONA é considerada um símbolo de resistência e beleza cênica da caatinga, sendo marcante a paisagem da Lagoa do Piató e seus carnaubais e um patrimônio sociocultural, histórico e ambiental do Vale do Açu.
São desenvolvidas pesquisas de diversas instituições e áreas do conhecimento, como o estudo do comportamento do sagui-do-nordeste (Callithrix jacchus), além do projeto de Restauração Ecológica da Caatinga, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Também é fonte de sementes para a produção de mudas que podem ser utilizadas na recuperação de áreas degradadas, arborização pública, combate à desertificação e projetos educacionais, preservando as matrizes florestais da caatinga.
Controla processos erosivos, ameniza o assoreamento da Lagoa Piató, contribui para a recarga dos aquíferos ao permitir a infiltração da água no solo e ameniza os efeitos das ilhas de calor da área urbana.
Biodiversidade
Dentre as espécies vegetais encontradas na FLONA de Açu, destacam-se: a catingueira, angico, Catanduva, emburana, embiratanha, ameixa-do-sertão, pau d’arco, aroeira-do-sertão, cumaru, carnaúba e juazeiro.
Algumas dessas espécies da flora encontram-se vulneráveis ou em perigo de extinção, como a catingueira, a aroeira-do-sertão e a baraúna, espécies importantes para o bioma da Caatinga, além de outras espécies fundamentais para as abelhas meliponídeas e melíferas.
A fauna também é representada por espécies ameaçadas, tais como as aves arapacu-do-nordeste, sebinho-de-olho-de-ouro e Pica-pau-anão-da-caatinga, além de felinos como gato-do-mato-pintado e gato-mourisco.
Outras espécies de animais encontradas são: nambu, asa branca, rolinha, galo de campina, canção e sabiá; espécies de répteis como cobras e tejos; mamíferos como peba, preá, veado-campeiro e sagui do nordeste. Ainda abriga também animais noturnos como raposas, guaxinins, tatus, corujas e urutaus.
“Se a gente ‘descaatinga’ a catinga, agrava o problema”, diz ministra
“Os estudos da ciência estão nos mostrando que já temos uma ampliação das áreas que eram semiáridas e que estão ficando áridas. Isso é mudança do clima. Se a gente ‘descaatinga’ a Caatinga, a gente agrava o problema.” O aleta foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao anunciar a seleção de 12 projetos prioritários para a criação de unidades de conservação federais no bioma Caatinga.
O anúncio foi feito em Petrolina, Pernambuco, durante o lançamento da campanha Terra, Floresta, Água – Movimento Nacional de Enfrentamento à Desertificação e à Seca.
As iniciativas integram a Missão Climática pela Caatinga, que reuniu governos federal e locais, além da participação do secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, Ibrahim Thiaw, no enfrentamento aos efeitos da mudança climática na Caatinga presente em 12% do território do país.
Segundo dados do MMA, a desertificação atinge 13% do semiárido brasileiro. São regiões onde a atividade humana e as variações climáticas determinaram a perda total da biodiversidade, da capacidade de oferecer serviços ecossistêmicos e até da capacidade produtiva do solo para segurança alimentar.
Localizada integralmente no semiárido, a Caatinga só existe no Brasil e abriga uma biodiversidade única, com grande número de espécies endêmicas, que só ocorrem no bioma. Essas características - somadas ao fato de ter 60% de seu território ocupado por populações - fazem com que a vegetação nativa dessa região seja a mais suscetível às mudanças climáticas, segundo indicou o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).
Desde 2015, o Brasil tem uma Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, criada pela lei nº13.153, mas nos últimos anos o desmatamento da Caatinga avançou, segundo aponta o Relatório Anual do Desmatamento da Mapbiomas. Em 2023, por exemplo, mais de um quinto dos alertas de desmatamento em todo o Brasil foram no bioma.
Ao todo, foram desmatados 201.687 hectares de Caatinga, com um aumento de 43,3% em relação a 2022. Os estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte lideraram o crescimento dos alertas de desmatamento na região, mas 87% dos municípios no bioma registraram pelo menos um evento.
Tags: