Redação do Jornal de Fato
Com quase 530 mil indígenas, o Nordeste concentra a segunda maior população indígena do Brasil e registra um crescimento expressivo dessas comunidades nas últimas décadas. Entre 2010 e 2022, a quantidade de indígenas na Região mais do que dobrou, enquanto o registro nacional dá conta de um aumento de 89% no mesmo período, atingindo cerca de 1,7 milhão de pessoas.
Os dados constam no novo boletim temático lançado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) na semana que celebra o Dia dos Povos Indígenas, neste sábado, 19.
Atualmente, o Nordeste abriga 238 etnias diferentes, revelando a diversidade cultural presente no território. Apesar do crescimento demográfico, o boletim revela que cerca de 90% da população indígena nordestina vive fora de terras oficialmente reconhecidas, um dos principais desafios para a garantia de direitos e para a preservação das tradições. Em números absolutos, são 631 terras indígenas identificadas em diferentes fases de demarcação, mas apenas 105 já foram oficialmente demarcadas.
O levantamento produzido pela unidade de estudos e pesquisa da Sudene mostra que a Bahia e Pernambuco são os estados que concentram, aproximadamente, 60% da população indígena do Nordeste, reforçando a importância dessas unidades federativas nas estratégias de políticas públicas voltadas para o reconhecimento territorial e o desenvolvimento social. Outro dado que chama a atenção é que 63% da população indígena nordestina vive em áreas urbanas, o que exige novas abordagens para políticas habitacionais, de saúde e de educação voltadas a essas comunidades.
O superintendente da Sudene, Danilo Cabral, destacou a relevância do levantamento para o planejamento regional. “Entender a realidade dos povos indígenas é essencial para desenvolvermos ações que respeitem sua diversidade cultural e promovam a inclusão de forma justa. A produção desse tipo de conhecimento em forma de boletim também é parte da retomada da Sudene enquanto instituição que produz conhecimento que fundamenta decisões para promover um desenvolvimento regional com mais identidade e justiça social”, afirmou.
O boletim também chama atenção para a relação entre a existência de terras indígenas demarcadas e a redução da violência. Os dados apontam que as taxas de homicídios indígenas são significativamente menores em territórios reconhecidos oficialmente, o que reforça a importância da efetivação das políticas de demarcação para garantir não apenas o direito à terra, mas também a proteção à vida.
No campo político, o levantamento evidencia a baixa representatividade indígena nos municípios nordestinos. Nas eleições de 2024, apenas 567 indígenas se candidataram a cargos no legislativo municipal, com 87 eleitos. Para o executivo municipal, foram 14 candidatos e apenas quatro eleitos. Para a socióloga e analista da Sudene, Teresa Oliveira, o fortalecimento da representação política indígena é um passo fundamental para que suas pautas sejam efetivamente incorporadas à agenda pública.
“Houve um aumento da visibilidade das populações indígenas, especialmente nos centros urbanos, mas persiste a baixa participação desses povos nos cargos municipais, o que dificulta a criação de políticas públicas que respeitem suas especificidades culturais e sociais. É um conjunto de demandas que são tão específicas que precisam ser pensadas de uma maneira apropriada para esses povos: uma educação mais contextualizada, uma política de proteção social que leva em consideração as especificidades culturais desses povos, entre outros”, explicou.
A publicação integra os esforços da Sudene para retomar sua atuação como produtora de conhecimento estratégico sobre o Nordeste. O objetivo é subsidiar governos e instituições na criação de iniciativas que contemplem a diversidade regional e contribuam para a redução das desigualdades.
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