É verdade que a Petrobras nunca mais represente 60% do produto interno bruto (PIB) do Rio Grande do Norte, como foi no passado, mas também é verdade que a indústria petrolífera continuará sendo importante para a economia do estado, uma vez que novos atores se apresentam para conduzir esse importante segmento econômico e social.
A política de desinvestimento da Petrobras, que passa rigorosamente pela produção de petróleo em terra, abriu caminho para a iniciativa privada. Por consequência, deu início ao processo de recuperação. Os números dessa nova fase ainda são tímidos, porém animadores para o futuro próximo.
A Redepetro-RN afirma que o ano se encerrará com mais de mil novas contratações no setor, com destaque para a região de Mossoró. Até o final de novembro, foram registradas 1.116 contratações. Trata-se do primeiro saldo positivo de emprego em três anos no RN, consequência do momento considerado histórico de abertura do mercado de petróleo e gás.
O presidente da Redepetro, Gutemberg Dias, ressalta que “até então, só existia um mercado, que era da Petrobras. Agora, com a entrada de novos operadores, esse mercado se abriu, e vários operadores vão produzir. Dias acrescenta que o setor terá retomada de investimentos em curto prazo; ampliação do compartilhamento dos campos com operadores menores; entrada de novos operadores para aumentar a demanda de serviços no setor e apoio político mais sistemático.
“É fundamental atenção máxima no Rio Grande do Norte à cadeia de petróleo e gás, a qual pode gerar até oito empregos indiretos para cada emprego direto”, reforça o presidente da Redepetro – associação que congrega empresas de bens e serviços do segmento no estado.
Esse novo momento é fruto da lei que autorizou a Petrobras vender à iniciativa privada os campos de petróleo que a empresa não tinha mais interesse de explorar. São os chamados “poços maduros”, com destaque para o polo “Riacho da Forquilha”, na região de Mossoró. A Potiguar E&P S.A, subsidiária da Petrorecôncavo S.A, pagou 384 milhões de dólares por 34 campos terrestres. Outros campos foram vendidos, com processos devidamente concluídos.
O deputado federal Beto Rosado (PP), autor do projeto de lei 4663/2016, que permitiu a venda dos campos maduros, afirma que havia a necessidade de flexibilizar a entrada de empresas de pequeno porte no mercado de exploração dos poços que não interessavam mais a Petrobras. O parlamentar enfrentou a luta e a resistência do Sindicato dos Petroleiros e de partidos de esquerda, “por entender que era a melhor solução para fazer voltar os investimentos no mercado de petróleo em nossa região.”
Na época de discussão sobre a entrada da iniciativa privada, Beto Rosado apontou para o potencial existente nos campos maduros e apresentou números positivos em outros países que fizeram a abertura de mercado. “No Brasil, exploramos 30% desses poços maduros, enquanto nos Estados Unidos chega a 70%. Temos aí pelo menos 40% de óleo a ser explorado”, estimou, ainda em 2016, quando defendia o projeto na Câmara dos Deputados.
O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, reforça o novo cenário da Petrobras no Rio Grande do Norte. Ao participar de um evento em Natal nesta semana, Albuquerque chamou a atenção para a nova realidade dessa área econômica do estado, ressaltando que a produção de petróleo em terra será explorada pela iniciativa privada, enquanto a Petrobras continuará com atividades dentro do seu próprio negócio, como a exploração em mar, por exemplo. “Talvez, nunca mais a Petrobras represente 60% do PIB no RN, mas a empresas continuará com atividades no estado, porém abrindo caminho para novos atores”, disse o ministro, referindo-se à iniciativa privada.
Desinvestimento no RN começou há uma década
A Petrobras decidiu mudar de rota com a descoberta do pré-sal no final da primeira década dos anos 2000. E a mudança é explicada por uma questão de mercado. A estatal transferiu os investimentos para nova atividade e, por consequência, estabeleceu o processo de desinvestimento em áreas que não interessa mais sob o ponto de vista econômico.
No Rio Grande do Norte, os investimentos da Petrobras começaram a ser sentidos há uma década e houve o primeiro grande impacto entre os anos de 2012 e 2013. Nesse período, a queda foi de R$ 300 milhões, descendo de R$ 1,6 bilhão (2012) para R$ 1,3 bilhão (2013). O impacto foi sentido de imediato na economia local. Entre 2012 e 2013 mais de 1,5 mil trabalhadores perderam emprego na região de Mossoró.
Audiência de Graças Foster com políticos do RN em abril de 2013 m(Arquivo JORNAL DE FATO)
Na época, houve reação dos agentes econômicos e políticos do estado. A então governadora Rosalba Ciarlini (atual prefeita de Mossoró) articulou uma audiência com a presidente da Petrobras na época, Graça Foster, para cobrar a retomada de investimentos da estatal no RN. A reunião, ocorrida na sede da empresa no Rio de Janeiro, em abril de 2013, contou com a bancada federal potiguar, mas não surtiu qualquer efeito positivo. Foster prometeu que a estatal não iria retirar investimentos no RN, sem cumprir. A Petrobras continuou com a política de desinvestimento, causando o desemprego e a crise econômica na área do petróleo.
Petrorecôncavo pagou US$ 266 milhões por 34 campos
A Petrobras concluiu no início deste mês a venda de sua participação em 34 campos de produção terrestres no polo “Riacho da Forquilha”, na região de Mossoró, para a Potiguar E&P S.A, subsidiária da Petrorecôncavo S.A. A operação foi concluída com o pagamento de US$ 266 milhões para a Petrobras, após o cumprimento de todas as condições precedentes e ajustes previstos no contrato.
A companhia já havia recebido US$ 28,8 milhões a título de depósito em 25 de abril, quando houve a assinatura do negócio, e haverá o pagamento de US$ 61,5 milhões condicionado à obtenção da extensão do prazo de concessão de 10 das 34 concessões.
Marcelo Magalhães: “Temos vasta experiência em revitalização de campos maduros”
Os 34 campos produziram em média 5,8 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) em 2019. Todas as concessões são 100% Petrobras, com exceção dos campos de Cardeal e Colibri, onde a Petrobras detém 50% de participação, tendo a Partex Brasil Ltda. com 50%, e dos campos de Sabiá da Mata e Sabiá Bico-de-Osso, onde a Petrobras tem 70% de participação, e a Sonangol Hidrocarbonetos Internacional do Brasil Ltda., 30%.
A operação de 34 campos maduros de petróleo é vista como a retomada otimista e consistente da exploração na bacia petrolífera potiguar. A Petrorecôncavo deve iniciar as atividades até o início do próximo ano, com a previsão de investimentos da ordem de R$ 600 milhões nos próximos cinco anos.
O presidente da Petrorecôncavo, Marcelo Magalhães, afirma que a empresa vai priorizar a economia local, inclusive, devendo ficar sediada em Mossoró. “Temos vasta experiência em revitalização de campos maduros e já fizemos isso na Bahia. Esperamos fazer isso no Rio Grande do Norte com investimento local e com mão de obra local. Vamos sediar o escritório em Mossoró”, afirmou em audiência com a prefeita Rosalba Ciarlini.
O Rio Grande do Norte é o maior produtor de petróleo onshore e o terceiro do país, superado apenas pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo, que tem exploração offshore. Mas, do pico de 100 mil barris-dia, o equivalente a 10% da produção nacional, passou a registrar 38 mil barris-dia com a decisão da Petrobras de investir prioritariamente no pré-sal.
“Essa é a consequência nociva do monopólio. Em 2005, começamos a cadastrar fornecedores de bonés para a Petrobras para, em menos de dez anos, chegar a uma sólida oferta de serviços industriais. Com o foco no pré-sal houve uma queda brutal, mas hoje consideramos o desinvestimento como uma oportunidade de retomar uma exploração consolidada e crescente com a iniciativa privada. Esse cenário é altamente positivo para as micros e pequenas empresas”, explica o diretor superintendente do Sebrae do Grande do Norte, José Ferreira de Melo Neto.
Além dos investimentos da Petrorecôncavo, outras duas concessões foram negociadas pela Petrobras. Com essa entrada da iniciativa privada, a projeção está estimada na extração de 60 mil barris-dia nos próximos 10 anos. É nesse cenário promissor que acontece a quarta edição da Mossoró Oil & Gás.
Petrorecôncavo também visa à produção de gás natural
A Petrorecôncavo, através da subsidiária Potiguar E & P, trabalha com a previsão de iniciar as operações na região de Mossoró no início de 2020. Os investimentos de R$ 600 milhões nos próximo cinco anos, conforme anúncio do presidente da empresa, Marcelo Magalhães, devem ir além da exploração dos 34 campos maduros no polo terrestre “Riacho da Forquilha”. A companhia também discute explorar a produção de gás natural na região.
“Temos interesse em construir aqui uma usina termoelétrica com objetivo de gerar energia para todas as operações”, revelou Marcelo Magalhães, em audiência com a prefeita Rosalba Ciarlini, ocorrida em maio deste ano.
No Brasil, cerca de 160 usinas termelétricas utilizam gás natural como combustível, sendo este a principal fonte do setor.
A expectativa é que a subsidiária também possa gerar empregos indiretos, na contratação de mão de obra para exploração dos campos maduros, mas também de equipamentos e terceirização de serviços em Mossoró, aproveitando a expertise da cidade no setor petrolífero. Uma das exigências da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que é a agência reguladora da atividade, é que as empresas possam operar garantindo a sustentabilidade da cadeia produtiva do petróleo, ou seja, destravando investimentos para garantir a manutenção da atividade.
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