A ciclista mossoroense Alice Melo sagrou bicampeã brasileira de Ciclista de Pista neste fim de semana, em disputa realizada no velódromo do Rio de Janeiro.
A conquista é muito importante para o projeto de Alice disputar as próximas Olimpíadas, em 2024, em Paris.
Alice integra a equipe ABEC, de Rio Claro-SP. Ela competiu em quatro provas: Madison, Velocidade Olímpica, Perseguição por Equipes e Ominium. Fez sucesso em todas.
A competição teve a participação de mais de 120 ciclistas de todo o país, incluindo aqueles que fazem parte da seleção brasileira, como é o caso da ciclista mossoroense.
A jornalista Larissa Maciel entrevistou Alice Melo para o seu prestigiado blog (https://www.larissamaciel.com.br/). O material foi publicado em 17 de março. Leia:
1- lembro que você me contou do incentivo ao esporte através do seu pai! Como foi esse começo? Alguma lembrança marcante?
Tudo começou porque meu pai era maratonista e eu acompanhava os treinamentos dele e de bike. Era um passatempo familiar nos fins de semana e as coisas começaram a ficar mais intensas. um acontecimento marcante da época era que eu acelerava na bike pra que ele pudesse acelerar correndo. Isso me deixou meio estressada e ele comprou uma bicicleta também pra pedalar comigo. Fui levando a sério, ele trabalhava a noite e chegava muito cansado e assim convidou um amigo para me acompanhar nos treinos de ciclismo. Começou a virar uma rotina. O Samuel, amigo do meu pai, se tornou o meu primeiro treinador. Eu tinha 13 anos de idade na época.
2- como começou o crescimento da modalidade? O desejo por competições e consequentemente de sair do estado?
Quando eu participei da minha primeira competição com 13 anos de idade, a intenção de participar da prova gerou uma competitividade em mim que eu não imaginava que eu tinha. Quando eu me vi sendo a última da prova, me deu vontade de treinar mais para ver até onde eu conseguiria chegar. Quando eu tinha os meus 15 anos de idade foi que eu comecei a entender o sentido do esporte na minha rotina. Foi quando ele me consumiu. Pedi minha primeira speed e minha mãe me deu, e comecei a estudar mais sobre o ciclismo. Sempre fui uma pessoa curiosa, admirava atletas de São Paulo como a Valquíria, uma das atletas que mais admiro. Eu não entendi o porquê, era uma coisa que vinha de dentro do meu coração. Talvez pela referência do meu pai, por ele não ter conseguido viver do esporte. Confesso que não sei explicar o porquê que eu sentia isso, mas eu acho que estou me descobrindo recentemente. Essa conexão com o meu pai se tornou algo muito bom para eu querer mais e mostrar que é possível sim realizar. Eu procurava um monte de informações e através do centro de excelência, em São Paulo, e eu consegui me destacar.
3- entre as maiores dificuldades do esporte está, consequentemente a falta de apoio. Hoje você é uma atleta profissional despontando no Brasil e no mundo. Como é essa vivência?
Infelizmente a gente ainda sofre muita dificuldade quanto ao investimento. Porém, quando você faz um projeto bacana, que você tem um autoconhecimento, as coisas se tornam mais fáceis. Muitas vezes a falta de informações no nosso país tornam as coisas mais difíceis, um dos exemplos é o desconhecimento quanto a lei de incentivo ao esporte, do governo federal. Você tem que preparar um projeto, fazer a captação, ver a rentabilidade, isso demora. Uma parte burocrática, trabalhosa até. É difícil ter um atleta que se entregue a uma situação como essa. É difícil encontrar mulheres que queiram trabalhar competindo com o ciclismo de pista. Vai muito da questão cultural do brasileiro para dar murro em ponta de faca. O esporte ele pode ser uma alternativa que ganhe dinheiro, mas demora um pouco. Hoje a gente vive um desejo que muitas equipes não tem coragem de enfrentar. É a cultura do brasileiro e só vai mudar com choque de realidade. O que posso dizer é: hoje, no nosso país, se tivéssemos pessoas que acreditassem como nossos dirigentes, o negócio iria evoluir. Os projetos de base foram se acabando, existia corrupção. Eu dou graças a Deus que eu participei dos momentos certos. Hoje o que nossa equipe faz é o que o Brasil deveria fazer, mas a seleção brasileira não banca nada das nossas viagens, hoje a gente tem que provar pro comitê olímpico o que tá acontecendo.
4- O ano de 2021 foi muito representativo pra você! O quanto este ano lhe impulsiona no sonho olímpico?
A Alice é filha de nordestinos, pessoas humildes, cheia de amor, mãe da amora, uma grande amiga, uma pessoa fiel ao esporte, a disciplina, aos amigos e grata por ter tantas pessoas ao nosso lado. muitas vezes pessoas que não tem certos poderes, mas tem poderes de ouvir. Eu sou talvez tudo isso e lógico, independente de qualquer coisa, uma amante do esporte e que quer contribuir com o crescimento da nossa região, da nossa cidade. Quero ser tratada como uma pessoa que quer o crescimento do esporte mossoroense. Meu pai sofreu muito preconceito por treinar cedo, era tido como louco, é uma pessoa muito especial pra mim e muitos talvez achem que meus ídolos são outros ciclistas, mas não, é o meu pai. Hoje eu quero realizar o que ele não conseguiu.
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