Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024

Postado às 19h30 | 14 Jun 2023 | redação Manipulação: documentos mostram transferências para Alef Manga

Crédito da foto: Gabriel Thá | Coritiba Alef Manga em jogo pelo Coritiba no Brasileirão 2023

Por André Ribas, Nadja Mauad e Rodrigo Saviani — Curitiba

Documentos do Ministério Público de Goiás (MP-GO), nas investigações da Operação Penalidade Máxima dois, mostram sete transferências, com o valor final de R$ 45 mil, feitas de um apostador para o atacante Alef Manga, do Coritiba.

O Globo Esporte Paraná teve acesso ao conteúdo que está no processo do MP-GO. Os extratos relevam os movimentos bancários da empresa BC Sports Management, de Bruno Lopez, apontado como um dos chefes da organização, e da esposa dele, Camila Silva da Motta, também réu no processo.

O Globo Esporte Paraná também obteve o vídeo do depoimento do lateral-esquerdo Diego Porfírio, ex-Coritiba. O defensor revelou ter participado do esquema e fez um acordo com o MP-GO para colaborar nas investigações. No depoimento, o jogador afirmou ter indicado Alef Manga no esquema para receber um cartão amarelo (veja mais abaixo).

De acordo com os extratos, Alef Manga recebeu sete PIX - pagamento instantâneo eletrônico - no valor total de R$ 45 mil. O pagamento seria em virtude do cartão amarelo recebido no jogo contra o América-MG, pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2022.

Anteriormente, Alef Manga já havia sido citado em conversa com apostadores. No último dia 26 de maio, ele prestou depoimento ao MP-GO, mas preferiu ficar em silêncio. Atualmente, ele treina normalmente com o elenco do Coritiba.

Transferências feitas para Alef Manga, em documento da Operação Penalidade Máxima — Foto: Reprodução

Transferências feitas para Alef Manga, em documento da Operação Penalidade Máxima — Foto: Reprodução

Transferências Alef Manga Operação Penalidade Máxima — Foto: Reprodução

Transferências Alef Manga Operação Penalidade Máxima — Foto: Reprodução

Pix recebido por Manga da empresa BC Sports Managemen, de Bruno Lopez

Dia 13 de setembro: R$ 4.960 mil

Dia 14 de setembro: R$ 10 mil.

Dia 19 de setembro: R$ 5 mil.

Pix recebido por Manga de Camila Silva da Motta, esposa de Bruno Lopez

Dia 2 de setembro: R$ 5 mil - véspera da partida com o América-MG.

Dia 12 de setembro: R$ 5 mil.

Dia 13 de setembro: R$ 40.

Dia 16 de setembro: R$ 15 mil.

 

Porfírio revela que indicou Manga para o esquema

Ex-Coritiba, o lateral-esquerdo Diego Porfírio confessou, em depoimento ao Ministério Público, no dia 19 de maio, o envolvimento no esquema quando defendia o clube. Ele declarou que aceitou receber R$ 50 mil para receber um cartão amarelo, no jogo contra o América-MG, pela 25ª rodada do Brasileiro de 2022.

Logo no início do depoimento, Porfírio revelou que o contato com os apostadores foi feito por Victor Yamasaki Fernandes, ex-jogador de futebol, responsável por aliciar atletas para o esquema, conforme a investigação do MP-GO.

- No jogo antes do América-MG, contra o Avaí, o Vitor Yamasaki me mandou uma mensagem para fazer a questão do cartão. Eu disse que não ia fazer naquele momento. No jogo do América-MG, ele me retornou a mandar mensagem. Eu disse concordaria. Ele falou que ia me dar R$ 50 mil se tomasse um cartão amarelo naquele jogo. Eu concordei - disse Porfírio, no depoimento.

Eu o conhecia (o Vitor), joguei com ele no Taubaté, sub-17, em 2016. Eu fiz no dia três, no dia 12 ele me mandou pix. R$ 5 mil no pix. Ele me falou que o sócio ia fazer esse R$ 5 mil. Ele me deu e o restante me entregou em mãos - continuou.

Porfírio revelou ainda que indicou Alef Manga para o esquema. Segundo o lateral, ele teria aceitado a levar um cartão também contra o América-MG. Ambos foram amarelados na partida.

- Ele perguntou se eu conhecia alguém que faria, eu falei que achava que, talvez, o Alef Manga faria. Eu cheguei nele e falei: “Alef, você faz o cartão?”. Ele disse que faz. Falei com ele e fui para o quarto. Mandei uma mensagem que o Vitor queria o contato dele. Ele falou que poderia passar, que ele ia negociar. Eu tenho até o print da conversa. Eu não insisti nada com ele, só comentei, ele disse que fazia. E eu passei o contato - revelou o lateral ao MP-GO.

Isso, exato (levamos o cartão). Sim, conversamos, dissemos que tinha dado certo, que era só esperar"

— Diego Porfírio em depoimento.

 

Diego Porfírio defendeu o Coritiba em 2022 — Foto: Felipe Dalke/Coritiba

Diego Porfírio defendeu o Coritiba em 2022 — Foto: Felipe Dalke/Coritiba

 

O que dizem as defesas

O ge entrou em contato com todos os citados na reportagem. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) não respondeu os questionamentos feitos.

O CEO do Coritiba, Carlos Amodeo, disse que o clube, através do departamento jurídico, está buscando acesso ao inquérito para verificar os documentos lá existentes e, a partir disso, avaliar as medidas que serão adotadas pelo clube em relação ao contrato de trabalho do atacante.

A defesa de Alef Manga se pronunciou através de nota: "Lamentamos o vazamento seletivo de informações de documentos sigilosos, que ainda não foram cientificados a defesa do atleta Alef Manga. Neste sentido, externamos nossa plena confiança no atleta e na Justiça, no que diz respeito aos esclarecimentos dos fatos nas respectivas esferas. Pelo exposto, aguardaremos, com parcimônia"

a defesa do lateral Diego Porfírio disse que ele "está colaborando com o Ministério Público, fazendo, inclusive, um acordo com o MP-GO para ser testemunha na nova fase da Operação Penalidade Máxima". A defesa reforça ainda que o jogador "já prestou depoimento e prestou todos os esclarecimentos".

O ge tenta contato com a defesa de Victor Yamasaki, mas ela não foi encontrada até a publicação da matéria. A de Bruno Lopez e Camila SIlva da Motta não respondeu à reportagem. A matéria será atualizada assim que tiver uma posição deles.

 
Entenda todo caso das apostas

A Operação Penalidade Máxima já fez buscas e apreensões nos endereços dos envolvidos. As investigações começaram no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Romário recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os outros R$ 140 mil após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, investigou o caso e entregou as provas ao MP-GO.

A Justiça de Goiás aceitou, recentemente, a denúncia do Ministério Público na operação Penalidade Máxima II. Os atletas, que são investigados e defendem outros clubes, vão responder por envolvimento em esquema de apostas em jogos das Séries A e B do Brasileirão. A punição pode chegar a seis anos de cadeia.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já realizou o julgamento de 15 jogadores por causa de envolvimento em esquema de apostas esportivas. Veja o resumo das sentenças:

Romário (volante ex-Vila Nova, sem clube): banimento e multa de R$ 25 mil

Gabriel Domingos (volante, ex-Vila Nova, sem clube): 720 dias de suspensão e multa de R$ 15 mil

Allan Godói (zagueiro, hoje no Operário-PR): absolvido

André Queixo (volante, hoje no Nam Dinh, do Iraque): multa de R$ 50 mil

Mateusinho (lateral, hoje no Cuiabá): 720 dias de suspensão e multa de R$ 50 mil

Paulo Sérgio (zagueiro, hoje no Operário-PR): 720 dias de suspensão e multa de R$ 70 mil

Ygor Catatau (atacante, hoje no Sepahan, do Irã): banimento e multa de R$ 70 mil

Moraes (lateral-esquerdo, hoje no Aparecidense-GO): 760 dias de suspensão e R$ 55 mil;

Gabriel Tota (meia, hoje no Ypiranga-RS): banimento e R$ 30 mil;

Paulo Miranda (zagueiro, sem clube): 1.000 dias de suspensão e R$ 70 mil;

Eduardo Bauermann (zagueiro do Santos): 12 jogos de suspensão;

Igor Cariús (lateral-esquerdo do Sport): absolvido;

Fernando Neto (volante, hoje no São Bernardo): 380 dias de suspensão e R$ 15 mil;

Matheus Gomes (goleiro, sem clube): banimento e R$ 10 mil;

Kevin Lomónaco (zagueiro, hoje no Bragantino): 380 dias de suspensão e R$ 25 mil.

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