Por Bruno Cassucci e José Edgar de Matos — ge
As contas do primeiro ano da gestão Augusto Melo no Corinthians foram reprovadas na noite de segunda-feira. Seguindo recomendação de dois órgãos de controle interno do clube, o Conselho Deliberativo impôs uma derrota expressiva à diretoria alvinegra:130 a 73 votos, com seis abstenções.
Horas antes da votação ocorrida no Parque São Jorge, o Conselho de Orientação (CORI) emitiu um parecer no qual fez alertas sobre a saúde financeira do Corinthians e alegou falta de acesso a documentos para recomendar a reprovação do balanço de 2024.
O contrato do atacante Memphis Depay e faturas de cartão de crédito corporativo estão entre os documentos que o CORI diz não ter recebido da diretoria (veja mais detalhes abaixo).
Na sexta-feira passada, os três membros do Conselho Fiscal já do clube já tinham recomendado a reprovação das contas por unanimidade. Eles também alegaram falta de apresentação de documentos, além de descumprimento de regras.
Apesar dos pareceres, o Conselho Deliberativo poderia aprovar as contas do Corinthians em 2024. Entretanto, mais de 60% dos membros do colegiado se manifestaram de forma contrária.
Responsável por apresentar o balanço aos conselheiros na segunda-feira, o diretor cultural Raul Corrêa enxergou o resultado da votação como algo "político".
A reprovação das contas deve ensejar novo processo de impeachment contra Augusto Melo. O presidente, por sua vez, minimizou:
– A gente está muito tranquilo, está tudo de boa, está tranquilo. Agora é provar na (Comissão de) Ética o que teve de documentos, tudo certinho – disse o presidente, ao deixar o Parque São Jorge, em breve fala à página "Identidade Corinthiana".
Contrato de Memphis e cartões de crédito
No parecer do Cori ao qual o ge teve acesso, o órgão lista uma série de motivos pelos quais julga ter havido "gestão temerária" de Augusto Melo. Entre eles está o aumento do passivo em R$ 829 milhões em apenas um ano e falta de documentos relacionados a gestão do futebol e outras áreas do clube.
O Cori alega não ter recebido respostas dos ofícios enviados sobre as faturas dos cartões de crédito no valor de R$ 2,8 milhões, até junho de 2024. Posteriormente, o gasto chegou a R$ 4,8 mi, com “divergências não discriminadas até os dias atuais”, segundo o órgão.
O contrato de Memphis Depay, que pode alcançar R$ 120 milhões com bônus, também não teria sido apresentado segundo o CORI.
– Tendo em vista os relevantes valores de pagamentos ao jogador divulgados pela imprensa não pudemos opinar sobre a valores pagos pelo patrocinador e pagos pelo clube que podem ter impacto relevante junto aos valores orçados e impacto no fluxo de caixa do clube – diz trecho do parecer.
Os conselheiros também alegaram que não receberam explicações sobre como foi usado o empréstimo de R$ 150 milhões captado da XP, com garantia do contrato com a Liga Forte União. O Cori afirma que, com a falta de informações sobre o assunto, o trabalho de fiscalização foi limitado.
Outros pontos relevantes citados no relatório que recomendou a reprovação do balanço são:
Falta de providências jurídicas em relação aos distratos com os patrocinadores Pixbet e VaideBet;
Relatório sobre utilização de materiais esportivos - segundo o CORI, há notas fiscais que totalizam R$ 12 milhões, o triplo do valor estipulado em contrato;
Ausência de divulgação dos balancetes financeiros mensais;
Falta de atualização e/ou revisão do orçamento do clube;
Existência de divergência de saldos entre os controles gerencias e de sistema;
Contratação de empresa de auditoria de forma tardia;
Falta de reconhecimento dos Demonstrativos Contábeis da Neo Química Arena junto aos do clube
Gasto excessivo no futebol e desrespeito ao Profut
Parque São Jorge, sede do Corinthians — Foto: Bruno Cassucci
O Conselho Fiscal do Corinthians, em relatório, aponta gastos acima da previsão orçamentária. Nas despesas financeiras, por exemplo, o órgão aponta R$ 112 milhões além do orçado.
Em relação às despesas operacionais (gastos com pessoal, gerais e administrativo, jogos e serviços), o valor apresentado foi de R$ 58 milhões a mais do que o orçado.
– Não houve revisão do orçamento na metade do ano, como previsto em estatuto. Tal ausência de revisão orçamentária, em tese, culminou no desrespeito de tal orçamento a que estava a DF (Diretoria Financeira) estava vinculada, em especial as despesas financeiras e operacionais, como relatado – argumenta o Conselho Fiscal no parecer.
Tags: