Por Vilma Torres / Secom UFRN
Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sistematizou o inventário do patrimônio geológico do estado. Antes do projeto, alguns Locais de Interesse Geológico (LIGs) já haviam sido identificados, contudo sem uma sistematização ou mesmo critérios para identificação. A falta de organização das publicações impedia a caracterização das informações anteriores como um inventário propriamente dito.
Nos pontos listados anteriormente pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleontológicos, apareciam o Pico do Cabugi, o Lajedo de Soledade e o Atol das Rocas. Somados a eles também havia LIGs mapeados durante os trabalhos para o inventário do patrimônio geológico no território do Projeto Geoparque Seridó.
Com o novo trabalho, os pesquisadores ampliaram os pontos de observação em todo o RN e chegaram a 150 novos locais.
A equipe que organizou o inventário é formada pelos pesquisadores do Pibic-CNPq Marília Cristina Santos Souza Dias, Filipe Freire Alencar, Ítalo Mendonça Nascimento Barbalho e pelo professor Marcos Antonio Leite do Nascimento, do Departamento de Geologia (CCET/UFRN).
O resultado da pesquisa e os lugares apontados como novos LIGs, foram publicados recentemente no artigo Inventory of the Geological Heritage of the State of Rio Grande do Norte, NE of Brazil, em uma das melhores revistas internacionais sobre patrimônio geológico, a Geoheritage.
O professor Marcos Nascimento diz que, com o levantamento feito para o inventário, é possível apontar usos práticos para as novas informações. “Dois principais usos podem ser destacados. Um deles são as práticas turísticas como novos atrativos, principalmente para o uso geoturístico, e o outro apoiado em práticas educativas, sendo usados para popularização do conhecimento geocientífico nos ensinos fundamental, médio e superior”, explica.
Durante o levantamento, os pesquisadores contam ter ficado admirados com alguns pontos que se mostram frequentemente usados, seja de maneira científica, educativa ou turística, como os diques de diabásios do Rio Salgado, o calcário do Lajedo de Soledade e as calcissilicáticas da Mina Brejuí.
Trabalho sem fim
Um inventário, como brinca Marcos, nunca acaba de ser feito, apenas é interrompido. Isso porque, com o passar das estações, novos locais de interesse geológico podem ser descobertos e alguns existentes podem ser destruídos ou até mesmo descaracterizados. Por isso que todo inventário deve ser revisado de tempos em tempos.
O artigo da Geoheritage também ressalta as ameaças contra os afloramentos – em Geologia, um afloramento é qualquer exposição de camada, veio ou rocha na superfície do terreno – e sugere que a situação exige ações urgentes de manejo.
Segundo a pesquisa, as principais ameaças associadas aos LIGs são a incapacidade das autoridades em identificar, proteger e gerir esses locais; a falta de monitoramento; a inexistência de contato com os proprietários dos locais e seus potenciais utilizadores; o mau uso ou a destruição intencional e a falta de conhecimento sobre a existência desses locais.
Este último problema é indicado pelo professor como o mais danoso. “Acredito que a principal atitude a ser tomada é considerada a primeira de todas: é a produção do inventário, pois com ele teremos a real noção de quais são os LIGs e com isso podemos trabalhar diferentes ações que venham mitigar os impactos sobre eles”, diz Marcos.
A rocha conta a história
O artigo da Geoheritage diz que as rochas são capazes de contar a história de um território. Então, o que as rochas potiguares contam sobre a nossa história? Marcos responde:
“Ler o que tem numa rocha não é simples e nem fácil, mas nós geólogos estamos preparados para fazer essa leitura. O estado do Rio Grande do Norte apresenta um dos mais completos e belos patrimônios geológicos encontrados no Nordeste brasileiro e talvez no Brasil. Esses são decorrentes dos inúmeros processos naturais a que este estado foi submetido ao longo do Tempo Geológico”.
No Rio Grande do Norte, existe uma diversidade de rochas constituindo exemplares científico-didáticos-turísticos. No estado, temos rochas metamórficas que falam de um passado bem distante, com cerca de 3,6 bilhões de anos, sendo consideradas as rochas mais antigas da América do Sul. Aqui também encontramos rochas vulcânicas de 130 milhões de anos que mostram a separação dos continentes sul-americano e africano.
E não apenas isso: no RN, rochas sedimentares acumulam petróleo e gás em profundidade e estão presentes em falésias no litoral, junto com sedimentos de dunas expostas ao longo das praias potiguares.
Além disso, destacam os pesquisadores, as terras potiguares têm sítios arqueológicos com inúmeras pinturas e gravuras esculpidas em rochas, bem como sítios paleontológicos com fósseis de diferentes idades.
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