Amanda Menezes - Especial / UFRN
Goiaba, jabuticaba, pitanga, uvaia, cambuí e araçá. Esses são alguns frutos da família Myrtaceae, foco de um estudo científico que reconstruiu a história evolutiva de diversas espécies desse grupo. De 2.200 espécies do neotrópico, 712 tiveram o parentesco estabelecido, marcando uma das famílias mais diversas que desenvolvem madeira da região.
A pesquisa, cujo título é Towards a species-level phylogeny for Neotropical Myrtaceae: Notes on topology and resources for future studies, foi publicada no American Journal of Botany.
Vanessa Staggemeier, do Departamento de Ecologia, do Centro de Biociências (Decol/CB/UFRN), uma das coordenadoras do estudo, aponta que reconstruir os relacionamentos filogenéticos das espécies permite a identificação de plantas com propriedades semelhantes, de acordo com o parentesco.
“Por exemplo, se eu quero uma fruta mais rica em vitamina C do que a goiaba, eu olho onde ela está na linhagem e pego espécies próximas para estudar”, disse. De acordo com a pesquisadora, espécies ricas em antioxidantes, com propriedades antimicrobianas ou anti-inflamatórias podem ser rastreadas na filogenia para serem aplicadas na medicina e na produção de cosméticos em estudos futuros.
A pesquisa oferece uma árvore calibrada, que além de esclarecer o relacionamento entre as espécies, estabelece quando surgiram as linhagens que deram sua origem. Os dados são importantes para os estudos de macroevolução, por exemplo, utilizados por alunos de pós-graduação em Ecologia no projeto Desvendando o tesouro da biodiversidade: explorando genes e coleções de museus para conservar a diversidade na Floresta Atlântica e promover a ciência-cidadã, coordenado por Vanessa. Os pesquisadores conseguem analisar questões ecológicas, como o papel dos animais que se alimentam dos frutos dessa família.
“Esse é o primeiro estudo de uma série de trabalhos que a gente vai publicar nos próximos meses e anos, tentando esclarecer por que essa família é tão diversa no neotrópico”, explica. “É como se a gente usasse essa família como um guarda-chuva. Ao contar a história dela, a gente extrapola a história da floresta toda”, completa.
Artigo foi desenvolvido ao longo de cinco anos
Legenda: Jair Faria e Eve Lucas em viagem de campo para coleta de materiais, na Bahia
A análise do DNA extraído das plantas e o sequenciamento genético permitiu que várias espécies não identificadas fossem descritas como novas para a ciência, e as identificadas erroneamente, fossem corrigidas. Vanessa explica que foram mais de mil sequências de DNA geradas por esse estudo, e que a reconstrução foi feita a partir da combinação de nove marcadores moleculares, que podem contar diferentes pedaços da história genética das espécies.
A avaliação consegue dar um direcionamento para estudos futuros, focando o recurso financeiro na análise dos marcadores mais informativos e para preencher lacunas taxonômicas ou geográficas na amostragem das espécies neotropicais.
O artigo foi desenvolvido ao longo de cinco anos, sob a liderança de Vanessa e Thaís Vasconcelos, da Universidade de Michigan. Ao todo, foram 24 pesquisadores, e teve participação de 15 instituições nacionais, principalmente federais, duas universidades dos Estados Unidos, uma universidade da Colômbia, e o Jardim Botânico de Kew no Reino Unido. Quase todo ano, o grupo participa de um simpósio no Congresso Nacional de Botânica, que ajuda a construir essa rede de colaboradores.
“Meu interesse nisso é para ajudar na conservação dos mais diversos ecossistemas, pois sabendo onde que surge essa diversidade, temos mecanismos para atuar na conservação das espécies”, finaliza Vanessa.
Primeira patente da UFRN celebra 10 anos
Corria o ano de 2014. O Brasil se preparava para sediar uma Copa do Mundo; no segundo semestre, conflito entre Israel e Hamas; Obama e Castro ensaiavam uma aproximação inédita entre Estados Unidos e Cuba. Entretanto, para a UFRN, dois fatos marcaram esse ano: a concessão de sua primeira carta-patente e a eleição para reitor. Vamos nos ater ao primeiro agora.
A pesquisa desbravadora teve como autores os pesquisadores Afonso Avelino Dantas Neto, Eduardo Lins de Barros Neto, Geraldine Angélica Silva da Nóbrega e Tereza Neuma de Castro Dantas, e recebeu o nome de Processo de desidratação do gás natural por microemulsão. Eles explicam que, na época do estudo, o uso de gás natural estava em crescimento, mas existia a preocupação com a qualidade do gás, em especial com o teor de água, que em níveis elevados pode prejudicar os motores.
“Assim, partimos para o desenvolvimento de uma nova tecnologia de desidratação do gás natural utilizando sistemas microemulsionados. Os resultados foram satisfatórios e concederam ao gás um bom desempenho como combustível. O uso de microemulsão foi inovador, mas com as novas pesquisas, conseguimos melhorar o desempenho e diminuir os custos. Isso ocorreu, em parte, pois a partir das microemulsões, desenvolveu-se as nanoemulsões, que são eficientes, de menor custo e, assim, a aplicação industrial fica mais viável”, pontuou Tereza.
Com outras quatro concessões recebidas, a cientista salienta também que, desde que o grupo iniciou as pesquisas com microemulsões e suas aplicações em diferentes áreas industriais, com aperfeiçoamentos e inovações na área, a área tem crescido muito e aberto novas fronteiras para o desenvolvimento de pesquisas. Tereza Neuma identifica ainda que, quanto à ampliação das áreas de aplicação, hoje já foram desenvolvidos novos métodos de melhorias na recuperação de petróleo, remoção de derivados de petróleo de águas e de solos contaminados. “Todos com eficiência e custo/benefício”, frisa.
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