Sábado, 23 de novembro de 2024

Postado às 09h45 | 28 Jul 2024 | redação Medicando bebês: simulador promete melhorar aspectos de ensino

Crédito da foto: Cícero Oliveira /UFRN Estudante pratica administração subcutânea de medicação com o simulador

Por Wilson Galvão - AGIR/UFRN

Um simulador de baixo custo, que busca promover o treinamento de habilidades referentes à administração de medicamentos em bebês que estão sendo amamentados, é a mais recente invenção dos cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Fruto de uma tese do Programa de Pós-graduação em Enfermagem, o equipamento foi construído com materiais acessíveis, o que permite a reprodução integral em larga escala e a ampla utilização da simulação clínica. Esse é um método de ensino que promove a autonomia, a autoconfiança e o aumento das habilidades e da aprendizagem dos estudantes.

Marília Souto de Araújo, uma das pesquisadoras envolvidas, identifica que o ensino em enfermagem enfrenta diversas limitações, entre elas, a formação prática na administração de medicamentos em lactentes, crianças recém-nascidas, devido à escassez de oportunidades para o treino dessa habilidade. Segundo ela, a administração de medicamentos é a prática mais comum realizada pelos profissionais de enfermagem, contudo é considerada uma atividade complexa, tendo em vista a necessidade de conhecimento teórico, de habilidades práticas e de raciocínio clínico.

No âmbito da pediatria, essa discussão ganha maiores proporções, já que a administração de medicamentos em crianças demanda maiores habilidades e competências. No caso de recém-nascidos que estão sendo amamentados, o cuidado é redobrado, considerando as inúmeras formas de diluição do medicamento e os riscos relativos à toxicidade dele. “Para driblar a dificuldade, o uso de simuladores é um método de ensino muito difundido. No entanto, muitos simuladores disponíveis no mercado apresentam valores expressivos, o que constitui um dos principais obstáculos para sua disseminação pelas instituições formadoras. O custo final do nosso simulador foi substancialmente inferior ao praticado no mercado”, frisou Marília.

O simulador desenvolvido, que tem o comprimento e o peso de um lactente, é um manequim com articulações móveis que permite a administração de medicamentos nas três principais vias de administração parenteral: subcutânea (sob a pele); endovenosa (administrada direto na veia do paciente); e intramuscular (aplicada direto no músculo).

As articulações móveis presentes no simulador propiciam maior mobilidade e diferentes posições no momento da administração dos medicamentos. “O simulador tem também o objetivo de permitir a administração de líquidos, considerando que tal fator torna as práticas simuladas mais realísticas. Ressalta-se que os simuladores comerciais existentes não oferecem essa possibilidade”, salienta Marília Araújo.

 

 Grupo de cientistas testa grau de segurança

A orientadora da pesquisa que gerou o depósito de pedido de patente, Soraya Maria de Medeiros, pontua que o grupo de cientistas realizou um estudo de intervenção, identificando que 18 estudantes apresentaram redução de lacunas práticas nos procedimentos de administração de medicamentos. O estudo também avaliou como o grupo se sentia em relação ao grau de segurança para essa administração.

“No geral, os estudantes sentiam-se inseguros para realizar os procedimentos. Após a utilização do simulador, o percentual de segurança teve um aumento substancial, destacando-se a via subcutânea, em que todos os estudantes afirmaram sentir-se seguros para realização do procedimento” destaca a docente do Departamento de Enfermagem.

Soraya fala, ainda, que o grupo de pesquisadores está conduzindo estudos de avaliação do simulador, por meio de sua aplicação prática. Esses resultados estão sendo divulgados em artigos científicos e apresentações em eventos da área.

O equipamento, inclusive, teve sua funcionalidade e aparência validadas por docentes da UFRN. Para a construção dele, foram utilizados manequim de corpo inteiro, silicone com catalisador, espuma laminada e garrotes. Esses materiais implicaram a confecção de um dispositivo de baixo custo, tornando viável que professores e instituições os adquiram ou construam simuladores semelhantes; o que proporciona oportunidades de prática no âmbito do ensino da área de saúde. Desse modo, a criação tem o intuito de possibilitar aos estudantes maiores oportunidades de experiências simuladas e reduzir diferenças no ensino, usualmente caracterizadas pelas disparidades econômicas e sociais.

Terceiro inventor envolvido na descoberta científica, Raphael Raniere de Oliveira Costa narra que, ao pesquisar simuladores comerciais, não foi identificado nenhum direcionado ao uso em lactentes que dispusesse de três vias de administração ao mesmo tempo e que permitisse a infusão de líquidos. “Ou seja, equipamentos com os quais os estudantes pudessem, de fato, administrar o medicamento”, destaca o professor da Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM/UFRN).

 Patenteamento exige critérios temporais previstos em lei

O Depósito de pedido de patente foi realizado no dia 5 de julho pela UFRN junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A caminhada para a concessão de uma patente exige obediência a critérios temporais previstos em lei.

Após o depósito, o Instituto guarda o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações. Passados os três anos, o Instituto parte para a análise em si. Por esse motivo, é comum a concessão ocorrer após quatro anos do depósito.

Na busca por maior rapidez, a Universidade começou a usar a opção de ingresso no trâmite prioritário do Instituto, modalidade de fluxo, criada pelo INPI em 2023, que busca reduzir os prazos de concessão.

“Essa medida está sendo adotada em reconhecimento à necessidade de, no mundo acelerado em que estamos, tentarmos, também, apressar os processos de proteção dos nossos ativos, impactando os processos de transferência de tecnologia, nosso objetivo maior. Esperamos diminuir esse tempo para menos de três anos”, explica o diretor da Agência de Inovação (Agir/UFRN), Jefferson Ferreira de Oliveira.

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