Sábado, 19 de abril de 2025

Postado às 09h00 | 15 Abr 2025 | redação Manguezais do RN abrigam 25,2 milhões de toneladas de carbono azul

Crédito da foto: Reprodução Rio Grande do Norte está entre os cinco estados com as maiores reservas no Nordeste brasileiro

Da Redação do Jornal de Fato

O estudo “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais”, organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e pelo projeto Cazul, revela que o Rio Grande do Norte está entre os cinco estados com as maiores reservas de carbono azul no Nordeste brasileiro. São 25,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO?) armazenadas em seus manguezais.

Isso representa pelo menos R$ 651,9 milhões em créditos de carbono no mercado voluntário. São números impressionantes que mostram a importância dos manguezais potiguares, no entanto, sem despertar nas autoridades o compromisso de preservação. As áreas de manguezal enfrentam ameaças crescentes, como desmatamento, poluição e a pressão da produção de commodities.

Espera-se que, com a regulamentação do mercado de carbono em dezembro de 2024 (Lei 15.042/2024), seja fortalecida a transição para uma economia de baixo carbono. Em um cenário favorável, com uma precificação desejada de 100 dólares a tonelada, estima-se que o valor do carbono armazenado nos manguezais potiguares possa alcançar até R$ 14,1 bilhões.

Para garantir a manutenção desse estoque, chamado de carbono azul, por estar associado a ambientes marinhos, os estados precisam proteger seus manguezais, mantendo-os saudáveis. O professor Alexander Turra, titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, afirma que “é possível assegurar todos os benefícios que esses ecossistemas oferecem, como a proteção da linha de costa, reduzindo a força e o alcance das ondas, a manutenção da produção pesqueira, a conservação da biodiversidade, entre muitos outros.” Além disso, os créditos de carbono representam uma estratégia adicional para financiar a conservação dessas áreas.

O Nordeste é a região com o maior número de municípios inseridos nesse ecossistema: 197 cidades, que juntas abrigam cerca de 20 milhões de pessoas. Ao todo, no Brasil, os manguezais armazenam 1,9 bilhão de toneladas de CO?, o que representa um potencial de geração de até R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono, conforme o valor praticado no mercado voluntário. Esse valor pode alcançar até R$ 1,067 trilhão, caso o preço da tonelada de CO? atinja a marca de R$ 562,00, em um cenário de transição para uma economia de baixo carbono.

No mercado voluntário brasileiro, a tonelada de CO? já foi negociada a R$ 25,85, com a cotação de R$ 5,62 para cada dólar. Considerando o aumento médio anual de 2,9 milhões de toneladas do estoque de carbono azul, os pesquisadores estimam um incremento de R$ 75,2 milhões por ano no mercado voluntário.

 

Parcela significativa das emissões vem de ações humanas

O mercado de créditos de carbono ganha força com as metas ambientais de cada país para frear o aquecimento global, tornando necessária a descarbonização de diversos setores da economia. Nesse cenário, o crédito de carbono é um mecanismo que permite que empresas e países compensem suas emissões de CO?, comercializando créditos e investindo em projetos que reduzam ou capturem gases do efeito estufa, como a conservação de florestas e manguezais.

Parcela significativa das emissões vem de ações humanas, como o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agropecuária e processos industriais.

Parte desse carbono é capturada pela vegetação, mas também por outros organismos fotossintetizantes, como as algas, e armazenada em troncos, galhos, raízes, folhas e, especialmente no manguezal, no solo, auxiliando no equilíbrio atmosférico e minimizando o aquecimento global e seus eventos extremos.

Cada crédito equivale a uma tonelada de CO? que deixou de ser emitida ou foi absorvida da atmosfera.

 

Costa brasileira tem 1.390.664 hectares de manguezais

O Brasil possui a segunda maior extensão de manguezais do planeta, ficando atrás apenas da Indonésia. O estudo “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais” identificou a presença de 1.390.664 hectares de manguezais ao longo da costa brasileira - área equivalente a nove cidades de São Paulo ou 11 cidades do Rio de Janeiro. Eles estão presentes em 300 municípios brasileiros - principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Em relação aos biomas, 75% estão conectados com a Amazônia, 18% com a Mata Atlântica, 5% com o Cerrado e 2% com a Caatinga.

Estima-se que o Brasil já tenha perdido cerca de 25% da vegetação original de seus manguezais. As principais ameaças a esse ecossistema incluem a conversão de áreas para a produção de commodities na aquicultura e na agricultura, especialmente para o cultivo de camarões, peixes, arroz e palma; o desmatamento para extração de carvão vegetal e madeira; a ocupação desordenada devido ao crescimento urbano; práticas predatórias de pesca, como a pesca de arrasto e a captura de espécies fora do período de defeso; além da poluição causada por resíduos químicos (que incluem agrotóxicos e derramamento de óleo, por exemplo), além de lixo e esgoto. Efeitos das mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar e a erosão costeira, também intensificam os riscos para esses ambientes.

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