Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024

Postado às 12h00 | 25 Set 2022 | redação Mossoró responde por quase metade das doações de órgãos no RN

Crédito da foto: Reprodução Transplante de órgão

Por Edinaldo Moreno / Repórter do Jornal de Fato

Durante o primeiro semestre de 2022 o Rio Grande do Norte teve 27 doações de órgãos registradas no Sistema Nacional de Transplantes (SNT), responsável pela regulamentação, controle e monitoramento do processo doação e transplantes realizados no país. Deste total, o Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), em Mossoró, respondeu por 11 doações, o que corresponde a 44% do total de procedimentos realizados nos seis primeiros meses do ano.

A reportagem obteve os dados por meio da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). Comparado ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de doações e transplantes no 1º semestre de 2022.

Foram 21 procedimentos este ano (11,8 pmp - por milhão de população), enquanto que em 2021 foram 11 (6,2 pmp). O RN está próximo da média nacional de 15,4 pmp no 1º semestre de 2022 e 13,7 nesse período no ano passado.

De acordo com números divulgados pela pasta estadual, o RN realizou neste primeiro semestre 27 transplantes de rins no estado, 82 de córnea, 70 de medula óssea, três de pele e o um de coração, que foi o primeiro em dez anos no RN. Durante o ano passado, foram dois transplantes de rins, 39 de córnea e 52 de medula, não realizando de pele.

HOSPITAL TARCÍSIO MAIA

O último balanço do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), divulgado no início do mês, mostrou que a unidade realizou 8 cirurgias de captação de órgãos. O número ultrapassou o registrado no ano passado, quando houve 6 captações durante todo o ano de 2021.

O HRTM desenvolve o trabalho de doação de órgãos por meio da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgão e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). Ela é composta por uma equipe multidisciplinar, que foi reconstituída no Hospital em julho de 2016. Ao longo desse período, o Tarcísio Maia teve 40 captações de órgãos no Hospital.

A unidade hospitalar localizada na segunda maior cidade potiguar realiza a captação de múltiplos órgãos em pacientes com diagnóstico de Morte Encefálica, após consentimento familiar. O diagnóstico de Morte Encefálica é fundamental no processo de doação de órgãos, tendo em vista que alguns órgãos necessitam ser retirados antes da parada cardíaca para poder viabilizar o transplante. 

A Morte Encefálica significa a parada de todas as funções do cérebro, sendo, portanto permanente e irreversível. Para que não ocorram dúvidas, o diagnóstico somente é confirmado após a realização do Protocolo de Morte Encefálica, estabelecido por meio de Resolução do Conselho Federal de Medicina, no qual é composto por 3 exames, dos quais, 2 exames clínicos feitos por médicos diferentes, em intervalos de tempo determinados de acordo com a faixa etária do paciente e 1 exame complementar, (no HRTM é realizado um Eletroencefalograma), que confirme a inexistência total de atividade cerebral.

Após a confirmação, a equipe da CIHDOTT realiza uma entrevista familiar para saber se os seus membros são favoráveis ou não à doação dos órgãos do seu ente querido. A autonomia da família é totalmente respeitada.

SETEMBRO VERDE

A campanha “Setembro Verde” incentiva conscientização sobre a doação de órgãos. O mês foi escolhido em decorrência do Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado em 27 de Setembro. A data, instituída pela Lei nº 11.584/2007, visa conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto.

A doação de órgãos proporciona o prolongamento da expectativa de vida de pessoas que precisam de um transplante, permitindo o restabelecimento da saúde e, por consequência, a retomada das atividades normais. Devido ao número de partes do corpo que pode ser cedido, cada doador pode salvar oito vidas ou mais.

Para doadores vivos, qualquer pessoa com mais de 18 anos e boas condições de saúde é um potencial doador de órgãos. Para isso, é necessária uma avaliação clínica que verifica se há condições de saúde para suprir a ausência dessa parte do corpo.

Doadores vivos podem ceder um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão, para familiares de até quarto grau. Para não parentes é necessária uma autorização judicial.

Após o óbito, só é permitido doar órgãos de pessoas que tiveram morte encefálica, como foi explicado mais acima. Após uma avaliação das causas do óbito, qualquer tipo de doação pode ser feita. Não é possível escolher quem irá recebê-los e depende da autorização de um familiar.

 

RN tem mais de 800 pessoas na fila por transplante

O último levantamento divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) mostrou que mais de 800 pessoas em todo o Rio Grande do Norte aguardam na fila pelo transplante de algum órgão, como rins, córneas, medula e coração.

O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor), por outro órgão ou tecido normal de um doador vivo ou morto.

No estado, a maior quantidade de pacientes em espera é pelo transplante de córneas, com 490 pessoas, seguido pelos rins com 270 pacientes aguardando; medula com 70 pessoas e coração com três pessoas na fila.

“Fazer essa fila andar depende diretamente da doação de órgãos que, por sua vez, depende dos familiares aceitarem a doação. Este ato impacta não só na vida dos potiguares, mas se estende por todo o território nacional, já que podemos conseguir enviar os órgãos para estados vizinhos”, explicou Rogéria Medeiros, coordenadora da Central Estadual de Transplantes.

 

 Doação de órgãos só pode ser realizada com consentimento familiar

A doação de órgãos no Brasil somente é possível com o consentimento da família. O país tem ainda um alto número de recusas familiares para o procedimento. Por esse motivo, é importante ampliar o debate sobre a temática, com o intuito de contribuir para o aumento das doações, por meio de campanhas para estimular e conscientizar a população.

Além disso, é de extrema relevância que as pessoas manifestem o seu desejo em ser doador de órgãos, discutindo em família a decisão tomada. Houve um tempo em que a doação de órgãos no Brasil era consentida e presumida, ou seja, todas as pessoas eram doadoras, a não ser que expressassem vontade contrária em seu documento de identificação.

No entanto, a partir de 2001, a doação passou a ser consentida, ou seja, atualmente, a doação de órgãos só pode ser realizada com o consentimento familiar. Ela deve ser autorizada por parentes de primeiro e segundo graus, na linha reta e colateral, ou do cônjuge.

Pesquisas identificam que os dois principais motivos das negativas familiares são o conhecimento limitado do conceito de morte encefálica e o desconhecimento do desejo do potencial doador, tendo em vista que muitas pessoas são favoráveis à doação de órgãos, mas não expressam sua vontade em vida, para conhecimento da família.

O Brasil vinha aumentando os números de doações de órgãos nos anos que antecederam à pandemia da COVID-19, porém nos últimos dois anos, em decorrência do novo coronavírus, houve uma redução desses números. Em 2022, os números estão melhorando, no entanto, a taxa de recusa familiar ainda é alta.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tinha, em junho, mais de 56.000 pessoas na fila de espera por transplante de órgãos.

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