Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024

Postado às 14h45 | 20 Mar 2023 | Redação Jovem com autismo e TDAH vende produtos personalizados em Mossoró para arcar com custos da faculdade

Crédito da foto: Divulgação

Por Fábio Vale/Da Redação 

"Cada vez mais percebo que posso realizar meus sonhos, mesmo os mais difíceis". A declaração é do jovem Jonnas Patrick, de 23 anos de idade, que vende produtos personalizados em Mossoró para ajudar a arcar com os custos envolvidos em cursar a faculdade de Psicologia em uma universidade particular local. 

Patrick conta que foi diagnosticado com TDAH (Transtorno De Déficit de Atencão e Hiperatividade) ainda na infância e que o diagnóstico de autismo só veio quando ele tinha 20 anos. 

"Conviver com TDAH sempre foi muito desafiador e mesmo hoje, ainda existem muitos desafios. Já receber o diagnóstico do autismo, foi muito libertador, pois, eu nunca consegui me sentir pertencente ao mundo até descobrir o que eu realmente sou, um autista com muitos sonhos. Os quais, foram barrados por muito tempo, pelo fato de não saber o que eu era ou como era, e não saber quais ajudas procurar", contou Patrick à este instablog, que tomou conhecimento da história dele depois de visualizar uma postagem curta em uma rede social divulgando o trabalho manual dele.

Ele confidenciou que, por conta das necessidades específicas, sempre teve dificuldades em trabalhos formais e teve então que recorrer à outras alternativas. "Então juntei minha arte com a sublimação e ela tem me ajudado a entender o valor do trabalho e do empreendedorismo. Eu e meu irmão, que também passou em Matemática na UERN, passamos a levar meus produtos nas ruas, para vender e contar um pouco da minha história", disse Patrick, que trabalha com produtos personalizados, como copos.

"O dinheiro que fazemos com as vendas, tem nos ajudado a arrecadar fundos para nos manter nas nossas faculdades. Mesmo a dele sendo pública, e a minha com bolsa total, ainda sim, tem gastos que se não trabalhassemos, não teríamos como custear", destacou o jovem, lembrando que a trajetória dele com os estudos foi trilhada de muitos desafios. Ele relata que quando conheceu a atual esposa ainda não tinha concluído nem o ensino médio, porque não conseguia se adaptar e como ainda não tinha o diagnóstico preciso também não tinha muita assistência para as necessidades especiais dele. 

Patrick ressalta que com a ajuda da companheira conseguiu concluir o ensino médio e também fazer a prova do ENEM. "Para falar a verdade, só o fato de ter conseguido fazer a prova foi o mesmo que passar no vestibular, foi uma conquista, me senti capaz. E então, em janeiro, veio a surpresa... tirei 780 na redação no meu primeiro Enem. Eu fiquei tão animado e percebi que talvez minha trajetória não terminasse ali. Veio o SISU e tinham tantas possibilidades, o fato de poder entrar em alguma universidade foi algo tão incrível que passei noites sem dormir, ansioso esperando o resultado", relembra Patrick, revelando até que ficou em dúvida em cursar Publicidade e Propaganda, Biologia ou Filosofia na UERN, mas, que depois optou por Filosofia e que passou em 7° lugar na ampla concorrência. 

"Depois veio o PROUNI. Vou ser sincero, quando coloquei a opção de Psicologia na Uninassau, eu jamais imaginei que conseguiria passar. Acho que esse curso era um desejo inconsciente, mas, que eu nunca imaginei ser capaz de cursar. Mas olha só, eu consegui. Passei na vaga para pessoa com necessidades especiais e estou na minha primeira semana de aula", comemora Patrick, mencionando que quer muito se entregar ao curso de psicologia, participar de congressos, eventos e, assim, mostrar que sonhos podem ser reais. "O primeiro passo é acreditar na sua capacidade de realizá-los", frisou o jovem deixando uma mensagem motivacional.

"Para as pessoas com a
Autismo e TDAH, eu digo simplesmente: Sonhem, sonhem bastante, pois temos um potencial gigantesco, que a acaba tornando o mundo pequeno. Eu também tenho uma mensagem para responsáveis por crianças autistas: que, por favor, os ajudem, sonhando junto com eles e não barrem, de forma alguma, seus sonhos. Por mais simples e insignificantes que esses sonhos possam parecer, eles não são. Pois, tudo que pode ser pequeno na visão de outros, para nós, é gigantesco", afirmou ele.

 

Frustração em formatura 

A trajetória de Patrick conta com conquistas, desafios, superações e situações que chamam a atenção para a necessidade de mais acessibilidade em todas os aspectos da vida; como um momento negativo que vivenciou durante a formatura da esposa dele, com a qual está junto desde 2020.

"Quanto à formatura, foi algo muito idealizado e planejado. Como trabalho com brindes personalizados, fiz todos os dela. Cada detalhe. Também fiz a música de descida, mas, infelizmente, tenho sensibilidades sensoriais para alguns estímulos, um deles o auditivo. E não consegui passar nem 30 minutos na festa. O som estava extremamente alto e impossibilitou minha permanência. Foi muito difícil. Chorei por dias, mas, agora tornamos nossa dor em causa e lutamos por um mundo mais inclusivo", asseverou ele. 

O caso foi compartilhado na semana passada pela esposa dele por meio de uma publicação em um rede social. Tábitha Rhuama conta que no último dia 11, data do baile de formatura dela em Psicologia, o que era para ser uma ocasião de felicidade e realização plena, ficou marcado também pela frustração e tristeza. Ela lembra que o casal chegou ao local da festa depois de um dia de expectativas marcado por momentos alegres, como a escolha da roupa para o evento. 

"Porém, o que mais poderia temer aconteceu. Embora eu tenha falado e explicado toda a situação a equipe do evento, e mesmo tendo colocado a mesa o mais distante possível do palco, o som estava absurdamente alto. Tão alto que até pessoas, ditas atípicas, estavam com queixas sobre os prejuízos à audição", lembra.

"Patrick tentou, lutou, chorou, mas, não aguentou ficar mais de 30 minutos no ambiente por conta da altura do som. Ele foi embora, chorando muito, porque era nosso sonho que estava lá dentro, mas, o espaço não estava preparado para o receber. ... Ele foi e me fez prometer que mesmo assim aproveitaria cada momento", detalha, concluindo a publicação com um apelo.

"Hoje eu só gostaria de pedir inclusão, acolhimento e suporte. Patrick não merece menos por ser quem é, e ele é gigante. Tão gigante que muitas vezes não cabe em uma sociedade que não está preparada para o receber".

SERVIÇO

Para informações sobre os produtos personalizados conferir o perfil no Instagram: @patricksublimado

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