Grupo estuda meios de reaproveitamento de resíduos resultantes do processo de produção do sal. Salinas produzem um resíduo aquoso, material que é uma salmoura rica em magnésio e potássio, conhecido como águas mães. Esse material é descartado no mar
Por Edinaldo Moreno / Repórter do JORNAL DE FATO
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) estuda meios de reaproveitamento de resíduos resultantes do processo de produção do minério. Nos últimos anos, conceitos como sustentabilidade e preservação do meio ambiente vêm sendo amplamente discutidos no sentido de reduzir danos à fauna e flora.
As salinas produzem um resíduo aquoso, material que é uma salmoura rica em magnésio e potássio, conhecido como águas mães. Esse material é descartado no mar. O pesquisador José Francismar Medeiros explica como teve início a pesquisa.
Como é de conhecimento, o Rio Grande do Norte é conhecido por sua grande produção de sal. Porém, durante o processo para obter o produto, as salinas produzem um resíduo aquoso, que é descartado no mar. Devido a sua composição, a água mãe, prejudica a vida marítima ao ser descartada, tanto que existe um critério estabelecido pelos órgãos ambientais para o descarte ao mar. Daí, pesquisadores de várias partes do mundo estudam alternativas para a reutilização dessa água, tornando-a também em um produto de venda.
O pesquisador Francismar Medeiros conta que a ideia da pesquisa surgiu em conjunto com os salineiros da região, que buscavam uma melhor maneira de descarte das águas mães e uma nova fonte de renda. As hipóteses desenvolvidas na UFERSA resultaram na criação do grupo de pesquisa há quatro anos na Universidade.
Há mais de 10 anos temos realizado alguns testes sobre resíduos das salinas (água mãe e carago), a pedido, na época, por dois empresários. Mas somente nos últimos 5 anos foi que organizamos um projeto, o qual foi cadastrado na Ufersa e dele já teve uma tese defendida e tem outra a ser concluída até o próximo mês”.
Atualmente, o grupo de pesquisa teve como resultados duas teses de doutorado, e mais quatro estão em andamento. Um trabalho de mestrado também está sendo desenvolvido no laboratório. “A UFERSA, além de estar formando profissionais para atuar no mercado e atender ao público, está desenvolvendo pesquisas para levar à sociedade”, destacou Francismar ao reforçar a importância do trabalho que é desenvolvido pelas universidades.
O pesquisador explica que o projeto cadastrado na Ufersa tem o título: Viabilidade agroambiental de resíduos provenientes da indústria salineira potiguar. “Recentemente, aprovamos um projeto na Fapern para bolsa de pesquisa de pós-doutorado júnior, denominado: Produção de fertilizante a partir da salmoura obtida nos cristalizadores de salinas marinhas”, informou.
Francismar Medeiros explica ainda que as águas mães podem proporcionar ganhos econômicos para os salineiros, sem impedir a continuidade de sua produção de sal. Outra vantagem é para os agricultores que vão ter a opção de comprar um fertilizante à base de magnésio localmente, já que evitaria gastos com a importação dos produtos.
“A ideia para iniciar o estudo sobre o tema foi principalmente de Betinho Rosado, pois ele tinha encontrado na internet uma propaganda de um produto que era comercializado no EUA, chamado de Sea100, e que este produto era para ser utilizado em solução de cultivo hidropônico e tinha cerca de 100 elementos químicos, e que o mesmo era feito a partir de água mãe”, revelou o pesquisador de como surgiu a ideia do projeto.
“Depois, Tasso Rosado nos procurou para analisar águas mães com diferentes concentrações, pois ele queria saber quais eram os teores de magnésio. Na época, ele já colhia o carago para utilizar no capeamento das estradas nas salinas e estava querendo moer para vender para as empresas de cimento”, complementou.
APROVEITAMENTO
O pesquisador salienta que o aproveitamento dos resíduos das salinas, como do carago, não é muito problema. Segundo ele, os salineiros utilizam para as estradas, embora esses empresários considerem ou consideravam um custo.
“Periodicamente, eles precisam fazer essa retirada do carago (gipsita ou gesso marinho) de determinados tanques evaporadores, e este produto seria descartado nas áreas das salinas”, informou.
Ainda de acordo com Franscimar, o volume da água mãe que é descartado anualmente é maior, cerca de 8 milhões de m³/ano) e que o principal ponto de deposição seria a volta para o mar, que no caso de Mossoró, é o delta do rio Mossoró.
“Isto pode gerar elevação da água do mar, nesta região, e chegar a matar peixes. Outra alternativa é misturar com água do mar que é bombeada para os tanques evaporadores, mas pode no futuro elevar a concentração de Mg no cloreto de sódio produzido, o que não é bem-vindo. Considerando que o carago é sulfato de cálcio, composição do gesso, o mesmo após processado pode ser utilizado como gesso para construção, para a indústria do cimento e para agricultura, como corretivo de solo ou fertilizante”, explicou.
“A água mãe é rica em Mg, K e S, embora seja saturada com cloreto de sódio. Então, se ele sofrer alguns tratamentos poderemos eliminar grande parte do sódio, concentrando os outros elementos, que são considerados nutrientes para as plantas e animais, mas também pode ser utilizado na indústria”, completou.
Normalmente, os salineiros têm procurado na Universidade alternativas para os resíduos gerados nas salinas, visando ter mais receitas, esclareceu o pesquisador. “Isto tem ocorrido principalmente quando o preço do sal cai, e os salineiros estão descapitalizados. Então, considerando o potencial de aproveitamento do carago (220.000 mil t/ano) como gesso agrícola ou outros fins e da água mãe como um fertilizante magnesiano (estimado em 1.600.000 m3), o valor destes produtos quando colocado no mercado renderia mais do que o valor do sal. Para os agricultores do RN, eles teriam um produto na região. Hoje o gesso agrícola vem de Trindade/PE e os fertilizantes magnesinos comercializados aqui, a maioria são importados”, finalizou.
Universidade realiza experimentos para aproveitamento dos rejeitos como fertilizante agrícola
Outro exemplo do trabalho está na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) com a realização de experimentos voltados para o aproveitamento dos rejeitos das salinas como um fertilizante agrícola.
A alternativa poderá, segundo Francismar Medeiros, coordenador do grupo de pesquisa “Manejo de água e solo na agricultura irrigada”, beneficiar em curto prazo não apenas os produtores de sal, mas também os agricultores e, principalmente, o meio ambiente. “Hoje, na agricultura, utiliza-se o sulfato de magnésio, nitrato de magnésio e o cloreto de magnésio, em sua maioria importados”,
Outro produto descartado na produção de sal é o carago, conhecido como gesso marinho. O material que é rico em cálcio já está sendo estudado para a utilização como gesso agrícola.
“No nosso caso, que somos da agronomia e trabalhamos com adubação e salinidade, as pesquisas têm o objetivo de produzir produtos que possam ser utilizados como corretivo de solo e como fertilizantes, suprindo cálcio, magnésio, potássio e Enxofre. Primeiro, estamos caracterizando os resíduos das salinas e depois estamos estudando algumas técnicas para deixá-los úteis para serem utilizados nas áreas cultivadas. Estamos estudando uso desses produtos nas culturas do melão, do cajueiro, da cana de açúcar e da soja, para em seguida podermos registrar junto à MAPA”, destacou Francismar.
Maria Valdete da Costa, doutoranda e técnica de laboratório da UFERSA, realizou testes de aplicação do carago em culturas de melão, obtendo resultados positivos. Outros benefícios foram destacados pela pesquisadora como a viabilidade da produção, a preservação do solo e o desenvolvimento de renda.
A água mãe depois de tratada pode ser utilizada no estado líquido em fertirrigação ou aplicada diretamente no solo. Na cana de açúcar pode ser misturada a vinhaça, que é fonte de potássio, mas pobre em Mg. A vinhaça, que é um rejeito das usinas de álcool, hoje é um fertilizante para a cana.
O gesso marinho (malacacheta ou carago), depois de processado (moído) é aplicado diretamente no solo e incorporado por gradagem, seja para elevar os níveis de cálcio no solo pobres neste elemento, como nos solos arenosos, seja para corrigir os solos sódicos, comuns em áreas aluvianas do semiárido, como nos perímetros irrigados do DNOCS.
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