Por Edinaldo Moreno / Repórter do JORNAL DE FATO
Pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) estudam formulações de combustíveis AB-Diesel, compostos por uma mistura de álcool, biodiesel e diesel. O grupo de pesquisadores tem o intuito de identificar matérias-primas viáveis para o desenvolvimento de biodiesel no Semiárido Potiguar, como girassol, cártamo e moringa.
A pesquisa ainda tem objetivo de diminuir as emissões de gases de efeito estufa sem comprometer o desempenho de motores a diesel. Vale mencionar que maior ênfase será dada aos biodieseis oriundos de matérias-primas promissoras para a região do Semiárido.
“Como o intuito do projeto é aumentar a participação de combustíveis renováveis no óleo diesel, que hoje já conta com 12% de biodiesel, as misturas apresentam potencial para queima mais eficiente de combustível, reduzindo consideravelmente as emissões de monóxido de carbono e outros poluentes no meio ambiente, como o material particulado”, afirma o coordenador do AB-Diesel, Frederico Ribeiro do Carmo, professor vinculado ao Departamento de Engenharia e Tecnologia (DET) da Ufersa.
“Além disso, é importante pontuar que estudos em paralelo visam produzir matérias-primas com águas residuárias, em especial a água produzida do petróleo, efluente bastante produzido na região pelas empresas de petróleo e gás”, acrescenta ele.
Ainda de acordo com o coordenador do projeto, o Núcleo de Pesquisa em Economia de Baixo Carbono atua com temas relacionados à transição energética, economia circular aplicada ao setor de energia e descarbonização de processos produtivos. Inicialmente, nosso foco era mais em simulações computacionais e propriedades dos combustíveis. Já havia trabalhado em projetos relacionados ao AB-Diesel, mas apenas na avaliação de propriedades.
Frederico Ribeiro ressalta que o projeto AB-Diesel está alinhado com compromissos assumidos pelo Governo Brasileiro nos últimos anos no sentido de reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Na 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris pela Organização das Nações Unidas em 2015, o Brasil se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia na matriz energética do pais, o consumo de biocombustíveis e a oferta de etanol, entre uma série de outras iniciativas.
“No dia 8 de dezembro de 2020, o Brasil transmitiu à Convenção-Quadro das Nações Unidades sobre a Mudança Climática (UNFCCC) sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao Acordo de Paris. A NDC é o principal compromisso internacional do Brasil na área de mudança climática. Tendo como base o ano de 2005, o país reafirmou o compromisso de reduzir, em 2025, as emissões líquidas totais de gases do efeito estufa (GEE) em 37% e assumiu oficialmente o compromisso de reduzir em 43% as emissões brasileiras até 2030. Tais medidas englobam os setores de energia, agricultura, floresta, resíduos e processos industriais”.
O professor lembra que no ano passado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançou a “Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2022 – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Apoio ao Programa Combustível do Futuro e à Iniciativa Brasileira do Hidrogênio (IBH2 MCTI)”. A relevância da proposta atraiu um financiamento de R$ 1,1 milhão do CNPq, como resultado de uma seleção do Programa Combustível do Futuro e da Iniciativa Brasileira do Hidrogênio.
“Resolvi escrever a proposta do projeto AB-Diesel, incluindo os testes em motores. Por conta da equipe formada, qualidade da proposta e de ser um assunto estratégico do Governo Federal, a proposta foi aprovada. No total, apenas com este edital, conseguimos R$ 1,1 milhão em equipamentos, material de consumo e bolsas”, iniciou.
“Ainda tivemos outras propostas aprovadas, em temas transversais ao AB-Diesel, como a produção de matérias-primas promissoras para a produção de biodiesel na região do Semiárido utilizando um efluente bastante problemático para as empresas de petróleo onshore localizadas na região, a água produzida de petróleo. Exemplos de propostas aprovadas foram a “Chamada Pública MCTI/FINEP/CT-HIDRO 2022”, na qual conseguimos aporte de aproximadamente R$ 1,5 milhões da FINEP e mais R$ 300.000,00 da Mandacaru Energia, empresa produtora de petróleo com atividades na região. Vale menção que estou como vice-coordenador deste projeto, sendo o coordenador o Prof. Daniel Valadão Silva, do curso de Agronomia da UFERSA”, acrescentou.
Montadoras sinalizam interesse no projeto
A partir do início das atividades, em dezembro de 2022, montadoras de caminhões já sinalizaram interesse no projeto. Participam da iniciativa 14 profissionais distribuídos nas categorias de colaborador, pesquisador e aluno de doutorado.
Além da Ufersa, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também fazem parte do AB-Diesel.
“Além dos órgãos de fomento, como o CNPq e a FINEP, estamos com o apoio financeiro de duas produtoras de petróleo, como a Mandacaru Energia e a 3R Petroleum (nos projetos de produção de matérias-primas). Duas montadoras de caminhões já sinalizaram interesse no projeto, uma delas já confirmou conosco que entrará na proposta a ser enviada para o Programa Rota 2030”, comemorou o professor Frederico Ribeiro do Carmo.
“Por conta do apoio financeiro do CNPq, do Programa de Formação de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo, o PRH, e de outros projetos firmados nos últimos meses com empresas, estamos criando uma infraestrutura excelente para os estudos a serem realizados”, pontua o coordenador do projeto, Frederico Ribeiro do Carmo. “Além de produzir biodiesel, nos próximos meses teremos capacidade de caracterizar as formulações, segundo os critérios da ANP, e avaliar a performance e as emissões de gases de efeito estufa em um motor diesel monocilindro, tudo isso na Ufersa”, finaliza.
Pesquisadores de outros países já demonstram que é possível redução de emissão de gases
O professor e coordenador do projeto AB-Diesel, Frederico Ribeiro do Carmo, indagado sobre os resultados práticos da pesquisa, ressalta que primeiramente é importante destacar que se trata de uma pesquisa científica, portanto, apenas após a conclusão do projeto é que pode-se afirmar se haverá ou não redução de emissões de gases de efeito estufa sem comprometer o desempenho do motor.
“Precisamos de experimentos. No entanto, a ideia é bastante razoável, inclusive alguns pesquisadores de outros países já demonstraram que isso é possível, com outros tipos de álcoois e matérias-primas”.
Para o combustível ter bom desempenho, o coordenador enfatiza que precisa que suas propriedades estejam de acordo com critérios estabelecidos pela experiência da indústria. No caso do óleo diesel comercializado no Brasil, estes critérios são estabelecidos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), como a Resolução ANP n° 50/2013.
“Portanto, de forma simplificada, ajustando as composições das formulações AB-Diesel, podemos aumentar a parcela de biocombustível e manter as propriedades dentro dos critérios estabelecidos pela ANP, o que tende a manter a performance do combustível utilizado normalmente”.
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