Quarta-Feira, 05 de fevereiro de 2025

Postado às 14h15 | 08 Jul 2019 | Redação Estudantes realizam campanha para financiar disputa na final da Olimpíada de História

Crédito da foto: Cedida Equipe El Matriarcado, primeira colocação no ranking do IFRN - Mossoró

Setenta e três mil estudantes agrupados em 18 mil equipes por todo o país. Esse é o número de inscritos na fase inicial da 11ª edição da Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB) que aconteceu no último dia 6 de maio. Contudo, após 6 eliminatórias, o número de equipes na disputa caiu para 314. Dessas, 22 são do campus do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) em Mossoró, que, ao todo, classificou 65 equipes no estado.

Realizada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Telecomunicação (MCTIC), a olimpíada é um dos eventos mais importantes do país sobre História do Brasil voltado para estudantes do ensino fundamental e médio. Em suas 6 primeiras etapas, as equipes formadas por 3 estudantes e 1 professor de História precisam realizar tarefas virtuais além de responder questões sobre a história nacional.

Todavia, a última etapa da olimpíada acontece de forma presencial no campus da Unicamp no interior de São Paulo. Neste ano, a “grande final presencial” acontecerá já no próximo dia 17 de agosto, com a entrega da premiação no dia seguinte, dia 18. Novidade na etapa deste ano, os estudantes finalistas que cursarem o 2° ou 3° do ensino médio poderão disputar 2 vagas do curso de História da universidade, que é considerada uma das melhores em toda a América Latina.

O acesso ao curso superior da Unicamp a partir da Olimpíada de História integra o que a universidade denomina de “vagas olímpicas”, iniciativa que busca democratizar o acesso à instituição. Para concorrer às vagas, os estudantes interessados precisarão realizar uma “Prova Presencial Individual Adicional” sobre História do Brasil e História Geral ainda no dia 17, após a participação na final olímpica.

Contudo, os estudantes mossoroenses do instituto federal ainda não sabem se conseguirão viajar até a cidade paulista no próximo mês. Após o bloqueio orçamentário anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) no final de abril, o IFRN deixou de ter acesso a mais de R$ 27 milhões previstos para o segundo semestre de 2019. Com a redução no orçamento, o instituto vem aplicando medidas para garantir o funcionamento até o final do ano, o que inclui uma revisão no custeamento de viagens feitas pelos estudantes.

Buscando superar a escassez financeira imposta às instituições de ensino federais pelo MEC, os estudantes do campus do IFRN em Mossoró realizam ações que viabilizem a participação na 11ª ONBH, entre elas, uma “vaquinha virtual” que pretende arrecadar R$ 15 mil necessários para as passagens aéreas das 22 equipes do instituto.

“A vaquinha virtual surgiu por um projeto de extensão do próprio IFRN no qual sou bolsista, o ‘(In)Visibilidades – direito a ter direitos’, que tem como foco a discussão sobre direitos humanos. Entendemos que a ONHB é de suma importância para a formação humana. Então, decidimos tomar algumas iniciativas para o apoio”, conta Rebeca Eloisa, estudante do IFRN e uma das idealizadoras da campanha.

“Até agora, apenas 5 equipes serão custeadas, podendo esse número diminuir devido aos cortes na educação. Essa questão ainda está sendo analisada. Para ajudarmos as outras equipes, uma das iniciativas foi a vaquinha virtual. Temos o objetivo de arrecadar R$ 15 mil, mas esse valor só conseguirá pagar as passagens dos estudantes. Então, há também outras iniciativas: rifas, brechós e vendas de comida”, continua Eloisa.

Entretanto, até o fechamento desta matéria, a campanha de arrecadação virtual realizada pelos estudantes contava com a doação de apenas R$ 475,00, menos de 5% do necessário para a meta final. Com duração até o dia 31 de julho, a vaquinha virtual dos estudantes pode ser acessada no site “vakinha.com.br” com o título “IFRN/MO na ONHB”. Apesar do número pequeno de doações, a estudante se mostra confiante com a campanha.

“A campanha de arrecadação, como um todo, está indo muito bem. As equipes se ajudam muito e estão buscando iniciativas em conjunto. O campus de Mossoró sempre nos trouxe muito orgulho e medalhas. Neste ano, a expectativa é ainda maior devido à quantidade de equipes indo para a final”, comenta a estudante em tom esperançoso.

O Instituto Federal do Rio Grande do Norte possui um retrospecto positivo na competição nacional. Em 2018, o instituto terminou a competição em 3° lugar, após ter conquistado 10 medalhas das 13 que o Rio Grande do Norte ganhou na 10ª ONHB. Em 2016, o resultado foi ainda mais positivo. O campus do IFRN em Mossoró foi o grande campeão da 8ª Olimpíada de História, com 4 medalhas de ouro, 1 de bronze e 12 menções honrosas. À época, o campus havia classificado 17 equipes para a disputa final na Unicamp.

Para os estudantes participantes, a Olimpíada Nacional de História do Brasil é mais que uma competição; é uma oportunidade de aprendizado para além da teoria. “A ONHB sempre trouxe uma visão além-muro. O processo de participação em cada fase já é muito importante porque é feito em equipe, o que significa que temos a questão de aprender a escutar o outro”, argumenta Eloisa.

“Além disso, a olimpíada desconstrói a própria História, trazendo sempre questionamentos e visões diferentes dos fatos [homogêneos], assim desenvolvendo nosso pensamento crítico. Por exemplo, o tema desse ano foi ‘Os excluídos da História’. E na última tarefa on-line, as equipes tinham de escrever um texto para um livro didático sobre a vida de um personagem histórico regional que não é reconhecido pela história oficial, seja por ser mulher, negro, LGBT ou por ter convicções diferentes. Isso nos faz entender que a versão dos fatos sempre é contada pelos vencedores, e que nosso estado é um polo de lindas histórias não contadas. Por isso, escolhemos José Praxedes de Andrade, operário e militante sindical”, conclui Eloisa.

Mãe de estudante faz campanha para ajudar filha a participar de competição nacional

Mãe da estudante Vitória Letícia, Maria Lúcia recebeu a notícia de que a filha foi uma das finalistas na 11ª edição da Olimpíada de História do Brasil (ONHB) com alegria. Moradora do conjunto Pousada das Thermas, na periferia de Mossoró, ela investe R$ 200,00 todos os meses em passagem de ônibus para que a filha possa estudar no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).

Contudo, realizada em Campinas (SP), Maria Lúcia viu com preocupação a possibilidade de o instituto federal não custear a passagem da filha para a final da ONHB na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), considerada uma das melhores em toda a América Latina.

“Eu crio a minha filha sozinha. E, com o meu salário, eu não tenho como custear essas passagens. Não tenho como custear a estadia em São Paulo. O dinheiro que eu ganho é gasto com água, com luz... E todo mês, são R$ 200,00 em créditos na carteirinha [de estudante] dela, porque ela pega 4 ônibus para estudar no IFRN”, conta Maria Lúcia.

Com o contingenciamento orçamentário de mais de R$ 27 milhões imposto pelo Ministério da Educação (MEC) ao instituto federal, o IFRN vem adotando medidas que viabilizem a continuidade dos serviços até o final do ano letivo, embora considere a redução de trabalhadores e outras medidas de adequação à escassez de recursos impostas pelo Governo Federal.

“Tudo isso que eu estou fazendo é em prol da educação da minha filha. Eu não tive condições de estudar porque minha mãe morreu muito cedo, sabe? Fui criada em orfanato. Tive de trabalhar muito cedo, não tive como estudar. Por isso, faço tudo isso por minha filha”, argumenta a mãe da estudante.

Com 22 equipes classificadas apenas no campus de Mossoró, o IFRN conseguiu aprovar 65 equipes formadas por 3 estudantes e 1 professor para a final da Olimpíada de História. Contudo, no caso mossoroense, o instituto deve dispor de recursos para auxiliar apenas 5 das equipes finalistas. Assim, Maria Lúcia busca formas de possibilitar a participação da filha através de venda de rifas ou doações na conta bancária da estudante.

“Eu não tenho conta. Minha filha é que tem conta. Como eu sou assalariada, não tenho condições. Então, quem quiser me ajudar, pode contribuir com doações na conta agência 0560 Op. 013 conta 74445-7”, pede Maria Lúcia.

“Tenho até o dia 15 de agosto para arrecadar esse dinheiro. Eu não sei qual o valor. Sei que no ano passado o IFRN depositou R$ 1.500,00 a R$ 1.600,00 na conta da minha filha, e é esse dinheiro que eu tento arrecadar para a minha menina. Essa Olimpíada de História para ela é tudo. Ela estudava de madrugada. Dia e noite estudando para isso”, ressalta a mãe da estudante.

Tags:

Estudantes
Mossoró
Olimpíada de História
IFRN

voltar