Por Amina Costa - Repórter do JORNAL DE FATO
Na última semana, os olhos do país inteiro se voltaram para Mossoró, devido ao quadro The Wall, do programa Caldeirão do Huck, exibido pelo Rede Globo. Na ocasião, a estudante da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Ekarinny Medeiros e o professor da instituição, Felipe Ribeiro, conquistaram o segundo maior prêmio já pago pelo programa, neste quadro. Com o jogo, a dupla conquistou o total de R$ 278 mil.
Mas, o que chamou a atenção do apresentador Luciano Huck e de todo o público foi a história de vida da estudante Ekarinny, que participou do programa com a intenção de conseguir recursos para custear sua pesquisa e incentivar outros jovens a serem pesquisadores. Integrante do Programa Ciências Para Todos no Semiárido Potiguar, a estudante executa um projeto que consiste no desenvolvimento de cateter bioativo, proveniente do líquido da castanha de caju.
Este trabalho foi desenvolvido quando a estudante cursava o ensino médio na rede pública estadual, dentro do âmbito do Programa Ciência para Todos no Semiárido Potiguar da Ufersa. A iniciativa de produzir o cateter bioativo se deu após uma tia falecer devido uma infecção ocorrida durante o tratamento de hemodiálise.
“Já é comprovado cientificamente que o líquido da castanha de caju tem efeito anti-inflamatório e o custo benefício é baixo, comparado a outros produtos que existem no mercado. Meu objetivo é que o cateter possa ser inserido no mercado hospitalar e assim ajudar milhares de pessoas que fazem o tratamento ou que estão internadas, prevenindo infecções de corrente sanguínea nos pacientes”, explica a estudante.
Aos 19 anos, a estudante já tem um currículo excelente graças a sua determinação com a ciência. “Tudo começou no ano de 2015, quando três amigos meus participaram da Feira de Ciências do Semiárido Potiguar realizada pelo Programa Ciência para Todos. Eles me motivaram a também fazer ciência. Então, no ano de 2016, com 16 anos me juntei com duas amigas e com nossa professora de biologia e decidimos fazer um projeto científico e participar da feira”, relatou a estudante.
Desde o ano de 2016, Ekarinny Medeiros já desenvolveu três projetos científicos, todos tendo o caju como matéria prima. O primeiro projeto, o EMBACAJU, consistia na produção de uma embalagem biodegradável a partir do reaproveitamento da folha seca do cajueiro. O segundo projeto científico da estudante foi a CASHEW BOTTLE, garrafa biodegradável produzida a partir dos resíduos do cajueiro.
O terceiro projeto desenvolvido por Ekarinny se trata do CATETER BIOATIVO, que é a produção do cateter a partir do líquido da castanha de caju. “Todos esses projetos têm um significado e uma grande importância na minha vida. Eles me levaram a participar de grandes eventos científicos, dentre eles, a Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (FEBRACE), o Fórum Científico em Londres (LIYSF) e a maior feira de ciência do mundo, que é a INTEL ISEF. Com esses projetos conquistei mais de 40 prêmios”, comenta Ekarinny Medeiros.
Prêmio será destinado a programa de incentivo à ciênci
A falta de incentivos para a ciência faz com que jovens de todo o país desistam de suas pesquisas e de seus sonhos. Faltam laboratórios, verba destinada para esta finalidade, falta capacitação de professores que deem o direcionamento necessário para os estudantes e falta, ainda, transparência nos recursos. O problema não se resume apenas a universidades e institutos, mas também a própria rede básica de ensino.
“O maior desafio, infelizmente, é não ter o incentivo à ciência desde a educação básica, além da falta de recursos. Nossas escolas da rede pública enfrentam vários desafios como estrutura; não tive laboratório para fazer a minha pesquisa, por exemplo. Esse problema é grave em todo o país”, comentou Ekarinny Medeiros, que utilizou o quintal da própria casa como laboratório para os seus projetos científicos.
Participar do quadro The Wall e ganhar a premiação de R$ 278 mil trouxe à Ekarinny e aos pesquisadores que fazem parte do Programa Ciência Para Todos no Semiárido Potiguar a possibilidade de investir ainda mais nas pesquisas e nos projetos científicos que são promovidos através dele. A estudante comenta sobre a experiência de participar do programa e de poder contar um pouco da sua história, incentivando estudantes a seguirem com seus sonhos.
“Essa foi uma das maiores experiências da minha vida. Tudo mudou, conseguimos chegar a milhares de pessoas. Inspirar tantos jovens através da minha história de vida. Muita gratidão por tudo isso. O programa The Wall foi muito importante para conseguirmos recursos necessários para criar um fundo de apoio à pesquisa de jovens cientistas e, também, recurso para o projeto do cateter bioativo e assim viabilizar e escalar o cateter para o mercado. Essa é minha maior missão como jovem cientista: É despertar essa paixão e busca pela ciência.”, relata a estudante.
Desde o ano de 2016, quando iniciou sua trajetória na ciência, Ekarinny Medeiros sempre contou com a ajuda e o apoio da família e da comunidade escolar. A união da escola (na época ela estudava na Escola Estadual Prof. Hermógenes Nogueira) e família foi fundamental para que a estudante nunca desistisse dos seus sonhos. Hoje, na Ufersa, a estudante conta com o apoio da comunidade escolar, em especial a todos os que compõem o Programa Ciência Para Todos.
“Tenho como maiores incentivadores a minha orientadora durante todo o ensino médio, a professora Luísa Kiara, a Professora Celicina Azevedo e o professor Felipe Ribeiro (coordenador do Programa Ciência Para Todos do Semiárido Potiguar). Dentre tantas outras pessoas que me ajudaram a me tornar quem hoje sou”, finaliza a estudante.
Projeto Ciência Para Todos estimula iniciação científica.
O Programa Ciência para Todos no Semiárido Potiguar é fruto de uma parceria entre a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Secretaria do Estado de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN), que vem sendo desenvolvido desde o ano de 2010. O objetivo deste programa é estimular o interesse pela ciência nos jovens de localidades remotas do sertão do semiárido.
Para isto, o programa envolve etapas de capacitação de professores e alunos sobre o método científico, por meio da Tecnologia social de educação “Metodologia Científica ao Alcance de Todos”- MCAT; oficinas de elaboração de projetos; acompanhamento das atividades de execução dos projetos; feira de ciências nas escolas; feira de ciências nas diretorias regionais; organização da Feira de Ciências do Semiárido Potiguar e, por fim, a participação dos melhores trabalhos em Feiras de Ciências Nacionais e Internacionais.
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