O presidente do Sindicato do Comércio Varejista (SINDIVAREJO) de Mossoró e vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio Grande do Norte (FECOMERCIO/RN), empresário Michelson Frota, é o entrevistado da semana da seção “Cafezinho com César Santos”.
Entre outros pontos, Michelson reforça a preocupação do segmento empresarial com a indefinição quanto à retomada gradual das atividades econômicas em Mossoró e no estado de forma geral. De acordo com o presidente do Sindivarejo, a segunda maior cidade do RN já contabiliza cerca de 1,2 mil empregos formais perdidos, isso sem levar em consideração os números referentes ao mês de junho.
Segundo Michelson, são aproximadamente nove mil empresas do comércio e de serviços fechadas temporariamente em Mossoró devido à pandemia do novo coronavírus e sem previsão concreta de retorno das atividades, apenas prazos que não se cumprem.
Essa indefinição tem provocado reações contundentes de entidades como a Fecomércio. “O setor produtivo fez sua parte, até além. Mas, faltaram os governos sim. Faltaram ações mais contundentes e que criassem o ambiente propício à retomada. Isso não foi feito e nós estamos pagando uma conta muito alta, insuportável, eu diria”, destacou o entrevistado da semana. Acompanhe.
Por Maricelio Almeida
Foto: Arquivo Cafezinho/Michelson Frota (acho que ele foi entrevistado em dezembro de 2018)
Passados mais de três meses do início da pandemia, qual a situação do comércio em Mossoró hoje?
O comércio e os serviços de todo o estado atravessam imensas dificuldades. São mais de 100 dias de um quadro extremamente preocupante no qual mais de 10 mil empregos formais já foram perdidos no Estado e quase R$ 200 bilhões perdidos no faturamento dos comércios atacadista e varejista. Aqui em Mossoró, temos cerca de 9 mil empresas do comércio e dos serviços fechadas e perdemos, até maio, algo em torno de 1.200 empregos formais nos dois segmentos. Importante destacar que mesmo aqueles estabelecimentos que estão funcionando – por se enquadrarem como essenciais – estão amargando quedas de até 65% nos seus faturamentos. Outra peculiaridade aqui de Mossoró é o fato de este ano não termos realizado o “Cidade Junina”, que movimenta milhões de reais todos os anos na nossa cidade. Para se ter uma ideia, de acordo com a última pesquisa realizada pela Fecomércio, em 2017, o movimento registrado foi na casa dos R$ 47 milhões com toda a gama de segmentos envolvidos pelo evento.
Por quanto tempo mais as lojas, os estabelecimentos comerciais, conseguem permanecer fechados sem “quebrar”, sem falir?
Eu diria que já estouramos este tempo, este nosso limite. Como eu disse, já temos mais de mil empregos ceifados e muitas empresas que certamente ou não reabrirão mais ou, caso o façam, conseguirão permanecer por muito pouco tempo ainda em atividade. Cada dia a mais nesta condição só eleva estes números negativos.
O comércio está preparado para reabrir as suas portas, com segurança?
Não tenho dúvidas disso. Estamos prontos e seguimos nos preparando. Por exemplo, dentro de todo um conjunto de ações que o Sistema Fecomércio RN tem desenvolvido, lançamos, nas duas últimas semanas, dois pacotes de cursos gratuitos ou com preços simbólicos. O primeiro está ligado especificamente ao setor de Turismo, que foi desenvolvido em parceria com a Secretaria de Turismo do Estado e entidades ligadas ao setor, como ABIH, Sindicato dos Hotéis, Convention Bureau, entre outras. Ele prevê, por exemplo, ações integradas dos empreendimentos turísticos para garantir a saúde pública e organizar a retomada gradativa das atividades. O Plano direciona a retomada com embasamento técnico e científico, por meio de protocolos de biossegurança muito consistentes. Como sabemos o turismo é uma das cadeias que mais geram emprego e renda, e foi um dos setores mais afetados pela crise. Além disso, terá retomada bem mais difícil, e é nessa questão onde reside a maior importância desse plano.
E quanto aos demais segmentos?
Quanto aos demais segmentos, lançamos seis cursos que elaboramos com muito critério e que abordam de maneira multidisciplinar as diretrizes gerais de saúde conforme orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como a utilização dos equipamentos de proteção individual. A humanização do atendimento e ferramentas para adequação, sobretudo, dos pequenos negócios à nova realidade de mercado também são temas contemplados nas capacitações. Inicialmente, estão disponibilizadas 850 vagas, beneficiando Creches e Escolas, Escritórios, Lojas, Estabelecimentos de Beleza e Estética, Shoppings e Praças de Comércio, Estúdios de Pequeno Porte e Personal Trainers. Neste caso, as aulas começam nesta segunda-feira, dia 29.
A prefeita Rosalba Ciarlini anunciou que o Município já possui um plano de reabertura gradual da economia local, e que esse plano será divulgado assim que for possível colocá-lo em prática. O Sindivarejo colaborou na construção desse plano?
Sim. Nós fomos convidados e participamos de algumas discussões com os representantes da Prefeitura. Não só o Sindivarejo como também outras entidades do setor produtivo de Mossoró. Nós defendemos o isolamento vertical, onde apenas os grupos de risco deveriam se manter em casa, defendemos a flexibilização do comércio, com base no equilíbrio entre os segmentos, com horários reduzidos e, acima de tudo, com responsabilidade, atendendo todas as normas recomendadas pela autoridades de saúde, para garantir a proteção e segurança tanto dos colaboradores quanto dos consumidores. Nós tivemos essa participação, mas até agora esse novo plano de reabertura não nos foi apresentado.
O Governo do Estado já divulgou portaria com detalhes da etapa 1 do plano de reabertura. Criou-se uma expectativa quanto à aplicação desse plano, que acabou não se confirmando. Como o senhor avalia essa situação?
É lamentável que mais uma vez tenhamos adiado esta retomada. Nunca é demais lembrar que este Plano de Retomada Gradual da Economia foi apresentado pelas entidades empresariais ao Governo no dia 6 de maio. Trata-se de um documento construído por um grupo de trabalho com representantes de suas equipes técnicas, além de representantes das Secretarias de Tributação e Desenvolvimento Econômico do RN, da Agência de Fomento do RN, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e da Thémata Consultoria. O documento obteve parecer técnico favorável do Comitê de Especialistas da Secretaria Estadual de Saúde Pública, devendo ser utilizado pelo Governo do RN. Ele prevê a retomada gradual das atividades consideradas não essenciais. A ideia é seguir gerando emprego e renda com todo o cuidado necessário para preservar vidas e conviver com o vírus de maneira responsável e segura.
A Fecomércio/RN emitiu uma dura nota criticando o adiamento do início do plano...
A nossa nota não disse nada além da verdade. O setor produtivo fez sua parte, até além. Mas, faltaram os governos sim. Faltaram ações mais contundentes e que criassem o ambiente propício à retomada. Isso não foi feito e nós estamos pagando uma conta muito alta, insuportável, eu diria. E esta conta também está sendo paga pelos governos. O Governo do Estado, por exemplo, já perdeu quase R$ 500 milhões em arrecadação e este número cresce exponencialmente.
O senhor acredita que a abertura gradual começará, de fato, a partir de 1º de julho?
É nossa esperança, nossa necessidade. Nossa, da sociedade e dos governos.
E qual a expectativa para essa reabertura? Como os segmentos acreditam que será o comportamento do consumidor pós-pandemia?
Esta é a pergunta que povoa o dia a dia de todos nós, empreendedores. Uma coisa é fato: da mesma forma que as empresas sairão diferentes desta pandemia, os consumidores também não serão os mesmos. Infelizmente, uma das primeiras coisas que eles terão será cautela. Ninguém está plenamente seguro sobre o futuro, sobre se conseguirá se manter empregado, etc. Além disso, o atendimento on-line e comodidades como entrega em domicílio serão coisas que o consumidor irá cobrar de todos os segmentos. Um dos principais desafios é entender o consumidor, o novo consumidor. E segundo, buscar o reequilíbrio de nossas empresas. São desafios brutais em um cenário de tantas incertezas.
Para finalizar, como o senhor avalia as críticas que os empresários, os segmentos empresariais de forma geral, recebem quanto à retomada das atividades econômicas? Parece haver uma disputa entre Economia X Saúde...
Nunca existiu esta dicotomia. Economia e saúde neste caso são interdependentes. As pessoas morrem de Covid-19, mas também podem morrer por falta de perspectivas, por estarem muito tempo isoladas. O equilíbrio, responsável e de bom senso, entre os dois pontos sempre foi o que defendemos.
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