Edinaldo Moreno/Repórter do JORNAL DE FATO
O isolamento social por conta das medidas restritivas para conter o contágio e a disseminação da Covid-19 contribuiu para aumentar o número de casos relacionados à violência contra crianças e adolescentes.
Dados obtidos pelo JORNAL DE FATO junto ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) mostram que desde 2019 houve crescimento entre 40% e 50% dos casos de violência sexual contra esse público. A informação foi repassada pela coordenadora do CREAS, Laura Pollyanna.
“De 2019 para cá houve um crescimento entre 40% e 50% dos casos de violência sexual contra criança e adolescente e principalmente esses dados têm sido notificados no ano de 2020. Eles apontam que o maior fluxo de encaminhamentos aqui da rede (Conselho Tutelar, Ministério Público, Flor de Lotus e denúncia anônima e disque 100) de casos relacionados a abuso e exploração sexual”.
Laura Pollyanna ressalta que o aumento dos casos de agressões a crianças e adolescentes tenha se agravado pela necessidade do distanciamento social forçado devido ao novo coronavírus por conta dos agressores e vítimas estarem mais tempo dentro de casa.
“Talvez, esses números apontem que tenham sido em virtude do isolamento social onde as crianças estão mais dentro do ceio familiar e tem sido verificado também em sua maior parte os agressores tenham alguma vinculação sociofamiliar com as crianças, pode ser esse um dos motivos.
A coordenadora explica que em muitos casos é constante a questão da violência, no caso de abuso sexual, está atrelada à violência física e psicológica.
“Porque nos casos de violência sexual eles normalmente vêm atrelados às ameaças, chantagens. Às vezes, o abusador é um padrasto, o próprio pai, avós, tios, enfim, pessoas que tenham vínculo afetivo e consanguíneo com a criança”, alerta Laura Pollyanna.
Existem diversos meios para que o agressor seja denunciado pela prática da violência contra crianças e adolescentes. Laura Pollyanna cita alguns que podem ser acionados para averiguarem a situação e tomar as medidas necessárias par frear o abuso.
“A denúncia pode ser feita pelo Disque 100 de forma anônima ou não, que é um número a nível nacional onde se pode fazer a ligação de forma gratuita. Também pode ser feita através dos conselhos tutelares, no caso de Mossoró da 33ª e 34ª zona através dos contatos 3315-4808, 3315-4809. Também para o próprio CREAS, que é o Centro de Referência Especializado da Assistência Social que trabalha atendendo pessoas que passaram pela situação de violação de direitos ou próprio Ministério Público, as próprias delegacias, principalmente quando ocorre no turno noturno e nos finais de semana”.
CAMPANHA VAI REALIZAR ABORDAGENS SOCIAIS
A campanha 18 de maio oficialmente aberta na última sexta-feira, 7, terá uma série de ações realizadas durante todo esse mês. Umas das principais serão as abordagens sociais que visitarão diversos estabelecimentos no município.
“Nós estamos com a programação intensa durante todo o mês de maio com abordagens sociais em vários estabelecimentos como bares, postos de combustíveis, casa de drinks, supermercados, praças, praça da convivência e mercados públicos no sentido de orientarmos e difundir a tão importante temática que é essa questão do combate ao abuso e exploração sexual contra a criança e o adolescente”.
O dia 18 de maio foi instituído pela Lei Federal nº 9.970/00 como o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”. A data foi escolhida por ser o dia da morte da menina Araceli Santos, vítima de sequestro, estupro e assassinato em 1973, em Vitória, Espírito Santo. A menina que tinha oito anos foi espancada, violentada e assassinada e os culpados pelo crime não foram punidos.
Quase 7% da população potiguar acima dos 18 anos já sofreu violência sexual
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana que passou aponta que cerca de 170 mil pessoas no Rio Grande do Norte maiores de 18 anos já sofreram alguma vez na vida violência sexual. Isso representa 6,4% da população potiguar nesse grupo de idade.
De acordo com o levantamento, o número de mulheres violentadas sexualmente equivale a três vezes mais o número de homens vitimados no estado. São 124 mil mulheres e 44 mil homens. Segundo o estudo, esse índice segue a tendência do Nordeste.
Ainda segundo o IBGE, o número estimado de mulheres violentadas sexualmente no Nordeste chega a 1,8 milhão. Isso também representa três vezes o registrado em homens, que gira em torno de 612 mil. No cenário nacional, essa diferença é ainda maior, de quatro vezes. Em todo o Brasil, 7,4 milhões de mulheres sofreram esse tipo de violência, enquanto o número de homens foi de 1,8 milhão.
A pesquisa mostra que a faixa etária com o maior número de pessoas que sofreu ao menos uma vez violência na vida é de 30 a 39 anos. Nessa faixa são 62 mil potiguares. Logo após vem a faixa de 40 a 49 anos com 57 mil pessoas que disseram que sofreram alguma agressão na vida. Em menor número aparece a faixa de 18 a 29 anos (27 mil) e acima dos 60 anos (22 mil).
A pesquisa considera violência sexual quando uma pessoa for “tocada, manipulada, beijada ou teve parte do corpo expostas contra a vontade; e/ou foi ameaçada ou forçada a ter relações sexuais ou quaisquer atos sexuais contra a vontade”.
VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA
A pesquisa do IBGE também levantou dados a respeito da violência física e psicológica no Rio Grande do Norte. De acordo com o estudo, 478 mil pessoas com 18 anos ou mais de idade sofrerem algum desses tipos de violência no período de 12 meses que antecedeu a pesquisa. O órgão aponta que isso equivale a 18,3% da população do estado nessa faixa de idade.
Desse total, 15,2% das pessoas deixaram de realizar suas atividades habituais em razão da violência que sofreram nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa. Em números absolutos, são 73 mil potiguares nessa situação.
A pesquisa mostra também que 101 mil potiguares, com 18 anos ou mais de idade, sofreram agressão física no período de referência. Em números proporcionais, são 3,9% da população nessa faixa de idade.
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