O Globo
Na resposta encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) para esclarecer o fato de ter passado duas noites na embaixada da Hungria em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro diz que não havia receio de prisão, e que portanto é "ilógico" supor que ele se abrigou lá em busca de asilo.
Os advogados de Bolsonaro, porém, não repetem na resposta ao Supremo o argumento usado na nota pública divulgada na última segunda-feira, segundo a qual o ex-presidente teria passado dois dias na embaixada “atualizando os cenários políticos das duas nações”.
A resposta foi escrita por ordem de Moraes, que cobrou esclarecimentos do ex-presidente, após o jornal americano “The New York Times” revelar o episódio.
A defesa de Bolsonaro alega que, como em 8 de fevereiro a Polícia Federal já tinha feito prisões, cumprido ordens de busca e apreensão e ainda confiscou o passaporte do ex-presidente, já tinha ficado claro que não havia intenção de prendê-lo.
"Portanto, diante da ausência de preocupação com a prisão preventiva, é ilógico sugerir que a visita do peticionário à embaixada de um país estrangeiro fosse um pedido de asilo ou uma tentativa de fuga", afirma a petição, assinada por Paulo Amador Cunha Bueno e Fabio Wajngarten. "A própria imposição das recentes medidas cautelares tornava essa suposição altamente improvável e infundada."
Por esse argumento, o ex-presidente e os advogados sustentam que entenderam que, se ele tivesse que ser preso, teria sido no próprio dia 8.
A operação Tempus Veritatis investiga a atuação de Bolsonaro e seus assessores mais próximos na articulação de uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Lula.
A defesa do ex-presidente argumenta ainda que ele "jamais deixou de comparecer a qualquer ato para o qual foi intimado — e não foram poucos —, sendo conhecidos seus endereços em Brasília, assim como sua rotina profissional no Partido Liberal".
E acrescenta que, nas duas vezes em que saiu do Brasil, informou ao Supremo.
Na primeira, o ex-presidente foi a Buenos Aires para a cerimônia de posse de Javier Milei, em dezembro do ano passado. Na segunda, pediu autorização para aceitar o convite do primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para visitar o país com sua família. A viagem acabou nem acontecendo, uma vez que o passaporte foi apreendido no dia 8 de fevereiro.
No dia 12 de fevereiro, quatro dias depois da operação, o ex-presidente esteve na Embaixada da Hungria no Brasil, acompanhado por dois seguranças e na companhia do embaixador húngaro e de membros da equipe diplomática, conforme mostraram imagens da câmera de segurança da embaixada obtidas pelo The New York Times.
Segundo o NYT, a estadia de Bolsonaro na embaixada húngara sugere que o ex-presidente brasileiro estava tentando aproveitar suas boas relações com o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, numa possível tentativa de escapar da Justiça brasileira, enquanto o cerco se fecha contra ele em uma série de investigações criminais que tramitam no STF, sob a relatoria de Alexandre de Moraes.
Na petição, os advogados reafirmam a proximidade com Orbán, com quem afirmam que Bolsonaro mantém "agenda política"e "notório alinhamento". Segundo eles, esta é a "razão porque sempre manteve interlocução próxima com as autoridades daquele país, tratando de assuntos estratégicos de política internacional de interesse do setor conservador".
Orbán foi um dos poucos chefes de Estado a comparecer à posse de Bolsonaro, em janeiro de 2019.
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