Quarta-Feira, 19 de março de 2025

Postado às 09h00 | 19 Mar 2025 | redação Lula e Fátima inauguram hoje o segundo maior reservatório de água do Rio Grande do Norte

Com capacidade para armazenar 742,6 milhões de metros cúbicos de água, a barragem é a principal obra de um projeto maior chamado Complexo Hidrossocial Oiticica, no município de Jucurutu. Presidente Lula inaugura obra dentro da agenda positiva no NE

Crédito da foto: Reprodução Presidente Lula e a governadora Fátima Bezerra

Jornal de Fato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu a Semana da Água e o Dia de São José para inaugurar o segundo maior reservatório de água do Rio Grande do Norte, a barragem de Oiticica, em Jucurutu, que vai beneficiar mais de 330 mil pessoas e 43 municípios da região Seridó (veja reportagem na página 4). É, sem dúvida, uma obra emblemática.

A data da inauguração, pelo simbolismo que tem, fortalece a estratégia do Planalto de recuperar a popularidade do governo no Nordeste. O presidente precisa da agenda positiva para estancar o processo de derretimento de sua popularidade, atestadas pelas pesquisas divulgadas entre os meses de janeiro e março.

O “tombo histórico”, nas palavras do petista José Dirceu, afetou a região que se tornou um bastião de Lula nas disputas presidenciais desde 2006, quando ele foi eleito pela segunda vez. O Nordeste, inclusive, foi a única região em que Lula derrotou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.

A vitória larga no Nordeste, em que Lula recebeu 69,3% dos votos válidos, cerca de 12,5 milhões a mais do que Bolsonaro, foi determinante para sua eleição apertada nacionalmente (50,9% contra 49,1%), em que a diferença de votos ficou em apenas 2,1 milhões.

O Rio Grande do Norte contribuiu para a excelente votação do petista no Nordeste. Ele recebeu 1.326.785 votos dos potiguares (65,10%), enquanto Bolsonaro foi votado por 711.381 eleitores (34,90%).

No fim de janeiro, o levantamento do Instituto Quaest mostrou que a avaliação negativa do governo Lula superou a positiva pela primeira vez desde o início do terceiro mandato, em 2023. O percentual que reprova o trabalho de Lula subiu de 47% para 49%, na comparação com dezembro de 2024, enquanto o índice dos que aprovam caiu de 52% para 47%.

Mesmo com o mau humor do nordestino, a região ainda continua dando a maior aprovação ao governo Lula. A região conta com 60% dos eleitores aprovando o trabalho do presidente, mas 37% o reprovam. Em relação à pesquisa de dezembro, no entanto, 67% aprovavam Lula e 32% reprovavam. O índice confirma a maior rejeição do trabalho do presidente justamente no Nordeste.

 

Reação

A queda de desempenho fez a base governista levantar a voz em forma de alerta. A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), disse em entrevista ao jornal O Globo, logo após a publicação das pesquisas, que o apoio do Nordeste a Lula não está garantido em 2026. Ela cobrou mais presença do governo na região e "muita atenção para os investimentos previstos para corresponder às expectativas da população".

O alerta da governadora, de público, ecoou no Planalto. A partir daí, uma agenda foi elaborada para o presidente percorrer os estados nordestinos, principalmente aqueles que têm obras prontas para a inauguração. É o caso da barragem de Oiticica, que será entregue hoje por Lula e Fátima, em evento popular às 11h, no município de Jucurutu.

Barragem Oiticica vai impulsionar o desenvolvimento do Seridó

A Barragem Oiticica não é apenas uma gigante para acumular água, o que já seria muito para uma região em situação de vulnerabilidade hídrica, susceptível ao processo de desertificação. É mais do que isso. É um instrumento importante para a expansão do desenvolvimento do Seridó e resgate da dignidade humana. Esta é a opinião predominante de especialistas, gestores públicos e de moradores da localidade.

Com capacidade para armazenar 742,6 milhões de metros cúbicos de água, a barragem é a principal obra de um projeto maior chamado Complexo Hidrossocial Oiticica, no município de Jucurutu.

Além do reservatório, o complexo é formado por Nova Barra de Santana, que abrigava os moradores do Distrito Janúncio Afonso, (conhecido como Barra de Santana), localizado na área inundável da barragem; três agrovilas onde estão sendo assentados pequenos produtores, trabalhadores rurais e sem terras; rede de energia elétrica para uso residencial e produção de cultura irrigadas, e 128 quilômetros de estrada de acesso a estabelecimentos rurais da região.

"O Complexo Hidrossocial Oiticica é uma obra extraordinária. Trouxe água como vida, respeitando o direito da população. A dimensão social do empreendimento promove uma verdadeira transformação na vida das pessoas", define o engenheiro agrônomo José Procópio de Lucena, diretor do Instituto de Gestão das Águas do RN, um dos articuladores do Movimento dos Atingidos e Atingidas que atua desde o início da construção da barragem, em 2013.

Procópio lembra que o projeto original não previa a construção das agrovilas para assentamento dos trabalhadores rurais que manifestaram interesse de permanecer no campo, e ignorava uma série de demandas da população.

"Oiticica não é apenas uma obra de contemplação, mas fruto da construção das relações democráticas entre a população e o poder público. Essa obra só chegou aonde chegou porque as relações democráticas se consolidaram", reforça ele.

 

Maioridade hídrica

Parte importante do projeto da Transposição, o reservatório foi dimensionado para abastecimento de até 2 milhões de pessoas, através do sistema adutor do Seridó, que está em construção, além de assegurar projetos de irrigação numa área de 10 mil hectares, abrindo os horizontes para ampliação do desenvolvimento agrário e industrial no interior do Rio Grande do Norte. Isso fomentará a implantação de novas empresas e permitirá que os açudes de Cruzeta, Itans e Sabugi sejam utilizados prioritariamente para piscicultura, irrigação, pecuária e produção de alimentos.

"Com a conclusão de Oiticica atingiremos a maioridade do ponto de vista de segurança hídrica em nosso Estado. Oiticica está interligada à barragem Armando Ribeiro Gonçalves, está conectada com a transposição do São Francisco. Vamos levar água para todas as sedes dos municípios daquela região. E o Seridó será uma das poucas regiões semiáridas do mundo que terá 100% de garantia hídrica", afirma o secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Paulo Varella.

Morador da Agrovila Raimundo Nonato, a poucos quilômetros da barragem, Francisco Evaldo de Souza, 45, é casado e pai de dois filhos, um deles o ajuda na luta diária. Sem terra, sem teto, sem emprego, vivendo da pesca e de serviços eventuais na agricultura, enfrentou tempos difíceis. "Cheguei a morar debaixo de uma oiticica com a mulher e os filhos."

Seu Francisco Evaldo ocupa o lote 34 da agrovila do Complexo Hidrossocial Oiticica

Com o passar dos anos, Evaldo conseguiu abrigo na comunidade Carnaúba Torta, localizada na área inundável da barragem, onde vivia da pesca e de serviços eventuais na agricultura. “Fomos criados na areia do rio. Somos daquelas crianças que cresceram sabendo como é a dura realidade da vida”, relata Lázaro Lucas, filho mais velho de Evaldo, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, que planeja fazer um curso técnico na área agrícola para ajudar o pai.

Hoje, a família ocupa o lote 34 da agrovila. Na quadra chuvosa do Semiárido nordestino (fevereiro a maio) ele planta milho e feijão para consumo próprio. Encerrada a colheita, volta-se para as culturas de vazante no aceiro de um riacho, braço do Rio Piranhas, onde foi construída, há muitos anos, uma barragem submersa.

Complexo Hidrossocial Oiticica

Nova Barra de Santana

- Construída para abrigar a antiga comunidade, que ficava na área inundável da barragem, beneficiando 503 moradores;

- 176 casas permutadas;

- 41 casas populares para trabalhadores sem teto;

-33 lotes para construção de centro industrial e de serviços;

- Escola, creche, posto de saúde, centro de comercialização e quadra poliesportiva;

 

Agrovila Raimundo Nonato - Jucurutu

- Local: Fazenda Lagoinha;

- Área: 276,8 hectares;

- 37 lotes individuais;

- Lotes coletivos para cultura irrigáveis e de sequeiros;

- A casa construída na agrovila compreende uma unidade residencial unifamiliar com 58,8 m² de área construída, composta por terraço, sala, dois quartos, cozinha, banheiro e lavanderia externa.

 

Agrovila Jardim de Piranhas

- Local: Fazenda Juazeiro

- Área: 303 hectares;

-Lotes individuais para 54 famílias

- Lotes coletivos para produção agrícola;

- A agrovila conta ainda com uma escola e um posto de saúde.

 

Agrovila São Fernando

- Local: Fazenda Ramada;

- Área: 130 hectares

- Lotes individuais para 24 famílias;

- Lotes coletivos para produção agrícola

 

Outras benfeitorias

- 125 quilômetros de linha de energia elétrica trifásica;

- 128 km de estradas para acesso às agrovilas e propriedades rurais localizadas no contorno da barragem;

- 5,5 km de acesso pavimentado interligando Nova Barra de Santana a RN-118.

 

 

 

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