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Postado às 10h00 | 01 Mar 2020 | Redação Josivan Barbosa: “Existem lacunas na Ufersa que precisamos preencher”

Primeiro reitor da Ufersa entende que chegou a hora de voltar ao cargo máximo na Universidade. Em entrevista ao Cafezinho César Santos, Josivan confirma a pré-candidatura a reitor e diz que existem lacunas na Ufersa que precisam ser preenchidas

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Professor doutor Josivan Barbosa é pré-candidato a reitor da Ufersa

Encerrando a série de entrevistas com os pré-candidatos à reitoria da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), a seção “Cafezinho com César Santos” abre espaço nesta semana para o professor doutor Josivan Barbosa Menezes Feitoza. Oito anos após ter deixado o posto de reitor, Josivan busca agora retornar ao cargo, afirmando que ainda há muito o que ser feito pela instituição.

Na conversa a seguir, o pré-candidato justifica sua postulação argumentando que há várias “lacunas” na universidade que precisam ser preenchidas, destacando que a Ufersa precisa de mais investimentos, tanto do ponto de vista estrutural como de pessoal. “Esses são os dois pontos principais que nós esperamos avançar, é um grande desafio, é o foco da colocação do nosso nome neste momento”, relatou.

Josivan Barbosa também avalia as mudanças no processo de consulta da comunidade acadêmica, implementadas através da medida provisória 914, e defende, entre outros pontos, que o processo de escolha dos reitores das instituições federais de ensino superior deveria contemplar apenas um e não três nomes. Acompanhe.

O senhor, que já foi reitor da Ufersa, colocará o seu nome para consulta dos segmentos acadêmicos mais uma vez. Qual o sentido da sua pré-candidatura agora?

A instituição, depois de oito anos daquele projeto que nós idealizamos em 2005, ela apresenta hoje várias lacunas, vários vácuos, que é característica de uma instituição que está dando os seus primeiros passos, afinal uma universidade com 15 anos é muito nova. Esses vácuos nós precisamos preencher, o momento é delicado, e precisamos, principalmente, restabelecer os recursos de investimento e também conseguir preencher a necessidade de servidores técnico-administrativos, principalmente nos campi, pois a situação é bem delicada hoje. Esses são os dois pontos principais que nós esperamos avançar, é um grande desafio, é o foco da colocação do nosso nome neste momento.

 

QUAIS são as outras lacunas que o senhor enxerga hoje na Ufersa?

A QUESTÃO dos campi, por exemplo. Um campus para poder ser considerado pelo menos mediano precisa ter, pelo menos, 10 cursos de graduação em cada um, para atender às necessidades da comunidade, do seu entorno. Em geral, um campus desse atende a 30, 35 municípios, isso só do estado, e todos os campi estão em posições estratégicas, principalmente dois: Pau dos Ferros, que atende parte do Ceará; e Caraúbas, que atende parte da Paraíba. Sem ter 10 cursos em cada campus, você ainda não tem aquela estrutura mínima para o funcionamento. Outro ponto forte é cada campus desse ter os seus projetos que precisam ser verticalizados.

EM QUE sentido?

VOCÊ não pode ficar só com o ensino de graduação. Um bom exemplo disso é o que acontece com a Uern em Pau dos Ferros, que hoje é uma referência porque oferece mestrado e doutorado na área de Letras, isso é o grande foco, é você ter em cada campus desse um mestrado e um doutorado pelo menos, esse é um grande desafio. Na sede, nós precisamos avançar muito. Hoje, por exemplo, nós estamos com um problema sério na infraestrutura do campus, na qualidade dos laboratórios de graduação, onde nós precisamos captar pelo menos R$ 10 milhões a cada ano, só para manter a infraestrutura para os cursos. Vou dar um exemplo: esses cursos na área de ciências humanas foram implantados, principalmente, o curso de licenciatura, mas ainda não têm a estrutura necessária. Recentemente, foi construído um prédio muito grande para o Centro de Engenharia, mas ainda não foi equipado. Tem outro prédio muito importante de apoio às pesquisas na área de solos que foi construído, mas não foi equipado. O prédio só não resolve, tem que ter os equipamentos científicos, que são muito caros em geral, R$ 200 mil, R$ 300 mil por cada equipamento.

 

ENTÃO, o senhor acha que aquele projeto lá de 2005, quando a Esam foi transformada em Ufersa, na sua gestão, houve um rompimento a partir dessa atual gestão, um rompimento desse projeto?

EU NÃO considero um rompimento. Eu considero natural essa necessidade. Nós pactuamos com o MEC recursos que foram usados a cada ano para a estrutura. Isso foi pactuado, nós conseguimos avançar e saímos de uma situação que era lamentável quando era Esam, de R$ 150 mil por ano para investimento, portanto, não construía uma sala de aula, e nós fomos avançando, avançando e o orçamento de 2012 e 2013 pactuado com o MEC para investimento, que é o recurso de capital, para construir sala de aula, laboratórios, equipamentos, infraestrutura do campus, biblioteca, nós pactuamos R$ 48 milhões por ano, mais emenda de bancada coletiva. Esses recursos eram pactuados para um período de cinco anos e foram utilizados. Agora, há essa necessidade e a universidade como um todo está lenta na captação desse recurso de investimento. O recurso de custeio é em função do número de alunos, e só aumenta alunos se você aumentar a quantidade de docentes.

ESSAS dificuldades que o senhor mencionou, em relação a investimentos, contratação de novos servidores, não passam também pelo cenário nacional atual? Não é um problema generalizado, de praticamente todas as universidades federais?

NÃO, porque o recurso do MEC ele não diminuiu; fez foi aumentar ao longo dos últimos anos, o recurso das universidades federais dentro do orçamento do MEC aumentou, avançou. A questão é que se o recurso não vem para a Ufersa, ele está indo para outras universidades. Eu vou dar só um exemplo aqui da nossa vizinha UFRN, que conseguiu R$ 40 milhões recentemente para construir o Instituto Metrópole Digital, uma referência em todo o Norte/Nordeste. Conseguiu recursos significativos com MEC pra o Instituto Internacional de Neurociência, conseguiu para o Instituto do Cérebro e agora está conseguindo recursos para instalar um parque tecnológico na área de energia renovável e na área de tecnologia de informação para saúde, ou seja, nós precisamos avançar na busca desses recursos e em sintonia com a bancada para que possamos restabelecer esses recursos de investimento, porque isso é que vai fazer a diferença.

 

FALTA habilidade do atual gestor, então?

EU NÃO gostaria, como ex-gestor, de analisar o comportamento do gestor atual, mesmo porque o gestor foi meu assessor durante três mandatos. Eu gostaria de aproveitar esse tempo para falar de projetos para essa instituição, nós vamos pensar a instituição de 2020 para frente.

O PRESIDENTE da República assinou a medida provisória 914, que redefine as regras para a escolha de reitores nas universidades federais e institutos federais. Houve muita reclamação, pois essa MP acaba com o voto paritário e também dá autonomia ao reitor para escolher os diretores de campi. Qual a opinião do senhor em relação a essa medida?

ELA tem um aspecto que foi interessante e que precisa ser bastante analisado e que representa um avanço, que foi você não levar a decisão da consulta para o conselho universitário, ou seja, obrigatoriamente o resultado que ocorrer na eleição para reitor, os três nomes mais votados, obrigatoriamente, já vão direto para o Ministério da Educação sem passar pelo conselho, isso foi um avanço. Nós acreditamos, essa é a tendência, que nós tenhamos uma discussão no Congresso para que a gente avance para que a eleição seja só de um nome. Eu defendo esse modelo de consulta.

 

O PRESIDENTE Bolsonaro já deixou claro que vai cumprir o que determina a lei, ou seja, numa lista tríplice, obrigatoriamente, o escolhido não precisa ser o mais votado, evidentemente que ele deixa claro que os futuros reitores terão de estar sintonizados com o que o Governo Federal pensa para o ensino superior no Brasil. Essa posição do presidente faz que os candidatos passem a ter o alinhamento político ideológico com o presidente?

EU ACREDITO muito que qualquer presidente da República ou qualquer ministro da Educação quer uma instituição federal de ensino superior que mostre serviços para a sociedade, mesmo porque esse Governo já mostrou que vai avançar no aspecto das universidades, ele está instalando seis universidades federais, nomeou os reitores pró-tempore e vai levar para o Congresso a criação dos códigos de vaga para servidores e técnicos administrativos. Essas seis universidades já são um terço das universidades federais criadas no governo anterior, nos quatro mandatos anteriores foram criadas 18 universidades federais. Esse é um sistema hoje muito robusto, são 68 universidades federais, um sistema que está espalhado por todos os estados da federação, veja o exemplo do Rio Grande do Norte, com todas as microrregiões contempladas. Eu acho que qualquer ministro quer uma instituição trabalhando com eficiência. Essa é a linha. Qualquer gestor vai se alinhar nesse sentido com o pensamento do ministério no sentido de prestar esse serviço à sociedade.

VOLTANDO para a MP 914, que transfere para o reitor a decisão de escolher os diretores dos campi, ela tira um pouco da democracia e vai tolher o direito de escolha da comunidade acadêmica?

MAS isso não invalida a decisão do reitor de escutar os campi, os servidores, os alunos e os docentes. Isso não invalida de maneira alguma, agora mesmo nós estamos tendo um processo aberto, mesmo depois dessa medida provisória, para a escolha do diretor do campus de Caraúbas, tem um documento interno dentro da instituição que entrega essa decisão lá para os servidores, docentes e estudantes, que eu acho razoável, isso facilita a gestão, você escutar e estar em sintonia com o que pensam os segmentos acadêmicos.

 

A SUA pré-candidatura está viabilizada nos segmentos universitários?

ESTÁ viabilizada, porque nós temos um grupo de docentes, um grupo de servidores e uma representação muito boa nos discentes que apoiam a candidatura. Eu tive a felicidade de instalar o processo (de transformação da Esam em Ufersa), um projeto que havia 13 anos estava nas gavetas do Ministério da Educação e em 18 meses nós conseguimos transformá-lo em realidade e vê-lo assinado pelo presidente da República. Depois, nós conseguimos avançar, instalar os custos e instalar os campi sem ter recursos diretos do MEC, nós negociamos com a bancada a instalação dos campi, essa experiência, essa prestação de serviço à universidade nos credenciam a discutir a universidade em qualquer segmento, em qualquer fórum, eu não tenho nenhum receio de sentar com o grupo de professores, com qualquer grupo de dirigentes para discutir esse projeto da universidade, e é com essa característica que nós colocamos a candidatura.

PARA finalizar, como o senhor avalia os demais pré-candidatos à reitoria da Ufersa?

EU SEMPRE coloco que cada um tem o seu projeto de universidade, eu aqui estou defendendo o meu projeto, que é focar nessa questão dos recursos de investimento, e é focar também nessa recuperação do quadro de servidores técnicos e nessas lacunas que estão sendo apresentadas. Não estou colocando a culpa aqui em nenhum gestor; acho que cada gestor dá a sua contribuição, mas o desafio agora é outro, nós temos que ter foco, a universidade precisa estar atenta para o seu grande problema, porque senão nós corremos o risco de ficar do mesmo tamanho, você proporcionalmente diminui, e você sabe que uma instituição quando diminui de tamanho em relação às outras, capta menos recursos e isso é ruim para Mossoró, é ruim para o Rio Grande do Norte, é ruim também para os jovens, porque você diminui as oportunidades para esses jovens.

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