Por Maricélio Almeida - JORNAL DE FATO
Na última segunda-feira, 15, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) definiu, em uma consulta virtual, a lista tríplice para a reitoria da instituição. Os mais votados pelos docentes, técnico-administrativos e alunos foram os professores Rodrigo Codes, Jean Berg da Silva e Ludimilla Serafim, nessa ordem. Se antes havia uma certeza da nomeação do mais bem votado da lista, pela Presidência da República, hoje as dúvidas se avolumam.
Até o mês de setembro, quando termina o mandato do atual reitor José Arimatea de Matos, as incertezas permanecerão. Diante desse cenário, a seção “Cafezinho com César Santos” conversou com o professor Rodrigo Codes. Na entrevista a seguir, ele agradece os 2.115 votos recebidos e revela que buscará apoio da bancada federal para que sua nomeação seja efetivada.
Rodrigo Codes é doutor em Engenharia Mecânica e de Materiais, e ingressou na Ufersa em 2010, também destaca, na entrevista concedida ao DE FATO, que as declarações da professora Ludimilla Serafim (terceira colocada no pleito e que afirmou aceitar a nomeação do presidente Jair Bolsonaro, se essa for a escolha dele) vão “de encontro com a legitimidade democrática da comunidade universitária”. Acompanhe.
Como o senhor avalia o resultado do pleito?
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer o espaço para a entrevista e agradecer à comunidade universitária ufersiana. Na segunda-feira, 15 junho, nós tivemos um grande momento em nossa Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), com a oportunidade de debater, nos últimos dias, um projeto de universidade, o que nós queremos para os próximos quatro anos. Eu externo aqui a minha felicidade de uma grande vitória em todas as categorias, dos docentes, dos técnico-administrativos e também dos estudantes, inclusive, com a participação absolutamente expressiva da comunidade acadêmica universitária: quase 95% dos docentes da Ufersa votaram; mais de 90% dos servidores técnico-administrativos também votaram; e praticamente 40% dos estudantes, sendo essa a maior votação da história da nossa universidade.
Esperava a quantidade de votos que o senhor recebeu?
Eu agradeço aos 2.115 votos de confiança depositados na nossa chapa. Eu avalio o resultado do pleito de forma satisfatória, positiva e condizente com os diálogos que nós estabelecemos com a comunidade ao longo desse período de 21 dias de campanha, nós tivemos 70 eventos em reuniões via Google Meet, lives no Instagram, entrevistas em rádio, TV, e o debate, coincidindo, inclusive, esse número de eventos com o número da nossa chapa que era a chapa 70. Tivemos uma campanha, uma eleição virtual, percorremos toda nossa universidade virtualmente e aqui eu aproveito para parabenizar a comissão eleitoral e os três segmentos que votaram em peso na nossa chapa. Nós tivemos 37,9% de votos dos docentes, 36% dos técnicos e 37,6% dos alunos, que votaram na nossa chapa; um percentual bem semelhante nas três categorias e com a vitória expressiva em todas elas.
Até que ponto o senhor acredita que o apoio do atual reitor, professor Arimatea de Matos, influenciou no resultado da consulta?
Primeiramente, quero agradecer à gestão, em nome do reitor Arimatea, agradecer à confiança, o apoio e, sobretudo, o aprendizado ao longo desses anos na sua gestão. Integro sua equipe de gestão desde o início do seu segundo mandato, em setembro de 2016, à frente da pró-reitoria de Graduação e tenho muito orgulho de fazer parte dessa equipe na nossa universidade. Antes, tinha também muito contato com a gestão do reitor Arimatea, mas à frente da unidade acadêmica das engenharias no Campus Mossoró, tendo sido eleito em 2013, posteriormente reeleito para o segundo mandato. Todos esses anos trabalhando na gestão acadêmica, durante sete anos, para mim foram de muito aprendizado e certamente o reitor Arimatea teve um papel muito importante nesse processo.
De forma geral, como o senhor enxerga as declarações dadas pelos demais candidatos eleitos para a lista tríplice? Especificamente, sobre as falas da professora Ludimilla Serafim, qual a posição do senhor? De que ela aceitaria ser nomeada reitora pelo presidente, mesmo sem ser a mais votada da lista...
Eu, particularmente, ao longo de toda a campanha, quando questionado se assumiria a reitoria se não fosse o primeiro colocado, sempre coloquei com muita sinceridade que não assumiria se não fosse o primeiro, e olhe que a gente foi questionado por diversas vezes, praticamente em todas as reuniões sempre surgia essa questão, então, muito me admira a postura da colega que ficou em terceiro lugar na consulta, ela que já participou inclusive do mesmo pleito há quatro anos, ficando em segundo lugar e não questionando a nomeação. A postura do colega que agora ficou em segundo lugar é diferente, ele já declarou que não assume, considero essa postura importante, pois contribui com a legitimidade democrática da comunidade universitária ufersiana em respeito à autonomia da instituição.
A postura da professora Ludimilla surpreendeu o senhor?
Eu fico admirado com as declarações, porque consideramos que vai de encontro com a legitimidade democrática da comunidade universitária. Embora a legislação determine que sejam enviados três nomes ao Ministério da Educação, a lista tríplice, o desejo da comunidade universitária em todos os seus segmentos é que seja respeitada a sua escolha, que é a candidatura que ficou em primeiro lugar. Nesse sentido, já temos várias coordenações de cursos de graduação, várias coordenações de cursos de pós-graduação, docentes, técnicos e também estudantes que vêm se manifestando na nossa universidade em notas de respeito à nomeação da nossa candidatura, que ficamos em primeiro lugar.
O senhor acredita que o presidente respeitará a ordem da lista tríplice?
Nós temos boas expectativas. O nosso processo eleitoral transcorreu muito tranquilamente, e aqui eu aproveito para parabenizar, mais uma vez, a Comissão Eleitoral pela excelente condução do processo. Na maioria das instituições, o primeiro da lista tríplice foi o nomeado, é o que a gente tem observado. No geral, quando o processo ocorre dentro da normalidade, sem nenhuma intercorrência, a nomeação do primeiro foi efetivada. Nossa atuação agora está no sentido para que nossa nomeação seja sim efetivada e, para tanto, nós temos a perspectiva de contar com o apoio do Poder Legislativo, sobretudo, Federal. Esperamos realmente que a vontade da comunidade acadêmica da Ufersa seja ouvida.
Em sendo nomeado reitor, que medidas/ações iniciais o senhor pretende implantar na Ufersa?
Bom, o nosso objetivo central, da nossa proposta, é a busca incessante pela qualidade. Nós queremos entregar a nossa universidade daqui a quatro anos com melhores indicadores, externo e internos, a partir de nossas autoavaliações, com relação a essa métrica dos indicadores externos, sobretudo, no que diz respeito aos indicadores de avaliação de cursos de graduação, de cursos de pós-graduação, e tudo que diz respeito aos aspectos de governança na nossa universidade, para que a nossa Ufersa seja ainda mais protagonista no cenário regional e também nacional, cumprindo nossa missão institucional que é de produzir e difundir conhecimentos na Educação Superior com ênfase na região do Semiárido. Buscamos para isso boas práticas em diversas outras instituições, nós participamos, ao longo desses quatro anos, tanto de fóruns de graduação como também os fóruns mais ampliados, discutimos com diversas instituições e buscamos essas boas práticas para que a gente possa aplicar na nossa realidade de Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
Há alguma medida mais urgente que deve ser aplicada?
Um dos pontos que a gente pretende criar desde o princípio é uma política institucional de qualidade de ensino, e a partir daí criar programas em discussão com a comunidade universitária para que a gente possa atender às suas necessidades. A gente pretende criar uma maior aproximação com a sociedade. Nós temos que, até 2022, atualizar todos os nossos projetos pedagógicos dos nossos cursos de graduação, com um mínimo de 10% de extensão universitária, que se refere àquelas ações diretamente para a sociedade, além dos muros da universidade e, a partir daí, a ideia é de que a gente possa ampliar a nossa carta de serviço à comunidade, à sociedade. Com relação à infraestrutura, um dos pontos que também foi bastante debatido, que a gente pretende implementar é um programa de revitalização de todos os nossos laboratórios de ensino de pesquisa, a curto, médio e longo prazo, como forma de melhorar os índices acadêmicos dos nossos cursos de graduação. A ideia é que a partir daí a gente possa implantar um catálogo de serviços da Ufersa, integrando os diferentes serviços oferecidos pela nossa instituição em uma única plataforma. Esse é um ponto que a gente acredita.
Que outros pontos estão presentes no plano de gestão do senhor?
O nosso plano de gestão foi dividido em seis grandes eixos, três deles relativos às nossas atividades finalísticas de ensino, de pesquisa e de extensão, mas também temos um eixo relacionado à permanência estudantil, que abrange também assistência estudantil, um quinto eixo de gestão e planejamento administrativos e o sexto eixo, de política de valorização das pessoas. Dentro desses seis eixos, nós temos 20 estratégias com um total de 184 propostas de ações para realizarmos nos próximos quatro anos, mas é um plano bastante pé no chão, um plano que a gente possa atingir integralmente ao longo desses quatro anos. Claro que nem tudo depende só da gente, mas o que não depender nós vamos buscar sem medir esforços. A partir do que apresentamos amplamente para a comunidade acadêmica e em diálogo com toda a comunidade, com as entidades, associações, representações, a gente pretende sim realizar uma grande gestão.
Como o senhor avalia a saída do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e sua passagem pelo comando da pasta?
Eu avalio como um reflexo da crise política, e de certa forma institucional, que o país vem enfrentando, que se soma a outras crises, a exemplo da econômica e do momento de exceção que nós passamos com essa pandemia. Eu vejo com preocupação, pois se trata de uma pasta de extrema importância, pois está relacionada fortemente com o desenvolvimento do país, é uma das bases para o seu desenvolvimento na realidade. A passagem do ministro se caracterizou de forma bastante polêmica do início ao fim do seu mandato, com declarações e posturas polêmicas, inclusive acerca do financiamento das instituições.
A política educacional do país precisa de mudanças, na visão do senhor?
Com certeza precisamos de muitas mudanças. Isso começa pela efetivação de uma política de Estado. Na realidade, não temos uma política de Estado para a educação. Com relação ao Plano Nacional de Educação, por exemplo, aprovado em 2014, várias de suas metas não vão ser cumpridas na totalidade, por falta de um olhar mais cuidadoso, elas não se efetivam da forma que deveriam, e isso é um reflexo da falta de políticas realmente de Estado, a qual a Constituição de 1988 estabelece, mas que não são efetivadas. O Fundeb, por exemplo, que é o fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e de valorização dos profissionais da educação, tem validade até o final desse ano de 2020 e precisa ser rediscutido.
Para finalizar, é necessário um maior investimento em ciência também?
Sim, é preciso uma maior valorização da ciência, com maior investimento em pesquisa, o que passa por esse contexto. É fundamental para o desenvolvimento do país a busca de soluções para seus problemas em todas as áreas do conhecimento. As universidades públicas estão fazendo um trabalho espetacular durante esse período de pandemia, por exemplo, na fabricação de máscara, de produtos, de insumos para as redes de saúde municipais e estaduais de uma maneira geral e, para isso precisamos de apoio, de investimento, certamente o retorno para a sociedade será dessa forma ainda bem maior e tudo isso passa pela efetivação de uma política educacional de fato.
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