Coluna César Santos - JORNAL DE FATO
Comentamos aqui, neste espaço, que debate eleitoral não cumpre o papel ideal de discutir propostas para auxiliar o eleitor a construir o seu voto. Não é culpa dos veículos e instituições que organizam os debates, mas dos próprios candidatos que usam o espaço para agredir adversários e, por consequência, tentarem manipular a opinião pública com recortes que desvirtuam falas e verdades a seu favor.
Foi o que aconteceu, por (mau) exemplo, no debate organizado pela TV a Cabo Mossoró (TCM), envolvendo os seis candidatos à Prefeitura. Allyson Bezerra (Solidariedade), por meio de seus marqueteiros, pegou uma fala da adversária Rosalba Ciarlini (Progressistas), e explorou de forma falsa a versão de que ela havia agredido os pobres ao chamá-lo de “pobrezinho”.
E não foi isso que aconteceu.
Na verdade, Rosalba ironizou Allysson que se apresentava no debate como humilde, sofrido, de poucos recursos, mas que em menos de dois anos de mandato saiu de um patrimônio de R$ 34.100, declarado por ele nas eleições de 2018, para um patrimônio de mais de meio milhão de reais (R$ 679 mil) agora em 2020, também declarado por ele à Justiça Eleitoral. Um aumento de quase 2000%.
A versão manipulada foi jogada nas redes sociais pela militância de Allyson e até explorada por pessoas inocentes, que foram levadas ao erro de tentar enganar a opinião pública. Com isso, Rosalba teve que gravar um vídeo para estabelecer a verdade dos fatos como eles aconteceram.
Agora, convenhamos, atribuir a Rosalba suposta agressão aos pobres é uma forçação de barra. A biografia de Rosalba, por si só, combate esse tipo de boato. Ela, muito antes de entrar para a política, como médica pediatra, atendeu os filhos de pobres nas calçadas, sentada em tamborete nas esquinas de rua da periferia e da zona rural de Mossoró, porque essas famílias não tinham acesso ao sistema de saúde público da época.
E não foi só Rosalba alvo de falsa verdade e/ou de boatos. A candidata Cláudia Regina (DEM), da coligação Juntos por Mossoró, também foi alvo da indústria da mentira, que espalhou que ela iria desistir da candidatura para apoiar Allyson Bezerra. Cláudia reagiu de forma ríspida, não deixando brechas para a mentira, afirmando que jamais apoiaria, palavras dela, “um despreparado”, indicando que teria sido a campanha de Allyson que plantou o boato. A campanha de Cláudia continua nas ruas.
É um erro de quem recorre à falsa verdade para tentar manipular a opinião pública. E um erro puxa outro até descortinar a farsa. Como Freud deixou registrado: de erro em erro, vai-se descobrindo a verdade.
O fato é que isso não é bom para a democracia, para Mossoró. Uma campanha eleitoral não pode se sustentar da estratégia que não há fatos, só interpretações, porque essa ideia se perde pela própria flacidez.
Portanto, é triste quando um político se propõe a atividade pública com prática desse tipo, da manipulação da verdade, da mentira mesmo, da distribuição de boatos, das chamadas fake News, como se fosse decente tentar ganhar uma campanha eleitoral a qualquer custo.
Esse episódio deve servir de alerta. Se o vale tudo para ganhar é a regra, da mesma forma é regra o vale tudo quando chegar ao poder. Mossoró sofreu com isso recentemente e o cidadão ainda sente na pele os seus efeitos.
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