No “Cafezinho com César Santos”, Elviro faz duras críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro, ao comentar as manifestações de Sete de Setembro. Também analisa o cenário econômico do País e de Mossoró em tempos de crises políticas e sanitária
O economista e empresário Elviro Rebouças está atento ao cenário de crise institucional e econômica que assola o Brasil. Mostra-se preocupado com os rumos do embate entre os Poderes e avalia o duro impacto sobre a vida dos brasileiros. No “Cafezinho com César Santos”, Elviro faz duras críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao comentar as manifestações de Sete de Setembro, em que o presidente lançou ataques contundentes contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele é uma das principais autoridades da cidade e do estado em economia e política. E com a sua experiência analisa, nesta entrevista, o cenário do País diante de uma pandemia, inflação em alta, mais de 14 milhões de desempregados e desalentados e uma crise política sem precedente.
Elviro do Carmo Rebouças Neto foi vereador por oito anos, presidiu CDL, o Rotary Club Mossoró, o Previ Mossoró, foi diretor de Assuntos Econômicos da Febraban, em São Paulo, e atua há 29 anos no segmento de factoring e há 11 anos tem salinas e refinaria de sal, em Grossos, com o sal Sete Mares.
Como o senhor vê a tensão política de Brasília, agravada com as manifestações de 7 de Setembro?
Como brasileiro, que ama sua pátria, deploro que um presidente, legitimamente eleito pelo povo, incite movimentos antidemocráticos, clamando ao povo para a agressão ao Supremo Tribunal Federal e ao congresso nacional. Os Poderes, diz a nossa constituição, são independentes e harmônicos. Portanto, acredito que num momento tão preocupante como estamos vivendo, crise econômica, mais de 585 mil mortes pela pandemia da Covid-19, 15 milhões de desempregados, afora os desalentados, que já pararam de procurar, pois não encontraram empregos. A inflação, com toda sua crueldade, está de volta, e acredito que encerraremos o ano de 2021 na casa, anual, de dez por cento. É lamentável a falta de juízo dos nossos governantes. O povo paga a conta.
As manifestações expressivas a favor de Bolsonaro mostraram que o presidente tem apoio de parcela considerável dos brasileiros, mas, por outro lado, o discurso ampliou o seu isolamento em Brasília. O senhor acha que está criado um ambiente favorável ao impeachment do presidente?
Consagrado nas urnas de 2018, inclusive com o meu modesto voto, o presidente Bolsonaro está fazendo um governo totalmente averso ao que prometeu. A economia continua muito sofrível, poucas obras relevantes a serem mostradas, aderiu, surpreendentemente, à velha política. Política do Centrão, que o ex-deputado paulista Roberto Cardoso Alves batizou com “é dando que se recebe”, as reformas, afora a da previdência, estão há quase três anos sendo tratadas com o Congresso, sem avançarem, 15 milhões de desempregados sofrendo ao lado de suas famílias, a pobreza crescendo, as contas públicas cada vez mais preocupantes, enfim, um estado que definha, dentre o contexto das nações desenvolvidas, uma perspectiva negativa, além de envergonhar o Brasil, em todos os países.
A crise política faz descer ao menor plano pautas importantes para o País, como as reformas administrativa e tributária, e a recuperação da economia. O que o brasileiro pode esperar do futuro próximo?
O Brasil enfrentará desafios para a retomada do crescimento no pós-pandemia, atualmente com tamanha imprevisibilidade gerada pela pandemia, projetar cenários futuros e garantir a resiliência dos processos de negócio tornou-se um exercício de extrema incerteza, demandando perspectivas e vivências diferenciadas em busca de um caminho comum, embora os impactos sejam diferentes para os diversos tipos de setores. Investir em serviços personalizados e com maior qualidade, bem como enxugar o orçamento, reduzindo gastos com a adoção do home office e com a digitalização de processos, vem sendo, e há expectativas de que será, o grande desafio da indústria brasileira. Já é possível identificar que, enquanto alguns segmentos devem ter uma alta sustentável, outros encararão uma retomada lenta. Para este segundo segmento, é considerável revisão da aplicação de novas metodologias e projetos estratégicos que podem tornar possíveis a transformação do negócio a médio e até curto prazo.
O senhor acredita na recuperação da economia pós-pandemia, e com o País mergulhado na crise institucional, em curto espaço de tempo? Ou não há esperança?
A economia do Brasil foi intensamente impactada por uma crise sanitária sem precedentes causada pelo cenário atípico da pandemia do novo coronavírus, iniciada no país em março de 2020. Diante das medidas de isolamento social decretadas pelos governos locais e pelo órgão regulador de vigilância sanitária (a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA), foi escancarado no país um cenário de desigualdade social e de crise econômica que já era preocupante. Com o tempo e o relaxamento das medidas de isolamento social, setores que estavam sobrestados por decreto governamental puderam retornar às atividades. O desafio, na tentativa de retomada da economia do Brasil ao patamar pré-pandemia, vem sendo enfrentar a crise econômica e instabilidade política que o país vem vivendo.
Vamos centralizar o RN dentro do contexto político e econômico. Teremos eleições no próximo ano, ainda sob os efeitos da crise sanitária e econômica. O cenário, por si só, pode influenciar a decisão do eleitor?
Sim. O eleitor está atendo, gradativamente escolhendo livremente os seus representantes e governantes; acredito que o quadro atual da saúde e da economia nacional vão ter muito peso na escolha dos candidatos, não só no estado potiguar, mas em todo o país. A pandemia, a economia, a inflação, a taxa de desemprego serão discutidas, analisadas e, por certo, ditarão a posição dos cidadãos.
Recentemente, um grupo ofereceu projeto de implantação de um polo cloroquímico em Mossoró, prometendo investimentos de 5 milhões de dólares e geração de 7 mil empregos diretos e indiretos. É uma promessa palpável? É possível acreditar?
A região capitaneada por Mossoró, com mais de um milhão de habitantes, tem condições plenas para a implantação de um polo cloroquímico, por sinal pensado há mais de 30 anos pelo grande governador Tarcísio Maia, de coração nitidamente mossoroense. A indústria petroquímica é considerada um setor industrial que possui grande influência no desenvolvimento e relacionamento com outros setores econômicos. O polo cloroquímico de Alagoas (PCA) conta com a presença da sexta maior petroquímica do mundo, a Braskem, que opera a maior planta de processamento de cloro-soda e a maior produtora de PVC da América Latina, possibilitando ao estado de Alagoas o fortalecimento da sua Cadeia Produtiva da Química e do Plástico (CPQP). Através de periodizações históricas, esta pesquisa trata da formação do Polo Cloroquímico de Alagoas (PCA) e da atual Cadeia Produtiva da Química e do Plástico (CPQP) do Estado. A implantação do polo de indústrias químicas em Alagoas e qual o papel dos agentes envolvidos nesta implantação foram objetos de análise, bem como os dados sobre a Cadeia Produtiva da Química e do Plástico de Alagoas. Com o objetivo de estabelecer um perfil da CPQP de Alagoas, foi realizado mapeamento da distribuição das empresas da CPQP no Estado, mensurado o porte das empresas, a região de origem da matéria-prima e o destino da produção, assim como também foi analisada a distribuição do número de empregados por atividade econômica e por regiões metropolitanas de Maceió e do Agreste. O desenvolvimento da pesquisa baseou-se na perspectiva da geografia crítica, utilizando para a fundamentação teórica: Santos (1982), Perroux (1967) e Cholley (1964). As categorias de análise utilizadas nesta pesquisa foram as seguintes: Formação Socioespacial, de Santos (1982); Combinações Geográficas, de Cholley (1964); e Teoria dos Polos de Crescimento, de François Perroux (1967). O estudo discute a formação socioespacial das combinações geográficas que propiciaram a formação de uma imensa jazida do minério Sal-gema no Estado, a influência dos Planos Nacionais de Desenvolvimento para a formação do PCA e realiza uma análise de que Mossoró, como em Alagoas, tem em abundância sal marinho, argila, calcário. Falta, apenas, que tal compromisso saia do papel, com muita burocracia, e se efetive em realidade, aí veremos um progresso radioso para todo o estado.
Houve mudança de grupo político na Prefeitura de Mossoró, por decisão do eleitor em 2021. Saiu o modelo de gestão da ex-prefeita Rosalba Ciarlini e entrou outra forma de governar com Allyson Bezerra. É possível encontrar, dentro desse contexto, um projeto para Mossoró?
A alternância do poder é salutar, e o povo escolheu o jovem Allyson Bezerra, em 2020, e temos que respeitar tal veredito. O acho bem intencionado, querendo acertar, tem demonstrado carinho com a coisa pública; agora na covid-19 a secretaria de saúde tem realizado um edificante trabalho na assistência ao paciente do SUS, vacinando em larga escala, e eu, mesmo não tendo sido seu eleitor, estou torcendo para que ele altruisticamente realize uma boa administração. Dou a ele e a sua equipe um crédito de confiança.
O senhor é amigo do líder político Carlos Augusto, da ex-prefeita Rosalba, faz parte do rosalbismo desde o primeiro momento. Com o conhecimento profundo que o senhor tem do grupo, é possível apontar um projeto político-eleitoral do rosalbismo para 2022?
Tenho o prazer de ser amigo, há 55 anos, de Carlos Augusto Rosado, que além de ser arguto, inteligente e preparado para a vida pública, tem elevado espírito público, com amor à sua terra. Sempre nos encontramos, trocamos ideias, acho que a ex-prefeita Rosalba Ciarlini já prestou relevantes serviços à cidade – Mossoró era uma antes, e é hoje outra, depois de suas administrações – e é jovem para enfrentar outras missões. Agora quem pergunta sou eu – o que você acha de Rosalba para ser deputada estadual em 2022?
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