Segunda-Feira, 28 de abril de 2025

Postado às 15h45 | 28 Abr 2025 | Redação Ambulatório da Uern oferece atendimento para mais de 500 pacientes com doença de Chagas

Crédito da foto: Divulgação/UERN Uma das atividades desenvolvidas no ADOC é o trabalho de educação em saúde

Pouco tem-se falado sobre a doença de Chagas, mas é importante trazer para conhecimento que mais de um milhão de pessoas vivem com essa doença aqui no Brasil, e o que mais chama atenção é que 70% delas nem sabem que estão infectadas. Logo, vê-se que são necessárias ações de conscientização que permitam se fazer os diagnósticos e, a partir daí, o tratamento adequado para essa população.

Com o intuito de prestar assistência aos pacientes com essa doença, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) dispõe, desde 2011, do Ambulatório de Doença de Chagas (ADOC), que funciona na Faculdade de Ciências da Saúde (FACS). A iniciativa foi do professor Cléber Mesquita, que é também o coordenador do ambulatório.

“O meu doutorado foi trabalhando pacientes com doença de chagas, da mesorregião do Oeste Potiguar, abrimos o ambulatório para poder prestar assistência a esses pacientes. Inicialmente a gente começou com 127 pacientes  e hoje nós estamos com cerca de 550”, disse.

Uma das atividades desenvolvidas no ADOC é o trabalho de educação em saúde, que visa passar para os pacientes todas as informações sobre o que é a doença de Chagas, como ela é transmitida e como é feito o tratamento. “Geralmente esses pacientes vêm com acompanhantes, então os acompanhantes também recebem essas informações e essas informações a gente também leva à sociedade, às escolas, aos parques, às praças, para que a população em geral também tenha conhecimento”, comentou Cléber Mesquita.

Para além do trabalho educativo, o ambulatório oferece consultas, coleta de exames de sangue e acompanhamento de cada paciente. Afinal, como ressaltou o professor Cléber Mesquita, alguns deles, além de serem chagásicos, podem ter outras comorbidades como hipertensão ou diabetes.

“Então a gente estuda o paciente como um todo, classifica a forma clínica e para isso acontecer a gente precisa de parcerias, já efetuadas com a prefeitura daqui, com algumas secretarias de saúde de alguns municípios, e com o próprio Estado”.

Atualmente, a equipe do ADOC é composta por alunos de diversas áreas da graduação e da pós-graduação, além de enfermeiros, bioquímicos, biólogos, médicos e psicólogos, e os atendimentos acontecem toda quarta-feira, das 7h às 12h. Tanto o paciente que já tem o diagnóstico como aquele que tem apenas a suspeita da doença, pode procurar atendimento no ADOC. Lá, ele realiza o exame e, caso o resultado seja positivo, já inicia seu acompanhamento.

O professor Cléber Mesquita ressalta que a doença de Chagas, caso não seja tratada, pode levar a complicações graves, principalmente cardíacas e digestivas. “Esses pacientes, na maioria das vezes, podem ter complicações por doença cardíaca, podendo ter morte súbita, insuficiência cardíaca, assentamento vascular encefálico, cardioembólico, enfim, 32% podem apresentar doença cardíaca. E nós temos a forma digestiva também, quando o esôfago ou o intestino é cometido e muitas vezes a gente precisa até realizar cirurgia para o paciente poder se alimentar”.

Doença é negligenciada

A doença de Chagas, não apenas no Brasil, mas até mesmo aqui no Estado, não tem tido toda a visibilidade e cuidados que deveria. Segundo estudos realizados por pesquisadores da Uern e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a prevalência de doença de Chagas na área endêmica da mesorregião do Oeste Potiguar é em torno de 6,5%. Considerando a população dessa mesma região que ainda mora no campo ou que veio do campo, são aproximadamente 14 mil chagásicos.

“É muita gente, é preocupante porque 30% desses pacientes podem ter acometimento cardíaco, 8% a forma digestiva e mais 8% com a forma tanto cardíaca quanto digestiva”, reforçou o professor Cleber Mesquita.

A maioria desses pacientes não dispõe de um atendimento especializado para tratar a doença e, muitas vezes, são acompanhados nos ambulatórios de UBS. Para o professor Cléber, a maior preocupação é com aqueles que podem vir a ter complicações. “Existe um público que a gente precisa ter uma atenção especial porque eles podem, precocemente, perder a sua vida sem, inclusive, ter dado o diagnóstico. Por isso é tão importante ter esse ambulatório especializado e com um olhar multiprofissional”.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir as complicações da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Por isso, o ADOC tem feito a diferença na vida dessas pessoas.

“A doença de Chagas é uma doença negligenciada e que tem pouco investimento, então é importante que alguma instituição, que profissionais levantem essa bandeira para poder dar atenção a esses pacientes que são, na grande maioria das vezes, privados socialmente, culturalmente, educacionalmente. Então a gente precisa mostrar uma resposta para eles, mostrar que existe alguém pensando e estudando para conhecer melhor a doença e diminuir seus riscos”, afirmou Cléber Mesquita.

Sobre a doença de Chagas

Essa é uma condição médica causada por um protozoário, o Trypanossoma cruzi., que tem como hospedeiro inseto conhecidos como  “barbeiro”. O parasita é expelido por meio das fezes ou urina do inseto e, no corpo humano, invade as células, se desenvolve e reproduz. o contágio pode acontecer no momento em que um ser humano é picado por ele: o protozoário é expelido pelas fezes ou urina do inseto, junto ao ferimento; quando a pessoa coça o local, inadvertidamente insere o protozoário na sua própria corrente sanguínea. O contágio também pode ocorrer por via oral, ou seja, por meio do consumo de alimentos contaminados pelo protozoário.

A doença de Chagas tem cura durante a fase aguda, quando o protozoário ainda circula pelo sangue do indivíduo. São utilizados medicamentos que têm como objetivo matá-lo e impedir sua reprodução, para que a doença possa regredir.

De modo geral, quem tem doença de Chagas crônica precisa realizar um acompanhamento médico constante, para impedir que a condição evolua ou traga novos sintomas para o paciente.

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